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Sul Informação

O que fica das Capitais da Cultura?

As Capitais da Cultura, sejam elas nacionais ou europeias, servem verdadeiramente para alguma coisa? Esta foi a questão que me coloquei, depois de falar com uns amigos que foram a Guimarães na semana passada e aproveitaram para assistir a algumas das atividades previstas no âmbito da Capital Europeia da Cultura 2012. Mas não foram lá de propósito por causa da Capital da Cultura.

Há várias questões que se colocam:

1 – O facto de uma cidade ser Capital da Cultura é o reconhecimento do trabalho feito nessa área ao longo dos anos?

2 – O facto de uma cidade ser Capital da Cultura garante-lhe mais visitantes nesse ano em concreto? E nos seguintes?

3 – O facto de uma cidade ser Capital da Cultura traz mais notoriedade nacional e, sobretudo, internacional a essa cidade? Ou seja, as sementes que se deixaram durante esse ano continuarão a dar frutos nos anos seguintes, atraindo visitantes à cidade?

4 – E para os cidadãos dessa Capital da Cultura, será que este estatuto traz benefícios ao longo do ano e, sobretudo, nos anos seguintes? Será que essa cidade vai mesmo continuar a ser um polo de Cultura? Ou tudo morre quando fecham as portas da Capital da Cultura?

Estas são as questões que coloco e não são fáceis de responder. Tomo os exemplos de Portugal – Porto, que foi Capital Europeia em 2001, Faro, que foi Capital da Cultura a nível nacional em 2005 (e a experiência correu tão mal que logo ali acabaram com as capitais nacionais de Cultura…) e Guimarães, Capital Europeia ao longo do corrente ano de 2012.

A resposta à primeira pergunta é sim, no caso do Porto, ou seja, de facto a cidade foi escolhida como Capital Europeia culminando anos de grande renascimento cultural, de uma verdadeira movida, criada pelos cidadãos e pelos artistas, com algum apoio dos poderes públicos.

Paradoxalmente, no caso do Porto, depois da Capital da Cultura, talvez por causa dos grandes gastos feitos em equipamentos e renovações urbanas que deixaram um rasto de dívidas, mas sobretudo por causa da personalidade e da prática do seu presidente da Câmara Rui Rio, a atividade cultural caiu a pique.

O Porto continua a ser das cidades mais visitadas do país, mas não é certamente por ser conhecida a nível nacional ou internacional por ser uma cidade de Cultura… E assim ficam respondidas todas as outras questões.

Como exemplo de uma cidade que é conhecida como Capital de Cultura, mesmo nunca o tendo sido formalmente, surge Madrid. Grande parte dos visitantes que procuram Madrid fazem-no porque esta fantástica cidade tem alguns dos melhores museus da Europa, com o Prado e o Centro Rainha Sofia à cabeça.

E Faro? Foi por ser pólo de cultura que foi escolhida para ser capital nacional em 2005? E o que ficou de 2005?

A resposta à primeira questão é não: não, Faro não era um conhecido polo de cultura a nível nacional, embora muita coisa interessante acontecesse por cá, nessa altura. O que ficou? O edifício do maior teatro do Algarve, que tem sido gerido com pouco dinheiro, mas com muita imaginação e criatividade, sobretudo nos últimos tempos. E pouco mais.

As instituições da chamada sociedade civil que, antes de 2005, eram o motor da Cultura na capital algarvia, estão hoje moribundas ou com sérias dificuldades de sobrevivência – os casos mais flagrantes são o Cineclube de Faro, a companhia de teatro ACTA, ou o centro de artes performativas CAPA. Por isso, ficou muito pouco, ou então, o que sobrou mesmo de 2005 foram dívidas e problemas.

E Guimarães? Bom, Guimarães talvez seja um caso à parte. Porque é uma cidade jovem, universitária, que sabe (con)viver bem com a sua história de séculos, que tem um centro histórico vivo e cheio de gente, que não se deixou envelhecer à sombra de vagas glórias passadas.

Espero bem que Guimarães desminta esta triste sina das nossas Capitais de Cultura e que se continue a afirmar nos anos que aí vêm.

 

Esta é a minha crónica da quinta-feira passada na Rádio Universitária do Algarve (RUA FM), que também pode ser ouvida aqui.

 

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