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As ruas quase vazias de Querença, assoladas nesse dia por um vendaval que convidava a ficar dentro de portas, faziam lembrar qualquer localidade do interior do Algarve, a meio da semana. E tudo seria o que parecia, se um grupo de jovens licenciados não estivesse em pleno centro da aldeia a dar vida a um projeto bem original, para desenvolver esta zona de baixa densidade algarvia.

A Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em parceria com a Universidade do Algarve, lançou o «Projeto Querença» para dar uma nova dinâmica económica ao interior do concelho de Loulé, com especial enfoque na freguesia que dá nome à iniciativa.

Ao mesmo tempo, promoveu a fixação na aldeia dos nove jovens licenciados que estão ligados ao projeto, uma condição para a sua contratação.

O «Projeto Querença» pretende, desde logo, contrariar a tendência de abandono do espaço rural, que nas últimas décadas tem deixado o interior com cada vez menos população.

«Há aí uma série de territórios que estão desertificados, mas que têm recursos. Por outro lado, temos uma universidade na região que produz todos os anos muitos licenciados, que não sabem bem o que fazer com as suas qualificações», ilustrou o coordenador do projeto João Ministro.

E é também na qualificação que este projeto se baseia. O «Projeto Querença» é dinamizado por uma equipa multidisciplinar composta por licenciados em áreas que vão desde a Agronomia e a Engenharia Alimentar ao marketing e gestão, passando pela arquitetura paisagística. Já do seu coordenador, basta recordar que foi o principal responsável pela primeira fase do projeto Via Algarviana, promovido pela associação Almargem.

«A ideia é simples. Criámos uma equipa de missão, porque isto é uma missão, e colocámo-la num território, a freguesia de Querença. Durante nove meses, estes jovens terão de desenvolver projetos que sejam viáveis do ponto de vista económico, no final do processo», explicou João Ministro.

«Mesmo que alguns deles não se fixem aqui, ou que alguns projetos não estejam ainda no ponto de se avançar para uma empresa, já há uma base para trabalhar», acrescentou.

Apesar de o projeto ter ainda pouco tempo de vida, já é possível apontar resultados práticos. O mais recente e, provavelmente, o mais emblemático foi a recuperação da tradição do mercado mensal de Querença, cuja primeira edição decorreu há uma semana.

No certame, notou-se a presença de agricultores e artesãos locais, que em alguns casos, revelou João Ministro, ganharam um novo ânimo nas suas atividades com a chegada de sangue novo e recuperaram também eles práticas que já haviam deixado de lado.

«Temos tido muita aceitação popular, as pessoas da aldeia estão a ajudar muito. Neste momento temos um banco de terrenos com quase 50 hectares, alguns dos quais estavam abandonados. Já temos hortas cultivadas e estamos a criar um conjunto de ideias em torno dos terrenos agrícolas e dos produtos para viabilizar atividades económicas», revelou João Ministro.

«Uma das ideias que estamos a explorar é a criação de cabazes para receitas tradicionais. Ou seja, as pessoas compram o cabaz com todos os ingredientes necessários para confecionar um prato típico, do qual fornecemos a receita. Também estamos a encetar parcerias com restaurantes para escoar os nossos produtos», que serão produzidos com métodos biológicos, referiu.

Dada a quantidade de terreno cultivável ao dispor, alguma desta terra deverá ser disponibilizada a título gratuito a quem estiver disposto a cuidar dela, num projeto de hortas comunitárias.

A equipa do «Projeto Querença» também está a dar apoio a empresas que já existem. «A Farrobinha», produtora de licores e compotas, entre outros produtos tradicionais, é um bom exemplo. Além de apoio à modernização e gestão, a iniciativa da Fundação Manuel Viegas Guerreiro vai permitir que a empresa crie uma nova imagem e que os seus produtos tenham um design renovado, original e mais apelativo.

 

Projeto tem muito apoio popular e institucional, mas não financeiro

 

O «Projeto Querença» é já um sucesso ao nível do entusiasmo que gerou em diversos quadrantes e em diferentes ponto de Portugal e até conta com o alto-patrocínio da Secretaria de Estado da Economia. Ainda assim, foram muito poucos os investidores interessados em associar-se ao projeto.

O apoio da Honda, «que forneceu material agrícola», acaba por ser insuficiente. A aparente falta de interesse do setor privado até é «estranho», tendo em conta que este é um projeto que teve uma grande exposição mediática e que muitos já se mostraram interessados em replicá-lo, noutras zonas de baixa densidade de Portugal.

«Nós estamos a receber contactos de vários pontos do País. Já nos contactaram de Odemira, de Alvito, a Universidade do Porto, Terras do Bouro, Almeida e Cuba», enumerou João Ministro.

«Esta falta de apoio pode por em causa parte do projeto. Nós não quisemos desde o início fazer candidaturas aos Planos Operacionais e assumimos o risco. Não queremos estar dependentes disso. Falámos com bancos e empresas privadas, mas obtivemos muito poucas respostas», contou João Ministro.

Além dos dois parceiros principais, o «Projeto Querença» conta com o apoio da Câmara de Loulé, da Junta de Freguesia Local e do Instituto do Emprego.

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