A Escola Básica Integrada de Ferreiras (Albufeira) tem 429 alunos nos 2º e 3º ciclos, mas está a rebentar pelas costuras, de tal forma que, desde há seis anos, há aulas a ser dadas em monoblocos, ou seja, contentores colocados no recinto.
Mas esta situação está prestes a ser alterada, graças a um investimento de 5,2 milhões de euros, financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que dotará a escola de mais espaço e melhores condições, permitindo aumentar o número de alunos para 750.
A primeira pedra das obras de requalificação e ampliação da escola foi lançada, de forma simbólica, na manhã de ontem, dia 2 de Dezembro, com a presença do presidente, vice-presidente e dois vereadores da Câmara de Albufeira (um deles também diretor do Agrupamento de Escolas de Ferreiras), do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, da delegada regional de Educação e ainda de um administrador da empresa construtora, entre outras entidades e autarcas.
A obra tem um prazo de execução de 545 dias e, der por onde der, tem de estar pronta até 30 de Junho de 2026, data limite dos financiamentos do PRR.
José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira e ele próprio ex diretor escolar, sublinhou o «aumento demográfico no concelho», que é «consequência dos tempos atuais», recordando que, há uns 15 anos, «as escolas funcionavam em regime normal e até havia salas vazias e escolas a fechar».
Agora, sublinhou, o concelho está em «franco crescimento populacional», havendo a necessidade de «fazer estas ampliações», não só nesta, como noutras escolas. Em breve, anunciou, haverá obras nas escolas Francisco Cabrita e Secundária de Albufeira, no valor de 20 milhões de euros, já não financiados pelo PRR, mas através de «recurso a financiamento pelo Banco Europeu de Investimento (BEI)».
O presidente da autarquia deixou ainda um «desafio» ao empreiteiro: o de acabar a obra «alguns dias antes do prazo». A resposta que obteve foi apenas um sorriso.

Vítor Ferraz, que é vereador da oposição (PS), mas também diretor do Agrupamento de Escolas, por seu lado, recordou que esta é «uma obra pela qual ansiávamos há muitos anos».
«Temos turmas com alunos a mais: deviam ter 20 e têm 23 ou 24», explicou. Nesta escola há alunos de 44 nacionalidades diferentes, que constituem 20% das turmas. Mas, nos últimos tempos, na área de influência, têm-se instalado também muitas famílias portuguesas, nas zonas de Ferreiras, Olhos d’Água, Paderne, fugindo às rendas mais caras na cidade de Albufeira.
Por tudo isso, o diretor sublinhou que «a colocação dos contentores, feita no ano letivo de 2018/2019, com a ajuda da Câmara», já não consegue dar resposta a todas as necessidades. Daí que tenha feito votos para que a intervenção avance e depressa.
Manifestando-se «pronto para trabalhar em articulação com o empreiteiro», para que a obra prossiga com rapidez, sem atrapalhar as aulas e a restante vida escolar, Vítor Ferraz acrescentou que se trata de um investimento «fundamental para o sucesso do Agrupamento, mas também da freguesia e do concelho».
José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, recordou que o PRR tem 42 milhões de euros para investir em escolas na região algarvia, não só para responder ao aumento demográfico, como para «criar condições para os jovens». O Algarve é, aliás, a região do país com a mais alta taxa de abandono escolar, uma tendência que a CCDR há muito aposta em inverter.
Citando um estudo divulgado em Março pelo Instituto Nacional de Estatística, Apolinário sublinhou que «quanto maior é o insucesso escolar, maior é o risco de pobreza».
A EBI de Ferreiras integra o primeiro grupo de quatro escolas do Algarve aprovadas ao abrigo do “Programa de Recuperação e Reabilitação de Escolas”, celebrado entre o Governo da República Portuguesa e a Associação Nacional de Municípios Portugueses, que integra ainda a EB Manuel do Nascimento (Monchique), a EB D. José I (Vila Real Santo António) e EB Dr. José de Jesus Neves Júnior (Faro), cujos contratos de financiamento foram assinados em Monchique no dia 29 de maio, na presença de Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial.
A estas, juntaram-se depois mais duas candidaturas dos Municípios de Faro (EB 2+3 D. Afonso III) e de Lagos (EB das Naus), que serão financiadas com recurso a verbas do Banco Europeu de Investimento, contratualizadas pelo Estado português.
Segundo a CCDR, todos estes concursos do PRR «visam a modernização de estabelecimentos públicos de ensino dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico e do Secundário, identificados como necessitando de intervenção prioritária, e os trabalhos previstos devem ser concluídos até 30 de junho de 2026».

Mas que obras vão então ser feitas na Escola Básica Integrada de Ferreiras? O projeto é da autoria do arquiteto municipal Fábio Escórcio, ele próprio antigo aluno deste estabelecimento de ensino.
Salientando que, em 30 anos de existência, a Escola de Ferreiras «nunca tinha sido alvo de uma intervenção», além da colocação de contentores para aulas no seu exterior, o arquiteto explicou que será construído um novo edifício, que envolve o já existente, no extremo norte do recinto, e que acabará por ser a nova fachada da escola.
Será criado um auditório com 150 lugares, um novo refeitório com 284 lugares (aumentando em 60% a capacidade do atual), uma biblioteca mais ampla, havendo ainda espaço para a ampliação da unidade de autismo.
Na cobertura, haverá painéis fotovoltaicos, para melhorar a eficiência energética e o conforto da escola, enquanto a fachada exterior do novo edifício será coberta por lâminas verticais, que regulam a luz, pintadas em cor azul e amarela.
Haverá igualmente um espaço exterior coberto amplo, sendo os dois corpos do novo edifício interligados por uma ponte pedonal ao nível da cobertura, permitindo assim o acesso para entregas na zona do refeitório.
No Bloco A (atual edifício da EB2,3), já existente, a intervenção contempla alterações pontuais, mantendo-se, no piso térreo, a sua distribuição funcional.
O refeitório irá ser ampliado, ficando com uma capacidade para 284 lugares.
No piso superior, destaque para a utilização do antigo auditório como sala de aula, bem como a adaptação do atual espaço da biblioteca para duas salas de aula normais e um gabinete.
A Área de Convívio do Aluno vai sofrer uma pequena adaptação para ficar protegida da chuva, «o que torna o espaço mais convidativo, polivalente e integrador». Este edifício já se encontra dotado de uma plataforma elevatória nas escadas, que irá ser mantida.

Mas o grande foco desta intervenção será o novo Bloco B, «que “abraça” o edifício existente na zona da Cantina e Espaço de Convívio, com uma entrada autónoma para permitir e fomentar a abertura da escola à comunidade».
«O edifício é constituído por três pisos, «dois acima e um abaixo da cota de soleira»: o piso -1 irá acolher os espaços de apoio ao Auditório, Camarins e Arrumos.
O piso 0 integra o átrio de acolhimento e a receção, auditório para 150 lugares, mais 4 lugares para pessoas com mobilidade condicionada, espaços de apoio, zona técnica, laboratório, sala de Ciências e instalações sanitárias adaptadas.
Quanto ao piso 1, terá várias «salas especializadas», para laboratório, música, informática, bem como quatro salas de aulas normais, uma sala para pequenos grupos, a biblioteca, com instalações mais amplas, instalações sanitárias adaptadas e arrumos.
O bloco irá dispor, também, de uma zona exterior coberta, junto à sala de convívio, que proteja os alunos do sol e da chuva.
No Bloco C (edifício já existente da EB1), não será feita qualquer intervenção a nível do espaço físico, estando apenas previsto que duas das salas de aula, localizadas no piso térreo, na proximidade da unidade de autismo, passem a ficar afetas a esta valência.
Assim, o bloco C ficará a dispor de oito salas de aula destinadas ao 1º ciclo e três salas dedicadas ao ensino especial.
Outras intervenções previstas, mas que não são financiadas no âmbito do PRR, têm a ver com o Bloco D, ou seja, um edifício novo da EB1, localizado ao nível do piso superior do bloco C, que, segundo a Câmara de Albufeira, «visa colmatar a falta de espaços letivos, através da criação de mais quatro salas de aula, instalações sanitárias e sala de apoio.
Este bloco é constituído por dois pisos: piso 0 que integra duas salas de aula normais e instalações sanitárias adaptadas e piso 1 que acolhe mais duas salas de aula normais e uma sala de apoio.
O Bloco E é o Pavilhão Desportivo, «sendo que a intervenção consistirá, apenas, na substituição do piso desportivo da nave principal».
Os espaços exteriores serão sujeitos a uma intervenção paisagística «que tem por objetivo valorizar e dignificar o recinto escolar».
Toda a envolvente às zonas edificadas irá ser dotada de zonas de estadia e percursos pedonais acessíveis, agradáveis e convidativos à permanência dos alunos e de outros utilizadores. Por outro lado, irão ser criados espaços polivalentes, que garantam autonomia, segurança e conforto e que estimulem a aprendizagem e a sociabilidade.

A EBI de Ferreiras tem atualmente 687 alunos, dos quais 258 no 1º ciclo e 429 nos 2º e 3º ciclos. Depois de concluídas todas as obras (financiadas ou não pelo PRR) prevê-se que possa acolher um total de 1000 alunos.
O auto de lançamento da obra, que foi assinado na manhã de ontem, bem como moedas de diversos valores de cêntimos e euros, foram postos, para memória futura, numa pequena caixa cilíndrica, por sua vez colocada no local da 1ª pedra. Todos os representantes das entidades oficiais, e até o empreiteiro, pegaram então na colher de pedreiro para lançar alguma argamassa sobre o cilindro, que ficará para sempre integrado na sapata do novo edifício.
O padre católico Manuel Pedro, pároco de Ferreiras, foi responsável pela vertente religiosa da cerimónia. Mas explicou: «a bênção não é para uma pedra, mas para todos aqueles que fizeram acontecer estas pedras, para quem nelas vai trabalhar e para quem vier a usufruir» desta escola.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação (e imagens virtuais CMA)