É Fora d’Horas, mas também fora dos locais habituais e com ofertas “fora da caixa”. A nova plataforma online Turismo Fora d’Horas, uma iniciativa conjunta da associação Vicentina, do Algarve, da ESDIME e da Terras Dentro, ambas do Alentejo, nasceu para dar a conhecer a oferta turística que existe no interior destas duas regiões e para convidar os turistas a visitar estes territórios.
O site e o conceito por detrás deste projeto, que nasce da união de esforços de três Grupos de Ação Local (GAL), foi apresentado na passada quinta-feira numa sessão que teve lugar na sede da Região de Turismo do Algarve, em Faro.
No fundo, a ideia é pegar no «enorme potencial» dos territórios do interior, nomeadamente ao nível do património natural, cultural e histórico, para estruturar e divulgar uma oferta turística única, muito assente na genuinidade e nas populações locais.
«O conceito de Turismo Fora d’Horas refere-se ao diferente, ao que é fora da caixa, fora da época normal ou convencional do turismo e fora daquilo que são os destinos turísticos mais procurados pelas pessoas, ou seja, em territórios onde não há grande procura turística», explicou ao Sul Informação Aura Fraga, da Associação Vicentina, uma das coordenadoras do projeto.
«Não é uma plataforma para venda de produtos turísticos, digamos assim. É uma plataforma que pretende promover os territórios e aquilo que eles têm para oferecer em termos de experiências turísticas, para que motive as pessoas à visitação destes territórios. A plataforma também pretende servir de incentivo a quem vive nestes territórios, para apostar no turismo», acrescentou.
Para esta responsável, é preciso diversificar a atividade económica nos territórios do interior e o turismo «é um setor de atividade, pelo menos aqui no Algarve, pujante, é um setor económico âncora. Mas, depois, quando vamos ver o turismo no interior, não tem praticamente significado».
«No entanto, o Algarve interior, que não tem turismo, tem uma riqueza ao nível dos seus patrimónios, das suas atividades, das suas vivências, da sua gastronomia, usos, costumes, que é preciso promover, para se conseguir alguma dispersão dos turistas por toda a região e também fixar população no interior», enquadrou.
«Se nós alavancarmos a economia local dos territórios do interior, mais facilmente também fixamos população nesses territórios. Caso contrário, o êxodo populacional mantém-se e as pessoas continuam a sair do interior para o litoral», concluiu Aura Fraga.

A plataforma Turismo Fora d’Horas dá a conhecer não apenas a oferta de alojamento e de restauração, mas acima de tudo experiências que se podem viver no território, aliadas a histórias que inspiram alguns dos conteúdos disponíveis.
As propostas são diversas: beber um café torrado com notas exclusivas, visitar uma torre da época islâmica e mais tesouros por descobrir, passear nas três rotas artísticas de Barão de São João, fazer uma viagem ao passado nas Grutas do Escoural, conhecer o sal verde algarvio que está a dar que falar, visitar o Parque Mineiro de Aljustrel ou o Museu da Escrita do Sudoeste, entre tantas outras.
No site, vai ser possível assistir a uma web série, que conta a história de um avô e da neta que viajam do Norte do país para uma “aventura” nos territórios do Alentejo e Algarve interior. Os 17 episódios desta série serão disponibilizados a pouco e pouco.
A plataforma conta ainda com outros conteúdos, como histórias e experiências, relatadas em pequenos vídeos ou fotorreportagens, mas também sugestão de rotas e uma agenda de eventos.
Tudo isto servirá, segundo Márcio Viegas, presidente da Vicentina, para «valorizar experiências, contar as histórias do território e valorizar os eventos que acontecem ao longo de todo o ano. O que conta é a identidade e a autenticidade».
No Algarve, são focadas na plataforma 19 freguesias de seis concelhos – Aljezur, Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Monchique e Silves -, o território de intervenção do GAL Adere 2020, cuja entidade gestora é a Vicentina – Associação para o Desenvolvimento do Sudoeste.
No Alentejo, a plataforma visa os territórios que constituem outras duas GAL, a ESDIME – Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste, do Baixo Alentejo, e a Terras Dentro – Associação para o Desenvolvimento Integrado, do Alentejo Central.

No caso da ESDIME, são também 19 as freguesias, mas de cinco concelhos – Almodôvar, Ourique, Castro Verde, Aljustrel e Ferreira do Alentejo – que são abrangidas, algumas das quais com continuidade territorial com o interior da região algarvia.
«O interior do Algarve é muito próximo do que é o interior do Baixo Alentejo. Nós, no Alentejo, temos alguma concentração turística, mais nas grandes cidades, nomeadamente Évora, toda a zona de Évora, mas também em mais alguns pontos», disse ao nosso jornal Isabel Benedito, da ESDIME.
Mas os concelhos interiores que focados na plataforma, «quer os da ESDIME, quer os da Terras Dentro, são concelhos que têm potencial do ponto de vista do desenvolvimento turístico com base nos ativos extraordinários que foram aqui apresentados. É isso que nós procuramos efetivamente, mas ainda existem lacunas muito grandes, nomeadamente do ponto de vista da estruturação da oferta», acrescentou.
«Para promover este tipo de oferta turística muito ligada àquilo que são a identidade, as experiências, as narrativas e as vivências das comunidades, temos de ter assegurado também que há um mínimo de oferta ao nível do alojamento, ao nível dos serviços de recriação e de lazer, de restauração. Isso é algo que ainda tem de ser muito trabalhado nas zonas onde nós operamos», reforçou.
Para a representante da ESDIME, «tem de haver, no fundo, um trabalho de envolvimento da comunidade. Isso está a ser feito, de alguma forma. Nós temos alguns exemplos muito interessantes no nosso território, como o Parque Mineiro de Aljustrel, que parte muito da aposta na integração da comunidade em todo o processo, no produto turístico. Mas tem de haver aqui um trabalho de facilitação e de colaboração para que efetivamente a comunidade esteja implicada nisto, porque as comunidades rurais sabem acolher de uma forma extraordinária, tanto no Alentejo como no Algarve».
«Esta população tem de ser capacitada para estar sintonizada com aquilo que é o objeto, o conteúdo que nós queremos trabalhar ,e isso implica um trabalho muito forte de dinamização e de capacitação, não apenas das pessoas, mas igualmente das organizações. Temos de estar todos sintonizados para isto», conclui.
Durante a sessão de apresentação do projeto, também Elsa Branco, da Terras Dentro, tinha salientado «o potencial fantástico» dos territórios focados, nomeadamente ao nível «das tradições e do vasto património cultural».
Igualmente presentes na sessão esteve o anfitrião André Gomes, presidente do Turismo do Algarve, que destacou «o carácter de sustentabilidade e interegional» do projeto.
«É muito mais do que uma plataforma digital. É uma nova abordagem à promoção turística e àquilo que estes territórios podem oferecer. O património natural e humano dão-nos vantagens em relação aos outros», considerou.
Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, destacou a «proximidade cada vez maior entre os territórios do interior do Algarve e do Alentejo» e o facto da nova plataforma «dar a conhecer histórias que podem fazer a diferença», enquanto José Apolinário, presidente da CCDR Algarve considerou que este projeto dá «um contributo muito grande para a necessidade de olharmos mais para o interior».
Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação
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