A Black Box do Teatro Municipal de Portimão é uma verdadeira caixa negra de onde saem encantos. No sábado, dia 17, às 16h00, terá lugar a quinta e para já última apresentação, desta vez para as famílias, da peça para marionetas «Uma Noite», concebida e apresentada por três artistas locais, todas elas professoras.
Trata-se de Fátima Mártires, Carla Travessa e Carla Paixão, a primeira e a última professoras de EVT, a outra professora de Música. Elas conceberam a história que sobe ao palco, construíram as marionetas, criaram a cenografia, e ainda dão corpo à manipulação dos bonecos. Para isso tiveram também a ajuda de uma quarta professora, de Português, Sandrina Branco, que colaborou na pesquisa e na dramaturgia.
E o que apresentam então? A peça de teatro para marionetas «Uma Noite» é uma criação original, a partir das histórias clássicas das «Mil e Uma Noites». «O que nós contamos aqui não são as histórias em si, porque são muitas e longas, e este espetáculo dirige-se a crianças do pré-escolar, entre os 3 e os 6 anos. Não pode ter mais de meia hora, senão as crianças cansam-se», explica Fátima Mártires.
«O que nós contamos são elementos de várias histórias, que os miúdos, na sua maioria, já conhecem, como Aladino, a Lâmpada e o Génio, Ali Babá e os 40 Ladrões e, claro, Xerazade, que é quem conta as histórias», acrescenta.
A aventura destas artistas de Portimão começou quando, em junho do ano passado, apresentaram no palco do Teatro Municipal de Portimão (Tempo) a ópera «O Zé das Moscas», no âmbito da disciplina de Oficina de Expressão Dramática, que envolvia dezenas de alunos da sua escola, a EB 2,3 D. Martinho Castelo Branco, a cantar, a representar ou a tocar os instrumentos. Foi um sucesso e na altura a Oficina do Espetador do Tempo convidou-as para apresentar um novo trabalho, baseado nas «Mil e Uma Noites» e desta vez concebido de propósito para a Black Box, o espaço mais intimista do teatro, e a pensar nas crianças mais pequenas, dos 3 aos 6 anos.
«O nosso trabalho para esta peça de marionetas começou logo nessa altura. Começámos a trazer as ideias cá para fora, a pesquisar o que é que os miúdos, em especial os mais pequenos, conhecem das Mil e Uma Noites», recorda Fátima Mártires.
Quantas horas de trabalho foi preciso para conceber e dar corpo a este espetáculo? «Ui…nem sabemos. Entre idealização, construção, ensaios? Muitas e muitas horas!».
Depois, foi preciso começar a conceber as personagens desta peça, as marionetas. «Manipular marionetas exige treino, paciência, dedicação», garante a professora de EVT. «Muita paciência e concentração», acrescenta Carla Travessa.
A peça de marionetas quase não tem falas, quase tudo passa pelo movimento dos bonecos, pela música (oriental), pela dança que as marionetas fazem. «Os miúdos riem-se de coisas a que os adultos não acham grande graça», explica ainda. E no fim, o público, as crianças, podem mexer e manipular as marionetas, para verem como são e como funcionam.
O material usado para fazer as marionetas é, na sua maioria, reciclado (jornais, por exemplo) ou reutilizado.«Há muita coisa que tínhamos lá em casa», explica Carla Paixão. «Mas houve algumas coisas que comprámos, como cortinas de tule», diz Carla Travessa.
Tudo para garantir que estas marionetas ficam suficientemente expressivas, mas ao mesmo tempo simples, para conseguirem contar a história a este público muito jovem, mas muito exigente. «Não podemos usar, com miúdos do pré-escolar, marionetas muito complicadas. Tem que ser um trabalho mais expressivo, com movimentos mais exatos, porque são miúdos muito pequeninos», considera Fátima Mártires.
A própria adaptação das histórias ou dos seus elementos principais deu muito trabalho, a pensar neste público especial. «As histórias das Mil e Uma Noites são muito complicadas e todas têm mortes. Aliás, o enredo parte da ameaça de morte de Xerazade, que tenta escapar a essa sentença contando sempre mais e mais uma história. Transformar tudo isso num enredo simples não é fácil», garante a artista.
No fundo, explicou, «começámos por encher um frasco com ideias e depois fomos retirando, fomos retirando, para deixar só o essencial».
Este essencial, a peça de teatro de marionetas «Uma Noite», foi estreada esta semana, em quatro sessões para as escolas e fecha no sábado com mais uma sessão, para famílias. Só que, se este artigo lhe abriu o apetite para ir assistir, talvez o melhor seja desistir. É que mesmo a última sessão já está lotada. Mas anime-se: há conversações com o trio de artistas para que a peça possa ser apresentada de novo em janeiro.
«Há muitos pedidos, de escolas que agora não puderam vir por falta de espaço, de pais. Provavelmente em janeiro vamos voltar aqui, mas isso depende da produção do Tempo», revela Fátima Mártires.
«É que há muita procura de espetáculos, de atividades para crianças mais pequenas, porque há pouca coisa para elas».
O trio de artistas de Portimão já tem outros planos e ainda mais ambiciosos: uma peça de teatro de marionetas para bebés. «Será uma linguagem ainda mais simples, mais “gugu-dadá”», explica Carla Travessa. E para quando, quis o Sul Informação saber? «Não depende de nós. Da nossa parte, o trabalho está feito e pronto a apresentar». Ficamos à espera!
Fotos de: Patrícia Canha/Tempo