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“São coisas que acontecem, eu, antes de começar nesta arte, nem sabia que isto existia”, diz Xavier Gonçalves, sobre o seu trabalho enquanto oleiro.

Natural de Ribeira de Pena, em Trás-os-Montes, Xavier Gonçalves, de 71 anos, atravessou o país para vir para o Algarve e vive há décadas na cidade de Loulé, onde exerce a profissão de oleiro há quase 50 anos.

Adquiriu os seus conhecimentos com o sogro, na mesma loja onde iniciou a sua jornada profissional há mais de cinco décadas, com apenas 18 anos. Mas sempre trabalhou com as mãos, uma vez que, antes de se dedicar à olaria, era carpinteiro.

O então jovem Xavier demorou dois anos para aprender a fazer peças de olaria, que considera uma arte difícil, que exige muita prática até os artesãos conseguirem “ficar autónomos”.

Atualmente, dedica-se à produção das suas próprias peças, que cria a partir do barro, pinta e coze na sua oficina-loja, numa rua do centro histórico de Loulé.

 

 

As chaminés algarvias, com fins decorativos e para casas, são sua especialidade. “É o que mais gosto de fazer, é algo bonito que ninguém mais faz”, explica.

Além das chaminés, também cria canecas, tigelas, pratos, cinzeiros, bases, taças para prémios, vasos, saleiros e candeeiros, tudo decorado com pinturas.

Com um pedaço de barro colocado na roda de oleiro, preparando a próxima fase da peça que estava a criar, Xavier afirmou que “tudo o que é redondo é possível de ser criado”, com esta técnica.

Antes, o oleiro comprava o barro numa loja em Loulé, mas atualmente recorre a fornecedores do norte do país ou de Espanha, destacando que o material “é muito caro”.

O processo de construção de cada peça varia bastante, dependendo das características de cada uma. Xavier explica que há peças que podem levar um dia inteiro a ser feitas, dependendo do nível de dificuldade, e que o preço também varia conforme o trabalho necessário.

E será que Xavier gosta das peças que faz? “A gente não pode gostar daquilo que faz”, responde o oleiro. Porquê? “Porque depois tenho de vender as peças e fico com pena”.

 

 

Como já passou as sete décadas de vida, o oleiro está agora a transferir a sua arte e o seu negócio para o filho António Gonçalves, que iniciou esta atividade há pouco tempo, há cerca de quatro meses, aos 25 anos.

E é fácil? António afirma que o processo de aprendizagem é longo e apresenta bastantes desafios, o que o torna simultaneamente “estimulante e nunca monótono”.

O jovem aprendiz de oleiro, que nunca antes tinha pensado em fazer vida da arte do seu pai e do seu avô, confessa agora que vê este trabalho como sua “vocação para a vida”. É que, como faz questão de salientar, “foi uma paixão que se desenvolveu com o tempo”.

Na olaria, há workshops para aqueles que desejam aprender. Funcionam com marcação diretamente com António. Pode tratar-se apenas de uma experiência única, durante a qual os formandos produzem uma pequena peça e, depois de cozida no forno, a recolhem, ou pode ser um pequeno curso de vários dias, ao longo dos quais se aborda todo o processo da criação da peça até ao final.

António realça que, além da sucessão familiar óbvia, “o negócio deve passar para alguém que partilhe da visão, paixão e valor inerentes àquilo que é uma tradição tão valiosa para nós”.

Por isso, conclui, “é um dever, não só pessoal, como cultural e social, manter e modernizar aquilo que é a Olaria Xavier”.

A Olaria Xavier, fundada em 1976, situa-se numa casa tradicional na Rua Martim Moniz, no centro histórico de Loulé. Na loja, há centenas de peças únicas, que foram feitas com tanto gosto por um oleiro que nem sabia que existia tal arte.

 

 

Texto e fotos de Carolina Rosário, produzidos no âmbito do curso de Fotografia Profissional 23|25 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.

 

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