A partir deste mês de Dezembro, o Sul Informação passa a publicar um artigo mensal, da autoria de Ana Sofia Brito, dando conta dos livros que saem, no mês em questão, nas editoras algarvias: On Y Va, Traça, Sílabas & Desafios e Arandis.
Segundo a responsável por esta nova rubrica mensal, denominada «E por falar em livros …», a ideia é que os «algarvios percebam o que – de literário – se publica cá». E há muita coisa.
Ana Sofia Brito apresenta-se a si própria como «atriz e malabarista de profissão», que tem «três livros editados e publicados pela On Y Va», sendo ainda cronista no jornal 7Margens.
Neste primeiro artigo, juntamos os textos de Novembro e de Dezembro, que contêm até muitas e interessantes dicas para se oferecer um livro, publicado por uma editora algarvia, neste Natal.
Boas leituras!
NOVEMBRO
Em Novembro, a editora On Y Va apresentou, na Casa das Palavras, em Monchique, e com a lotação esgotada, a obra Quando Escrevo, de Graça Candeias. A autora estreia-se com este surpreendente livro de poesia, onde as palavras se vestem de esperança no caminho da alegria. Um verdadeiro hino ao amor.
Eis o que a autora me diz quando lhe pergunto o que significou, para si, a escrita deste livro: «A minha paixão pelas palavras conduziu-me a um estado de entusiasmo por lhes dar sentido, transmitindo emoções, sensações e momentos inesquecíveis. Guardo os momentos com a escrita, como valiosos, pois dela estou encantada e enamorada. Quando escrevo, encontro-me comigo mesma, libertando-me de realismos expectantes que tenho dentro de mim. Através da minha poesia quero transmitir uma ideia de felicidade associada a um amor incondicional tentando atingir uma felicidade plena».
E, se lhe falo do sucesso que foi a apresentação, na Casa das Palavras, ela observa, com emoção: «Aquando da apresentaçã,o ao ver a Casa das Palavras repleta de pessoas, surpreendi-me, afinal não estou tão só, tenho muitos amigos (as) que gostam e acreditam em mim e, sobretudo percorrem o mesmo caminho que eu, valorizando o sentimento maior de todos os seres sencientes o “Amor”, transmitindo-me muitas vibrações positivas. Estou muito feliz».
Por sua vez, a editora Arandis presenteou-nos, em Novembro, com Perfumes do Al-Andaluz – fragmentos históricos e culturais do Garb Andalusiano. É um livro no qual Renato Proença dos Santos leva os leitores a atravessar vários períodos históricos da Península Ibérica.
Nestas páginas, descobriremos os valores e elementos das civilizações que por este espaço geográfico passaram.
É na Arandis, também, que encontramos o recém-lançado Circulando aos Quadrados Numa Recta Que é Curva, livro de contos de João Carlos Carranca, que tem como tema as identidades culturais locais.
Nestes textos, encontramos os dialetos e as vivências do médico-cirurgião enquanto cidadão do mundo, nunca esquecendo a sua origem angolana. Estes contos são verdadeiras viagens no tempo.
Ainda na Arandis, damo-nos conta de Levantamento Enciclopédico das Famílias do Concelho de Vila Nova de Portimão – Vol. I, Tomo II – Sécs. XVII-XVIII. Esta é uma cronologia documental de Nuno Campos Inácio, muito fiel aos trabalhos com os quais o autor nos vem habituando a olhar para a História da nossa região.
Passemos agora pela editora Sílabas & Desafios, que acaba de lançar na coleção Espúria, o Veneza de Tédios, livro de Pedro Jubilot. Esta é uma crónica poética que nos leva em viagem partindo da frase «Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios», de Álvaro de Campos.
«Quando se vive numa cidade, e lá se cria artisticamente, não se pode ser indiferente, a essa cidade e seus autores. No caso de Tavira, a ’Veneza Algarvia’ e na área da literatura o nome maior é Álvaro de Campos. Uma referência literária antiga, mas que se tornou cada vez mais viva e importante para mim, levando a que a minha criação poética interagisse com a do mais famoso heterónimo de Fernando Pessoa (mas não apenas este) e os seus lugares na cidade, uma suposta ‘Veneza de Tédios’, onde só a criatividade nos salva». Estas são as palavras de Pedro Jubilot quando lhe pergunto de onde surgiu a ideia de escrever este livro.
Pergunto-lhe agora de que forma é que estes receberam em si, uma vez que já os soltou ao mundo exterior: «Este percurso de partir para outras duas Venezas, também elas com os tédios e autores, em diferentes épocas e artes, permite-me a liberdade de criar, a felicidade de viajar nos sentidos, como disse AC, e ter a possibilidade criativa de mostrar a minha voz literária».
Esta editora oferece-nos ainda, no presente mês de Novembro, mais uma edição da sua Zine literária Espúria.
Por sua vez, a Traça Editora vê surgir o novo livro de Cobramor, A Boca Cheia de Cadáveres. Nesta obra, o autor procura o lugar de comunhão entre a poesia, o ensaio, o punk e o jazz. Aqui encontramos uma voz interventiva a chamar-nos a atenção para as problemáticas da atualidade: a desumanização e o cataclismo ambiental.
Depois de apresentações em Setúbal, Lisboa, Olhão e Loulé, o livro está também na origem de uma actuação de spoken word em modo de exploração anárcósmica sónica semi-improvisada, com o nome de Psicadelicapocalipse. Esta tour começou na Fnac do Algarve Shopping e segue para a Feira Fulminante de Lisboa e Loulé e para mais locais a anunciar.
DEZEMBRO
Pela Traça Editora, no presente mês de Dezembro contamos com as publicações do livro O Outro Olho da Coruja, de Rafaela Lacerda, e do Bebo Para Tornar Os Outros Mais Interessantes, uma obra de Ernest Hemingway, traduzida por Cobramor.
O Outro Olho Da Coruja fala-nos de uma mulher de 43 anos cujo desespero a faz partir para o suicídio. Um amigo, a quem ela recorre, rejeita ajudá-la. Dois pontos de vista estarão em cima da mesa.
Por sua vez, Bebo Para Tornar Os Outros Mais Interessantes é uma coletânea de poemas de Hemingway que, apesar de menos conhecidos do que os seus romances, não deixam de ser irreverentes. O desprezo por certos nomes da elite, o sexo e o desejo, a batalha e as consequências, gatos, gin e touradas são as preocupações expressas nestes versos.
No que respeita à On Y Va Editora, este mês de Dezembro temos três lançamentos de novas edições, o primeiro, segundo e terceiro lugares do prémio Manuel Teixeira Gomes: A Missão de Póstumo, de Antímio Damião, Vento Do Fim, de José Dias Pires, e A Namorada Cubana, de Caléu Moraes, respetivamente.
O primeiro fala-nos de um escritor obscuro, João Póstumo, que descobre numa livraria que o seu livro por escrever já está publicado em seu nome e com o mesmo título. Trata-se, portanto, de uma meta-narrativa alegórica do ofício da escrita.
O segundo é uma belíssima prosa poética que nos deixa no ar a pergunta “valerá a pena regressar aos lugares onde os vestígios da felicidade nos magoam mais do que uma queda desamparada no vazio?”
Por sua vez, e não menos belo, A Namorada Cubana é uma trama recheada de digressões filosóficas, literárias e eróticas, que revelam as angústias do protagonista em relação à vida, à morte e ao amor.
E dois lançamentos de reedições: O Medo Longe De Ti e Contos Municipais, de António Manuel Venda.
Contos Municipais é um conjunto de narrativas que, como diz Eduardo Jorge Duarte, dá uma oportunidade de possibilidade ao impossível, dá sentido ao improvável e ao absurdo, mostrando que por vezes o sentido único de certas coisas é justamente não possuírem sentido nenhum.
O resultado disso é que saimos deste livro com a sensação extasiada de espanto total, como num sonho.
No Medo Longe De Ti, através da sua fascinante narrativa, o autor fala-nos de um jovem apaixonado que vê o próprio medo afastá-lo da mulher que ama. “É este o labirinto do amor, o lugar de todos os desencontros. E é isso que António Manuel Venda descreve de forma única”, como referiu a crítica literária aquando da primeira edição,em 2003.
Por cá, assim nos despedimos, Boas Festas e até Janeiro.
Autora: Ana Sofia Brito é atriz e malabarista de profissão. Tem três livros editados e publicados pela On Y Va, e é cronista no jornal 7Margens.
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