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António Barbara Correia, Armando Henriques, Conceição Bota, Corália Moreira, Fernando Domingos, Maria Teresa Antónia, Maria Isabel Piecho, Maria das Dores Lopes, Maria Odete Prudêncio, Rosa Maria Santos, Zaida Cruz, Olga Alcobia, Alberto Alcobia, Duartina Felisberto, António Dias. Estes são os nomes dos artistas que esta semana vão subir por três vezes ao palco do Grande Auditório do Teatro Municipal de Portimão, com a peça «Eu sou eu».

Apesar de já todos terem ultrapassado 65 anos de vida, nenhum deles é ator experiente. Fazem parte do Grupo de Teatro Sénior, promovido pela Junta de Freguesia de Portimão, que desde há dois anos contratou a encenadora Sofia Brito para desenvolver este trabalho com os idosos.

«O grupo de teatro já existia antes, mas fazia um trabalho diferente. O desafio que lançámos à Sofia Brito, estando ela ligada à dança, ao ioga, foi para trabalhar com os elementos do grupo numa outra vertente», explica Ana Figueiredo, presidente da Junta de Freguesia de Portimão.

«As pessoas que integram o grupo estavam habituadas àquele teatro “normal”, em que elas decoravam uma peça e depois a representavam, querendo cada uma assumir o protagonismo. Agora a Sofia desmontou isso, começando por desenvolver nos elementos do grupo outro tipo de valores, como a entreajuda, a amizade, o conhecimento entre eles», acrescentou a autarca.

E o que tem, então, a peça «Eu sou Eu» de diferente? Muita coisa! Para já, porque o texto que lhe serve de base foi sendo construído ao longo dos meses de trabalho da encenadora Sofia Brito com os seus atores. E foi sendo construído a partir das experiências, das vivências, das histórias que os membros do grupo foram partilhando nas sessões de trabalho.

Depois de uma primeira experiência em palco no ano passado, tal como agora no âmbito da Semana Sénior de Portimão promovida pela Junta de Freguesia, Sofia Brito diz que os seus atores estão agora «mais experientes e mais confiantes neste processo contemporâneo de trabalho».

O trabalho que agora vai culminar com três representações no Tempo, na quinta-feira, dia 24, às 16h00, e na sexta, às 16h00 e às 21h30, começou em março, com sessões de trabalho uma vez por semana, e agora, desde Setembro, mais frequentes. «Tudo isto parte de muito diálogo, eu trago as minhas questões e eles contam muitas histórias. Depois é preciso transformar isso em termos performativos», conta a encenadora, em conversa com o Sul Informação.

Este trabalho partiu da leitura e análise do livro «Amor e sexo no tempo de Salazar», de Isabel Freire,  e tomou uma direção surpreendente, fruto da confiança conquistada pela Sofia Brito junto do grupo e do desenvolvimento de metodologias mais eficientes, que passaram por exemplo por aulas de yoga, body mind centering e escrita criativa.

«Ao trabalhar com estes seniores, dei-me conta que esta geração se formou num contexto de uma sociedade autoritária e constrangedora». «Eles falaram de coisas que eu já sabia, mas que foram expostas de tal forma que assumiram um impacto e uma dimensão muito forte, que me tocou particularmente». Mas que coisas foram essas?

«Os 48 anos de ditadura e de sociedade autoritária e conservadora marcaram aspetos muito profundos, como a expressão emocional, a relação com o corpo, a relação pais/filhos até ao nível emocional e de autoridade». «O poderem ou não exprimir-se, isso afetava toda a relação com o corpo e não só a sexualidade. Se o contacto físico é tão reprimido, é tão constrangedor, o que é que isso causa? Trabalhámos muito sobre estes temas».

É a partir desses «tabus subtis», dessa «série de convenções muito fortes e de comportamentos que são tão de consenso geral que ninguém põe em causa» que o trabalho foi desenvolvido. «Eu venho da dança contemporânea e por isso sou muito sensível a estas questões do corpo», acrescenta Sofia Brito.

A peça «Eu sou Eu» parte de tudo isso – começa à volta das convenções, dos constrangimentos, da autoridade e dos padrões, continua com um momento de rutura, um grito de revolta, de aceitação do corpo, da sua realidade e das mudanças que o tempo lhe traz, «nós somos quem somos», e termina com uma «utopia de liberdade», de uma liberdade feita de escolhas. «A peça acaba com o reencontrar do sentimento, invocando pequenas memórias de momentos de escolhas em que mudamos as nossas vidas».

A autarca Ana Figueiredo, que já assistiu a ensaios da peça, considera particularmente tocante o momento do «Mapa do Corpo». Mas não quer adiantar mais, para não estragar o efeito de descoberta que se espera que «Eu sou Eu» provoque no público. Para mais porque, como revelou a encenadora Sofia Brito, o espetáculo termina com «uma surpresa».

Para os 16 atores deste Grupo de Teatro Sénior de Portimão, o chegar a esta idade e ainda poder aprender e ter experiências novas é «muito, muito gratificante».

Mas a jovem encenadora Sofia Brito também diz que tem aprendido muito: «tenho que inventar metodologias novas para cada situação, e isso faz-me evoluir muito a nível pedagógico».

Depois de falar com o Sul Informação, a encenadora dirige-se para o centro do palco do grande auditório do Tempo, onde já a esperam os atores. Faltam poucos dias para a estreia e é preciso acertar os últimos pormenores do espetáculo. Há nervosismo e excitação no ar.

«A seguir ao Mapa do Corpo, vestem-se e estes três homens já não saem do palco», explica Sofia Brito, ao grupo que a segue com atenção.

Para saber como é que tudo isto resulta em palco só tem que ir ao Tempo, em Portimão, na quinta-feira, dia 24, às 16h00, ou na sexta, às 16h00 e às 21h30.

 

O Tempo, Sofia Brito e o Grupo de Teatro Sénior de Portimão

 

O Tempo – Teatro Municipal de Portimão apoia e acolhe desde junho de 2010 o Grupo de Teatro Sénior da Junta de Freguesia de Portimão.

Trata-se de um grupo  constituído por seniores com idades entre os 65 e os 80 anos que ensaia regularmente nos espaços do Tempo, que é dinamizado pela Junta de Freguesia de Portimão.

Atualmente tem como orientadora e encenadora Sofia Brito, uma jovem bailarina e coreógrafa que estudou na PARTS/Anne Teresa de Keersmaker em Bruxelas e  que reside agora em Lagos.

Trata-se de um projeto que tem gerado dinâmicas muito interessantes, com impacto não só na vida pessoal dos participantes – todos reformados e residentes no concelho de Portimão –  como também na relação que se tem desenvolvido com a equipa do Teatro Municipal.

«Este projeto, e esta convivência, contribui para que este grupo se transformasse também num público assíduo ativo e crítico dos nossos espectáculos. É portanto uma experiência de interação institucional e com a comunidade extremamente interessante», explicam os responsáveis pelo Tempo.

 

 

 

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