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Eles são Rafael Correia, André Guerreiro e Pedro Afonso. Mas dizer isto não é dizer muito: eles são, bem entendido, Gijoe (DJ), Kristo e RealPunch (MCs). Os três jovens algarvios – de vários pontos do Algarve – fazem música hip hop e são as caras dos Tribruto (isso mesmo, com “r”).

Porquê o nome? É um tributo, também, à música que fazem: ao hip hop. Mas é também porque são, dizem, três brutos do Algarve: são provocadores e fazem música “dura e crua”, energética e com muitas “punchlines”.

Depois de, em 2010, terem lançado o primeiro EP e o primeiro álbum (Algazarra), Tribruto voltaram a apresentar um novo trabalho: desta vez é uma mixtape, que lançaram no final de 2011 e já andam a apresentar ao vivo no Algarve e não só.

Num dos seus últimos temas – “Agente K17”, também parte da banda sonora do filme com o mesmo nome, produzido pela “New Light Pictures” e quase a estrear – cantam sobre a crise e o descontentamento com a classe política: “Já não tens apoio do Estado; agora faz para ter; faz para ser o que nunca foste; isso é caso para ser; um K sem meios contra capangas, contas e papéis (…) Eles é p**** e hotéis enquanto tu vives com o que tens; não pagas o que já é teu e ainda te ficam com os bens…” ou “Faz-te à pista, bota as luvas e ignora, bora! Nem que seja com porrada e pontapés, bora! Parte para cima, deixa-os sem qualquer hipótese, dá asas à tua vida e deixa-te do eu não posso”. 

O Sul Informação esteve à conversa com eles e eles querem deixar claro que o seu terreno é também esse: o de olhar o mundo com uma perspetiva crítica e de intervenção. Mas não só: lançam o olhar ao Mundo, ao País, mas também à sua rua – tudo visto de maneira irónica, divertida e energética. E muitas vezes, desconcertante. Tal como esta conversa.

Sul Informação: Não é que cheguem agora, mas primeiro que tudo: quem são os Tribruto?

DJ Gijoe: Em primeiro lugar, Tribruto nasce dos concertos e não o contrário. Não foi um projeto planeado que tenha nascido de estúdio. Eu, enquanto DJ, era muitas vezes chamado para tocar em concertos e pediam-me que levasse MCs [ndr: MC significa literalmente Mestre de Cerimónias, o (ou os) vocalista(s) no género hip hop], sem definir quem. Muitas vezes acontecia levar o RealPunch e o Kristo, entre outros. E vimos que aquilo estava a resultar bem. O último [concerto, pré-Tribruto] foi um que fizemos em Lagos antes de Da Weasel, e aquilo resultou tão bem que resolvemos fazer algo estruturado e fazer músicas os três para poder apresentar ao vivo. O projeto nasceu dos palcos para os palcos.

RealPunch: Isto dava uma baseline: dos palcos para os palcos…

SI: Mas hoje em dia, pelo menos em Portugal, já não há lá muitos grupos de hip hop…

DJ Gijoe: Já há menos, sim. Isso começou a acontecer porque o pessoal começou a habituar-se a projetar o nome próprio, e como em Portugal temos algumas referências que resultaram, o Valete, o Sam the Kid, o Boss AC…

RealPunch: Mas no hip hop, há sempre aquela necessidade de ter um grupo, uma crew. Eu tive a minha, o Kristo também tinha a dele. Enfim, todos já tínhamos feito coisas diferentes…

DJ Gijoe: Daí o facto deste grupo ter resultado melhor porque cada um de nós já tinha experimentado as suas coisas e quando nos encontrámos…

Kristo: Foi amor à primeira vista… (exclama)

DJ Gijoe: … Vimos que havia ali coisas em comum… (completando).

SI: Como o quê? O que é que têm em comum?

DJ Gijoe: Juntámo-nos, primeiro, por sermos os três da mesma editora [ndr: Kimahera]. Eu já estava na mesma editora há algum tempo, o Punch também, e houve uma certa altura em que me cruzei com o Kristo em palco e achei por bem convidá-lo, porque ele tinha qualidade…

Kristo: Fiz-me de convidado… (exclama novamente)

DJ Gijoe: …E gostámos de trabalhar com ele. Depois, a junção dos dois MCs em palco resultou porque eles são diferentes. E completam-se…

RealPunch: E também houve uma grande interação que acabou por ser criada entre nós: O Kristo sempre teve um grande à-vontade e isso veio-me picar. A nível de rimas também somos completamente diferentes. Ele tinha um estilo mais cómico; eu um pouco mais interventivo. Entretanto, fomo-nos moldando. E temos todos outra coisa em comum: é que gostamos todos de punchlines [ndr: parte final ou ponto forte de uma rima ou piada].

DJ Gijoe: Sim, quando começámos a definir o que era o nosso estilo, foi muito por aí: os três queríamos uma coisa crua, dura e sem papas na língua. No palco já sabíamos o que éramos: um grupo animado, com energia, cómico e ao mesmo tempo com letras interventivas. A criação do nome também vem daí.

SI: O nome é um trocadilho mais ou menos evidente… O que é isso dos Tribruto?

RealPunch: Três brutos.

DJ Gijoe: Sim. E jogámos com os dois sentidos: é também um tributo à música que queremos fazer – o hip hop.

Kristo: O Bruto vem das punchlines. Nós somos três brutos. O nome surgiu nas viagens, quando íamos de carro, a Lisboa… Aquelas duas, três horinhas eram brainstorm total…

DJ Gijoe: Achámos que resultava, a nível sonoro e tudo – apesar de termos muitas complicações com o nome: chamam-nos muitas vezes Tributo.

Kristo: Agora já não estamos a ter tantas: já nos chamam Trabruto…

SI: As punchlines – que vocês assumem que fazem… – têm destinatários?

Kristo: Eu posso falar por mim. É assim: no geral, 95 por cento [das punchlines] não são para ninguém. É uma forma de trabalharmos a rima, a métrica das palavras, ter uma certa piada… Mas há 5 por cento que se calhar são dirigidas a alguém que se cruzou na nossa vida e temos que deitar aquela pessoa abaixo… (risos)

RealPunch: As minhas são um bocado nessa onda. De situações que a gente passa e depois…

Kristo: Mas pouco, cada vez menos. Muitas vezes oiço punchlines antigas e pergunto: para que é que fui fazer isto? É desnecessário. É mesmo para a gente trabalhar e brincar…

RealPunch: A questão das nossas punchlines é que às vezes as pessoas enfiam a carapuça, mesmo não sendo para elas.

SI: Mas para além das punchlines, que mensagem é que vocês querem passar? É um objetivo o de serem interventivos com as coisas que se passam à vossa volta? Esta situação de crise, por exemplo, que se vive no país e na Europa mexe com as coisas que vocês andam a fazer e a escrever?

DJ Gijoe: A música hip hop acaba por transmitir sempre as vivências do MC. Se o MC está a levar com a crise, isso acaba por se refletir. Não queremos estar a dar a missa [em relação à crise], mas tentar que as pessoas vão pela música, e ao mesmo tempo, interiorizem a mensagem.

RealPunch: Eu falo do país ou da minha rua, do que se passa de negativo, mas a nível individual tenho sentido completamente a influência da crise. E também nas pessoas que nos ouvem: nós fazemos hip hop e música para gente que gosta de hip hop. Mas com este último vídeo do Agente K17 [que fala da crise] há gente de 50 ou 60 anos a partilhar o tema no Facebook…

SI: Onde é que vocês acham que marcam a diferença no panorama nacional?

DJ Gijoe: Acima de tudo, musicalidade e concertos.

Kristo: É isso. Pá, às vezes parece que em certos concertos de hip hop os MCs estão descontentes com o que estão a fazer. Nós achamos que temos de aproveitar o momento. Tens de dar um espetáculo! Dá um concerto: é ir para cima do palco e fazer a diferença! Se calhar há alguém que até escreve melhor que nós – até porque nós não somos os melhores do Mundo – mas vai para cima do palco e não mostra isso. Nós, não: é para partir a casa toda, percebes?

RealPunch: E depois nós como pessoas também somos uns palhaços de primeira, estamos sempre a gozar uns com os outros… (risos) Isso acaba por se refletir…

SI: Hum… Ok. Como têm corrido os concertos?

DJ Gijoe: Têm corrido muito bem. Estamos a abrir portas em casas que queríamos, o que é muito bom.  Sentíamos a necessidade de um trabalho novo, já estávamos um bocado fartos de tocar o álbum. Foi muito bom estar no Musicbox [em Lisboa] e ter umas quantas filas a cantar as nossas letras da mixtape que lançámos há menos de um mês…

RealPunch: O feedback do público é uma das coisas mais importantes no nosso espetáculo.

Kristo: O pessoal vai ver um espetáculo energético. Se fores ver Jorge Palma, sabes o que é que vais ver: vais estar tranquilo, a ouvir. Se fores ver Tribruto, sabes que vais para te rires, para saltares, enfim, para ganhares t-shirts – neste último concerto demos t-shirts…

SI: E vêm aí mais concertos?

Kristo: Estamos à procura: Semanas Académicas, casamentos, batizados e funerais, também.

RealPunch: Estamos a apostar em novos segmentos. É um negócio de oportunidade…

Kristo: Depois temos dia 30 de fevereiro, podes pôr aí, um concerto de beneficência para o Aníbal, o Aníbal Cavaco Silva…

SI: Isso é uma boa ideia… 30 de fevereiro?

DJ Gijoe: A data que não existe…

SI: Enfim… Última questão:A vossa família ouve a vossa música?

RealPunch: O meu pai chamava-me bolicao mas agora é o meu maior fã.

Kristo: A minha mãe compra os meus cds, sabe que eu canto e já me foi ver à FNAC e levou a minha avó – que estava em cima de uma coluna. Foi a melhor pessoa que já tive a assistir a um concerto: riu o concerto todo…

SI: Mas percebeu alguma coisa?

Kristo: Não, não, nada…

 

Acompanhe o Facebook dos Tribruto aqui. (Fotografias da autoria de Rúben Botelho)

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