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«Eu, de forma um pouco egoísta, acho que Sanlúcar vai sair muito mais beneficiado que Alcoutim com a construção de uma ponte». Pepe Perez, alcaide de Sanlúcar de Guadiana, não esconde a satisfação e a «mucha ilusión» pela perspetiva de ver construída a ponte que ligará a sua pequena localidade ultraperiférica espanhola à também periférica – mas ainda assim muito mais dotada de serviços – vila de Alcoutim, do outro lado da fronteira.

Desde que Portugal e Espanha assinaram um acordo para a construção desta infraestrutura, a esperança de ver realizado um sonho de mais de três décadas reacendeu-se neste território raiano, assolado pela desertificação. Mas, avisa Paulo Paulino, presidente da Câmara de Alcoutim, «até ao cair do pano, as dúvidas persistem e existem sempre».

Estas afirmações, feitas numa entrevista conjunta dos dois autarcas ao Sul Informação, acabam por resumir o ponto que se pode fazer, ao dia de hoje, da situação da futura ponte de Alcoutim: muito entusiasmo, mas também cautela, tendo em conta os prazos apertados.

E se, por um lado, há decisões no sentido de facilitar o avanço do projeto, como o reconhecimento do interesse público da obra por parte do Governo português, para agilizar o licenciamento ambiental, por outro há novo impasse no processo, enquanto se espera que Espanha nomeie os seus representantes na comissão mista que tem de aprovar o projeto, para que se possa lançar o Concurso Público em tempo útil.

Só com uma decisão célere do país vizinho se poderá manter a esperança de conseguir acabar a obra em meados de 2026, aproveitando o financiamento a 100% ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência.

Esta sexta-feira, dia 13 de Dezembro, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve veio a público dar conta da despacho que reconhece como «ação de relevante interesse público o projeto da construção da ponte internacional sobre o rio Guadiana entre as localidades de Alcoutim (Portugal) e Sanlúcar de Guadiana (Espanha), para efeitos da ocupação de uma área integrada na Reserva Ecológica Nacional, no concelho de Alcoutim».

Este reconhecimento foi feito na sequência da aprovação, por unanimidade, de uma proposta do executivo camarário alcoutenejo, na Assembleia Municipal de Alcoutim. A proposta de declaração de interesse público, mais tarde endereçada ao Governo, foi feita em articulação com a CCDR algarvia, que está a dar apoio ao município de Alcoutim, dono da obra, na condução do processo.

Na mesma nota, é salientado que, para a abertura do concurso de empreitada da obra, é necessária «a aprovação do projeto de execução por parte da Comissão Mista Luso-Espanhola, conforme previsto no acordo, tendo o Governo da República Portuguesa, através do Ministério da Coesão Territorial já enviado a composição da delegação portuguesa às autoridades do Reino de Espanha. Aguarda-se agora a designação dos representantes das autoridades nacionais, regionais e locais do Reino de Espanha e da Junta de Andaluzia».

A rapidez nesta nomeação pode revelar-se decisiva, uma vez que é, neste momento, a única coisa que está a impedir Alcoutim de lançar o Concurso Público para a obra, com a perspetiva de consignar a obra o mais rapidamente possível.

 

Paulo Paulino – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Paulo Paulino confessou ao nosso jornal a «grande satisfação» ao ver Portugal e Espanha a assinar o acordo para construção da ponte, na Cimeira Luso-Espanhola que teve lugar em Outubro, em Faro, que era algo «que esperávamos e que estávamos a aguardar há uma série de tempo».

«Nós temos aqui um problema grave, um problema que nos dificulta esta caminhada, que é a questão do prazo do PRR», lembrou.

No entanto, enquanto a bola esteve do lado da Câmara, na altura dirigida por Osvaldo Gonçalves, até há pouco tempo presidente da autarquia, os prazos foram todos cumpridos.

«Nós começámos há cerca de dois anos e, em Novembro de 2023, tínhamos o processo entregue ao Governo do Reino de Espanha. E, de Novembro de 2023 até à assinatura do acordo, ficámos a aguardar esta resposta», explicou o agora presidente da Câmara Paulo Paulino, que, quando o processo começou ,era vice-presidente da autarquia.

Aquilo que dependia da Câmara de Alcoutim, recordou, «foi feito: as batimetrias, os levantamentos topográficos, a escolha do local e a elaboração de um projeto. E tudo isto correu dentro da normalidade e conseguimos respeitar o cronograma, perfeitamente dentro dos limites. Quando passou para terrenos que nós e Sanlúcar deixámos de controlar, aí os prazos começaram a resvalar».

Mais do que uma simples ponte, esta nova ligação internacional é vista pelos autarcas das duas localidades que serão unidas como uma obra fundamental para este território.

«Esta ponte, na minha forma de ver as coisas, traduz-se num aumento da dimensão de Alcoutim e também de Sanlúcar, porque, ao unir estas duas povoações, ambos vamos crescer», ilustrou Paulo Paulino.

«Socialmente, culturalmente, economicamente, haverá muito mais laços. Ficaremos muito mais próximos. E isto é fundamental para o meio onde estamos inseridos», acredita o edil alcoutenejo.

 

Pepe Perez – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

José Maria Perez – ou Pepe Perez como é mais conhecido -, que apanhou o barco para vir ao encontro do repórter do Sul Informação e do seu vizinho e congénere alcoutenejo, não esconde a vontade de ver essa união efetivada.

«É aquilo que eu sempre digo – a última vez foi recentemente, em entrevista à Cadena Ser, a rádio mais ouvida em Espanha. Perguntaram-me sobre Sanlúcar de Guadiana e eu respondi: eu nunca falo de Sanlúcar de Guadiana, falo sempre de Sanlúcar e Alcoutim. Somos um ente que não funciona um sem o outro, precisamos um do outro», disse.

«E aquilo que a ponte vai fazer é potenciar toda esta relação que já temos. Para nós, será fundamental ter a ponte, porque permitiria reforçar não apenas o que é a relação entre Alcoutim e Sanlúcar, mas também de toda a zona interior do Algarve com a zona do Andévalo [a sub-região à qual pertence Sanlúcar]. Através da ponte, podemos fomentar as relações, tanto comerciais, como turísticas. Acho que seria importante», reforçou.

E, admitiu, quem fica mais a ganhar até é a pequena localidade espanhola. «Espero que, a partir do momento em que exista a ponte, haja acordos a nível nacional, para que possamos usar os serviços de um lado e do outro da fronteira de forma conjunta. Para nós que vivemos do outro lado [Sanlúcar de Guadiana], seria um luxo ter acesso aos serviços que há aqui em Alcoutim, a apenas dez minutos».

Paulo Paulino acredita que Alcoutim também tem muito a ganhar com a nova ponte.

«A melhoria da mobilidade e das acessibilidades traz-nos aqui uma nova centralidade. Nós somos periféricos, vivemos aqui no interior e só quem está cá é que sente verdadeiramente esta interioridade. E as pessoas que se mantém aqui são resilientes porque gostam de cá estar. Todos aqueles que cá estão e que nasceram cá são aqueles que mais ambicionam o aparecimento, a construção desta ponte, porque acham que ela trará uma nova esperança ao território», afirmou.

«Atualmente, se nós queremos desenvolver uma atividade comercial, industrial ou o que seja, estamos longe de tudo. Se quisermos construir aqui uma fábrica de parafusos, para os distribuir temos de fazer não sei quantos quilómetros, até ao comprador. Também não temos aqui muita matéria prima, para sustentar uma eventual atividade industrial. Esta ponte vai-nos aproximar de mercados e de matérias-primas. Abre-se aqui um novo paradigma, um novo horizonte, uma porta que poderá ser uma grande oportunidade para este nosso território», disse.

Hoje, alguém que tenha de fazer uma entrega de um bem que não possa ser transportado de barco e tenha de fazer por estrada o trajeto entre Alcoutim e Sanlúcar, ou qualquer localidade espanhola nas suas cercanias, terá de descer até Castro Marim, atravessar a Ponte Internacional do Guadiana, e regressar para Norte, viagem que demora «cerca de uma hora», apesar de, na prática, se acabar apenas a centenas de metros do local onde se começou.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Além da questão hoje levantada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, do lado espanhol também ainda terá de ser resolvida a questão do acesso «de 500 metros» entre a ponte e a estrada provincial que serve esta localidade e a liga à sede de concelho e a outras vias.

«A nossa organização administrativa é muito diferente da vossa aqui em Portugal. Sanlúcar de Guadiana, enquanto autarquia, tem muito pouca capacidade de realizar obras. Depende da Junta de Andaluzia, do Governo Central, da Diputácion de Huelva, que são quem tem essa capacidade», explicou Pepe Perez.

«As últimas informações que temos é que, depois da assinatura do acordo de Faro, a Junta de Andaluzia está a tentar negociar com o Governo Central que parte cada qual vai fazer da ligação entre a ponte e estrada provincial. Há uma parte da verba necessária que já foi dada pelo Governo à Diputácion Provincial, que é o dinheiro para a construção de uma via pedonal e ciclável, bem como para a elaboração do projeto da conexão. Mas falta a parte mais importante, que é o financiamento para a obra de conexão propriamente dita», acrescentou.

A vontade da parte do Ajuntamento de Sanlúcar de Guadiana em avançar com a obra é grande e o mesmo acontece, acredita o alcaide, com a administração provincial com a Junta de Andaluzia.

«A partir do momento em que foi firmado o acordo em Faro, julgo que o Governo Central também tem a mesma vontade, mas tem de passar à ação, não basta assinar. E a principal ação é garantir o financiamento», defendeu.

Já do lado português, além da preocupação com os dias que vão passando, também se levanta uma questão relacionada com o financiamento da obra.

«Nós tínhamos inicialmente um orçamento de cerca de 9 milhões, neste momento está em 13 milhões, com uma revisão que foi feita há cerca de um ano. Mas agora prevemos que o valor se aproxime dos 15 milhões. Já estamos em contacto com a Secretaria de Estado, com o gabinete do Ministro da Coesão Territorial,  para tentar ver se conseguimos incluir essa diferença», concluiu Paulo Paulino.

 

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