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A produção de medronho em Monchique é uma tradição ancestral, mas não fecha as portas ao futuro. A atividade tem aumentado e quer continuar a crescer. Para isso, aliou-se ao conhecimento produzido nas universidades e até já existem medronheiros clonados plantados pela serra.

José Paulo Nunes, presidente da Associação de Produtores de Medronho do Barlavento Algarvio (APAGARBE), revelou ao Sul Informação que «temos feito uma série de experiências com clones, a partir das melhores plantas do concelho» e existe já «um campo experimental desenvolvido com a Universidade do Algarve e com a Universidade de Coimbra, com 280 medronheiros, para ver qual é a reação destas plantas clonadas no terreno».

José Paulo Nunes

O produtor, considerando que «estas plantas melhoradas são muito interessantes», diz que está a haver «uma grande dinâmica» na produção de medronho. «Há gente nova a pegar nisto. Havia pessoas que tinham os medronhais abandonados e que estão a tratar deles. Há a perspetiva de aumentar a produção».

E o aumento da produção é necessário, segundo José Paulo Nunes, porque, «em termos de comercialização, praticamente temos o nosso produto quase todo vendido. Não há dificuldades em escoar».

Atualmente, há cerca de 50 marcas a produzir aguardente de medronho em Monchique e, segundo José Paulo Nunes, «todos os anos surgem mais marcas».

No Festival do Medronho de Monchique, que se realiza este fim de semana, dias 1 e 2 de Abril, a internacionalização será um dos temas em debate. Apesar de haver entraves à exportação da aguardente de medronho, o facto de este, em breve, vir ser certificado a nível europeu, vai abrir as portas ao estrangeiro.

«Nós temos uma dificuldade para internacionalizar, que serão as quantidades. Mas, de qualquer maneira, estamos a implementar a Identificação Geográfica Protegida (IGP) do Medronho do Algarve, que pode dar uma grande ajuda nisso. Falta-nos só a aprovação, em termos internacionais, da União Europeia. Será apenas a confirmação, está tudo tratado. Penso que não haverá mais nenhum obstáculo à confirmação do Medronho do Algarve», explica José Paulo Nunes.

Quando se fala em medronho, pensa-se em aguardente, mas o fruto tem várias outras aplicações, muitas delas ainda por revelar. «Pode ser utilizado em doçaria, culinária, pode ser seco, confitado. Há uma série de situações. Vou também enviar bagaço para a universidade, para depois ir para a Alemanha, para que seja estudado, para ver se existe alguma propriedade que se possa aproveitar. É uma produção de futuro, em muitas vertentes, e ainda há coisas para descobrir».

O medronheiro é ainda importante na serra por outras razões, nomeadamente culturais e sociais: «é das coisas que liga à serra quem aqui tem raízes. Leva-os a olhar pelas suas coisas e a tratá-las. As pessoas aproveitam fins de semana, feriados, para apanhar os seus medronhos, é um dia de festa, e toda essa mística não se vai perder. Está até mais acentuada do que já esteve», diz José Paulo Nunes. E para mostrar essa mística a quem ainda não a conhece, durante o festival até haverá teatro nas destilarias, com o projeto «Lavrar o Mar».

Ainda assim, nem tudo são rosas, na produção de aguardente de medronho. José Paulo Nunes queixa-se que os elevados impostos impedem uma maior rentabilidade do setor. «Com a graduação que aqui temos, por cada garrafa de 0,7 dl, o imposto sobre o álcool anda à volta de cinco euros por garrafa. A aguardente aparece no mercado com preço elevado, mas não é lucro para o produtor».

O presidente da APAGARBE considera por isso que «há pormenores na legislação que podiam ser melhorados, se houvesse compreensão da parte das autoridades, sem prejuízo de cobrança à coleta».

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