O António tem 50 anos e entrou em paragem cardiorrespiratória. Como se deve agir a partir daí? Este foi um dos cenários apresentados a alguns médicos internos da especialidade da Unidade Local de Saúde do Algarve (ULSAlg) que participaram, no passado dia 21 de Dezembro, no Curso de Suporte Avançado de Vida (SAV), dinamizado no Centro de Simulação Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve, em parceria com o Algarve Biomedical Center (ABC).
«É um enorme investimento e empenho da ULS Algarve para formar os médicos que são e vêm para a região, para que aumentem e melhorem a qualidade dos cuidados de saúde prestados aos pacientes. Esse é o primeiro grande objetivo. O segundo é ajudar a reter e atrair médicos, porque eles procuram este tipo de formações altamente diferenciadas e acreditadas», começou por explicar ao Sul Informação Nuno Mourão Carvalho, diretor do Departamento de Formação e Investigação em Emergência Médica do ABC, frisando que este curso não é obrigatório e que nem todos os médicos o fazem.
Para Ana Paula Silva, diretora do Internato Médico da Unidade Local de Saúde do Algarve, esta possibilidade, que apenas agora começou, mas que já tem planos para o futuro, é «uma vitória» porque permite que os internos tenham formações gratuitas.
«Fizemos a proposta ao Conselho de Administração, que aceitou, e, no próximo ano, vamos abrir o novo ano formativo em SAV. O Suporte Básico de Vida é obrigatório, os internos da formação já o têm, mas o avançado não é, e, por isso, fizemos esta proposta para 40 internos (que é mais ou menos o número que entra todos os anos nas especialidades) para que o possam frequentar», disse ao nosso jornal.
Naquela quarta-feira, o primeiro de dois dias de curso, aos poucos iam chegando os 15 médicos (internos das especialidades de anestesia, medicina interna, fisiatria, oncologia e cuidados de saúde primários) que pertencem ao último grupo desta primeira formação, que englobou 41 profissionais.

Divididos por três salas, cada uma com dois formadores do ABC, estes profissionais aprenderam e treinaram como agir perante uma situação de paragem cardiorrespiratória de um doente.
No Centro de Simulação Clínica da Faculdade de Medicina UALg, inaugurado em Março de 2023, os bonecos têm batimentos cardíacos, fazem sons, há simuladores, robôs, desfibrilhadores e ventiladores verdadeiros, para que o treino seja o mais próximo do real.
«Os médicos treinam nestes simuladores antes de lidar com as situações de emergência nos pacientes e isso é muito importante, porque lhes permite irem mais preparados. O SAV é aplicado em doentes em risco de vida. São situações médicas onde não há muito tempo para pensar, é necessário tomar decisões rápidas, é necessário comunicar bem em equipa e liderar toda a situação e todos os profissionais envolvidos e é isso que se treina nesta formação», salientou ainda Nuno Mourão Carvalho.
Kevin Azevedo, interno de Medicina Geral e Familiar, foi um dos alunos desta primeira formação e considera-a «essencial para a vida de um médico, porque, em qualquer altura da nossa prática profissional, podemos encontrar uma vítima em paragem cardiorrespiratória e, quanto mais cedo se conseguir fazer suporte básico e avançado de vida, maior a probabilidade do doente sobreviver ou ter menos sequelas pós paragem».
«Se nós não tivéssemos este curso, teríamos de chamar a equipa de emergência médica intrahospitalar que são os colegas que nos vêm dar auxilio, mas nós, sabendo como se utiliza o desfibrilhador, conseguimos mais rapidamente assistir o paciente, até estes colegas, que muitas vezes nem estão no mesmo piso, chegarem», continua Cindy Fazenda, interna da especialidade de Oncologia e também uma das alunas da formação.

Tanto Cindy como Kevin formaram-se na Universidade do Algarve e consideram este Centro de Simulação Clínica da Faculdade de Medicina «uma mais-valia enorme».
«No meu caso, ainda não conhecia o centro, porque, quando acabei o curso, ele ainda não existia, mas estou muito agradado com a qualidade e com o ambiente formativo que proporciona, muito próximo da realidade», diz Kevin.
Já Diana Reis, médica interna no último ano de internato de especialidade, licenciou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e recorda «um curso muito mais clássico e com uma intervenção ao nível do suporte avançado de vida um bocadinho mais limitada».
Diana mudou-se para o Algarve por motivos pessoais e não acredita que seja apenas este investimento na formação que fará um médico escolher a região para realizar o seu internato, mas não tem dúvidas de que pode ser um ponto muito positivo para a decisão final.
«Isto já devia estar incluído em todos os planos e acho que, nesse aspeto, a ULS Algarve deve ser vista como um exemplo e está de parabéns. Na área da emergência médica, acho que temos sido um exemplo, mesmo na formação da população. Temos DAE [Desfibriladores Automáticos Externos] espalhados por muitos sítios e cada vez mais isso é essencial. Temos visto melhorias e recuperações em casos que, noutros contextos e antigamente, talvez não fossem possíveis», remata a médica.
As formações em SAV não são, contudo, as únicas nas quais a ULSAlg pretende apostar e investir.
De acordo com Ana Paula Silva, estão também a ser pensadas outras oportunidades e cursos para propor ao Conselho de Administração, em áreas já específicas como a da cirurgia ou radiologia.
«No fundo, o que queremos é ter um plano formativo inovador, em que os modelos anatómicos, através do centro de formação, possam ser utilizados e constituam uma mais-valia para a formação, antes do interno entrar em contacto com o humano. Isto cativa os internos e abre portas para o exterior, porque, sendo um exemplo, permite que outras ULS conheçam a nossa realidade e o Algarve e isso abre todo um caminho a partir daí», remata a diretora do Internato Médico da Unidade Local de Saúde do Algarve.
Um curso de Suporte Avançado de Vida como este a que os internos da ULSAlg têm acesso de forma gratuita pode custar entre 400 e 500 euros.