Projetar o concelho a longo prazo, diversificar as fontes de riqueza de Lagoa, promover parcerias da Câmara com privados e fomentar a interligação entre os setores da vida económica. Estes são alguns dos objetivos que Francisco Martins, o candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Lagoa, quer alcançar, caso seja eleito nas Autárquicas de outubro próximo.
Francisco Martins considera que «é preciso pensar Lagoa», ou seja, definir estratégias para o futuro do concelho. É que, sublinhou em entrevista ao Sul Informação, «a política de fazer projetos mandato a mandato, de curto prazo, é muito redutora. E o problema é que Lagoa nunca foi pensada a médio e longo prazo».
É isso que o candidato socialista quer começar já a fazer, nomeadamente promovendo o debate de ideias para planear esse futuro. «Independentemente do resultado que viermos a obter, pelo menos fica um documento com o concelho pensado a 10, 15 anos. Será um programa não para um mandato, mas para uma década, década e meia. E a meio desse tempo, já será necessário iniciar o planeamento para outros 15 anos a seguir».
Para dar corpo a essa estratégia e debater as propostas a apresentar, estão programadas e já começaram a decorrer reuniões internas do PS/Lagoa, como a que no fim de semana passado juntou os autarcas socialistas eleitos no município.
Até ao final de março, revelou Francisco Martins, «pretendo ter esse estudo feito e daí sairão as propostas para esse período mais alargado de 10 a 15 anos».
Uma das provas de que Lagoa tem crescido ao sabor dos ventos e sem estratégia, nos últimos anos, pode ser vista, segundo o candidato socialista, na quantidade de infaestruturas «não aproveitadas ou subaproveitadas» que existem no concelho.
Francisco Martins dá o exemplo dos polidesportivos de Lagoa, Sesmarias Carvoeiro, mas sublinha que o mesmo se passa, «na prática, com quase todos os polidesportivos». E fala ainda da «trintena de parques infantis». «Só em Porches há três num raio de 50 metros. Mas esses equipamentos carecem de manutenção, não é só construí-los porque apareceram uns dinheiros daqui ou dali».
Mais grave é, na sua opinião, o caso do Estádio da Bela Vista, entre o Parchal e Ferragudo, onde foram investidos milhões pela autarquia. «Se a ideia era que o Estádio da Bela Vista, como foi anunciado, fosse um polo de atração, enquanto centro de estágios para equipas internacionais de futebol e outras, teria de haver parcerias com unidades hoteleiras, do concelho e fora dele. Além disso, para essa finalidade, não se pode ter só um campo de futebol. Há que ter, por exemplo, sala de imprensa, ginásio, centro de massagens». E isso, segundo Francisco Martins, nunca foi feito.
O candidato do PS à Câmara de Lagoa considera mesmo que, em termos de atratividade desportiva e como complemento ao turismo, «a canoagem teria sido uma aposta muito melhor, para já porque implica custos inferiores, depois porque o concelho de Lagoa tem tradição na modalidade, embora o Rio Arade se mantenha subaproveitado». E Francisco Martins sabe do que fala, porque já foi vereador com o pelouro do Desporto, curiosamente num anterior mandato do PSD.
Diversificar as «fontes de riqueza» do concelho
Quem visita o concelho de Lagoa fora do mês frenético de agosto, depara-se com uma terra adormecida, para mais agora que a crise deu uma machadada forte naquela que era, nas últimas décadas, a sua principal atividade económica, a construção.
Para ultrapassar este estado de coisas, Francisco Martins defende que «há que diversificar as fontes de riqueza de Lagoa. O concelho antes viveu da agricultura e das pescas, depois virou-se para o turismo, quase esquecendo a agricultura e as pescas, sobretudo com o boom da construção. Cada vez que parece surgir um el dorado, esquecemo-nos de tudo o resto. Mas considero que cada setor deverá ter a sua ponderação na criação de riqueza para o concelho».
O cabeça-de-lista dos socialistas lagoenses frisa que «o turismo continua a ser fundamental, mas mesmo nesse setor há apostas em nichos de mercado a fazer. Até em ligação com setores mais tradicionais, como o da agricultura, dos vinhos, do mar».
Por outro lado, preconiza, «temos que criar incubadoras de empresas, virar para a inovação, para o empreendedorismo, para garantir a fixação de novas empresas no concelho».
Câmara tem que criar condições para as empresas
«Mas não basta dizer “temos condições”: há que criá-las e a Câmara Municipal tem que ser o motor, assim como tem que apostar em parcerias com empresas, por exemplo no setor hoteleiro, mas não só. A Câmara não tem que fazer tudo, mas tem que criar condições. O que fez a Câmara nesta situação? Francamente desconheço que medidas adotou a Câmara de Lagoa para ajudar as empresas que cá estão, assim como desconheço medidas para atrair mais investimento, mais empresas para o concelho. E isso, sobretudo na atual conjuntura, é fundamental».
Como exemplo das parcerias com empresas, Francisco Martins fala das áreas de cedência nas urbanizações, que «não servem para nada. São uns quadradinhos de erva que só dão despesa e dores de cabeça à Câmara». No entanto, «no casco antigo de Lagoa ou nas vilas do concelho, temos casas para recuperar. Porque não transformar essas cedências em obras?», propõe.
Para que Lagoa, a cidade, o concelho, as suas vilas, se tornem atrativos, para os visitantes e, até por arrastamento, para os negócios, «há muito que pode ser feito e muitas vezes até são pequenas coisas. Desde logo, com pequenas esplanadas, cafés abertos, ateliês, oficinas de artesanato».
Mas «a mola impulsionadora de tudo isso terá que ser o município», sublinha. «O município tem que ter uma estratégia e tem que tomar medidas. Há anos que se diz que o fecho total ao trânsito da Rua 25 de Abril foi um erro, até já existe um Plano de Trânsito, mas continua tudo na mesma, porque o atual executivo da Câmara de Lagoa não tem iniciativa, não toma medidas».
Francisco Martins, que conhece profundamente o município, em especial a cidade sede de concelho, já que, depois de ter sido vereador, é desde há quatro anos presidente da Junta de Freguesia de Lagoa (eleito pelo PS), defende que é necessário «olhar para a cidade e fazer com que toda ela seja um polo de atração. Para atrair visitantes, Lagoa tem que ser uma cidade com vida e hoje isso não acontece. E como se pode conseguir isso? Nomeadamente através de parcerias com as pessoas e com as empresas que ainda teimam em permanecer na cidade. A recuperação urbana e das atividades, a animação, trazem segurança, trazem atração».
Nesse sentido, salienta, «ter um espaço museológico em Lagoa é fundamental». Esse é um projeto com mais de 30 anos, mas nunca concretizado, embora a Câmara, já então governada pelo PSD, até tenha chegado a comprar um edifício no centro antigo da cidade para aí instalar um museu.
Francisco Martins, reconhecendo o esforço que tem sido feito em alguns dos espaços culturais que existem (auditório, biblioteca, arquivo), sublinha que todos eles «têm que ter um outro dinamismo».
Mobilidade pedonal e falta de água
Outro aspeto que falha muito no concelho de Lagoa, de acordo com a opinião do candidato socialista, é «a mobilidade, nomeadamente a pedonal. Vê-se muitas pessoas a caminhar pelas bermas das estradas, por opção, por exemplo entre Calvário e Estômbar ou de Lagoa a Carvoeiro, mas essas pessoas não têm a segurança mínima. Dentro de Lagoa é a mesma coisa: quem consegue ir aos Correios e às Finanças, a pé, e fazer o percurso em segurança? Ninguém! E isto é verdade tanto para quem anda a pé, como para quem anda de bicicleta».
Francisco Martins considera que, num concelho onde o turismo continua a ser um dos principais motores da economia, e onde até poderia ter um papel «mais dinâmico e mais ativo», a mobilidade é «uma aposta de futuro».
E por falar em turismo, pode parecer incrível, mas neste ano de 2013, «ainda há zonas turísticas do concelho de Lagoa, no litoral, sem abastecimento de água, como as da Praia da Marinha e Caramujeira». Francisco Martins recorda que a Câmara estava à espera que avançassem os investimentos privados previstos para aquelas zonas, no âmbito das UP11 e UP12, «mas como não há meio de que isso aconteça, para mais agora com a crise, é a Câmara que tem que assumir esse processo. É uma preocupação, que temos que estudar com as Águas do Algarve. O que não pode é continuar esta situação!».
Listas prontas até finais de março
A Concelhia do PS/Lagoa foi quase das únicas em todo o Algarve onde decorreram eleições primárias para a escolha do cabeça-de-lista a apresentar à Câmara, já que havia outra candidata a candidata (Susana Ferreira). Mas, como já tinha acontecido em duas eleições internas anteriores, Francisco Martins venceu.
Para já, o candidato socialista não sabe quem será o seu principal adversário nas Eleições Autárquicas de outubro, uma vez que o PSD ainda não escolheu em definitivo quem será o seu candidato.
O atual presidente da Câmara de Lagoa, o social-democrata José Inácio Marques Eduardo, pode recandidatar-se, mas ele próprio disse ao Sul Informação estar «ainda a avaliar» se o fará ou não. «Até ao final de março, tomarei a minha decisão», disse José Inácio ao nosso jornal.
No Partido Socialista, que em 1985 perdeu a Câmara para o PSD, com a derrota do então presidente Abel Santos e a vitória de Jacinto Correia, a esperança é de, desta vez, consigam recuperar a autarquia. Nas últimas duas Eleições Autárquicas, o PS esteve quase…mas a Câmara permaneceu nas mãos dos social-democratas.
Francisco Martins, candidato do PS à Câmara de Lagoa, revelou ao Sul Informação que há muito trabalho a fazer, até outubro. Para já, foram constituídos grupos de trabalho, para debater e estabelecer as bases do programa.
Quanto às listas, o candidato socialista garante que ainda não há nomes escolhidos, mas vai avisando que «as pessoas que vão integrar essas listas têm que reunir três níveis de confiança: política, técnica (sendo uma mais valia na sua área) e pessoal». Até ao «final de março» o processo de definição das listas deverá estar concluído.
Quem é Francisco Martins?
Francisco José Malveiro Martins, de 44 anos de idade, é Enfermeiro Graduado exercendo, atualmente, a função de Enfermeiro Coordenador da Unidade de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Estômbar.
Em termos políticos já pertenceu a todos os órgãos do poder local, Assembleia Municipal, Câmara Municipal de Lagoa como vereador da Cultura e Desporto (eleito numa lista do PSD), Assembleia de Freguesia, exercendo atualmente o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Lagoa.