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Após um interregno de dois séculos, a ópera do compositor italiano Gaetano Pugnani  (1731-1798), intitulada “La Betulia Liberata”, escrita sobre o famoso libretto de Pietro Metastasio e dedicada à rainha D. Maria I, fez-se ouvir pela primeira vez, em estreia mundial, a 23 de Junho, na Basílica Real de Castro Verde, por ocasião do encerramento da 8ª edição do Festival Terras Sem Sombra.

Num concerto realizado em co-produção com o Teatro Nacional de São Carlos, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direção de Donato Renzetti, maestro da Metropolitan Opera de Nova Iorque, acompanhou com grande brilho um elenco excecional, composto por cantores portugueses e espanhóis: Raquel Alão (soprano), Carmen Romeu (soprano), Mikeldi Atxalandabaso (tenor), Marifé Nogales (mezzosoprano), Mário João Alves (tenor) e Luís Rodrigues (barítono).

Seis vozes que ressuscitaram perante um público maravilhado pela beleza da letra e da música, a história de Judite, a heroína de Betúlia.

Edifício emblemático do Baixo Alentejo, a Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição – palco, desde 2004, de alguns dos mais importantes concertos do Terras sem Sombra, com o apoio do município local –, ficará recordada como o cenário memorável estreia.

Sem dúvida uma ocasião histórica, gravada pela Antena 2 da RTP e aplaudida por mais de 700 espetadores que, no último acorde, soltaram, de pé, repetidos “bravos” calorosos, obrigando o maestro a vir à cena três vezes e a pronunciar, com lágrimas nos olhos, um emotivo Obrigado.

O diretor artístico do Festival, Paolo Pinamonti, lembrou o minucioso trabalho de recuperação desta oratória, que “trouxe novo fôlego à ação de recuperação de um património artístico e cultural vulnerável e que necessita de um trabalho contínuo e sustentável”.

Algo que faz parte das prioridades do Terras sem Sombra e, no caso de Castro Verde, valoriza a ligação de D. Maria I com o concelho, que lhe dedicou em 1792 um padrão com a sua efígie, em agradecimento pelo impulso dado pela rainha à vida económica e social da região.

Hoje já uma referência na vida cultural do Alentejo, Castro Verde fica, assim, ligada ao mapa da luta pela recuperação da memória da ópera em Portugal.

 

Artistas foram à horta e anilhar peneireiros-das-torres

 

No dia seguinte, artistas e espetadores uniram-se a voluntários locais para lançarem as bases de um banco de sementes, restringido às variedades alentejanas, e para um concerto “de agradecimento à Mãe Natureza” – como o apelidou o diretor-geral do Terras sem Sombra, José António Falcão.

Esta iniciativa decorreu nas hortas comunitárias de Castro e faz parte do programa de salvaguarda da biodiversidade levado a cabo pelo Festival.

Com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e da Associação Colher para Semear, os participantes puderam observar as várias tarefas em curso nestas hortas periurbanas, que são um caso de sucesso: a rega, a monda, a colheita de legumes e a troca de sementes.

Também distribuíram sementes pelos hortelões, simbolizando a necessidade da conservação das variedades tradicionais e o reconhecimento do espírito de partilha que caracteriza o comunitarismo, numa experiência em que todos partilham os seus conhecimentos.

A par disto, realizou-se um percurso até um “monte” abandonado para observação de colónias de peneireiro-das-torres. Aqui, os músicos instalaram caixas-ninho e procederam à anilhagem de jovens crias, em colaboração com a Liga para a Proteção da Natureza.

Duas dessas crias de peneireiro, aliás, vão levar, pelos céus da Europa, nomes cheios de ressonâncias da ópera: Betúlia, uma fêmea, e Fidélio, um macho.

No fundo, uma magnífica oportunidade para compreender e proteger a biodiversidade associada às estruturas humanas – habitat privilegiado de corujas, mochos, peneireiros e outras espécies protegidas que são amigas do agricultor.

 

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