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Os nomes dos pratos fazem, só por si, crescer a água na boca e, ano após ano, têm vindo a chamar cada vez mais pessoas aos restaurantes de São Brás de Alportel que aderem à Quinzena Gastronómica. É com produtos locais e receitas típicas que o município serrano pretende voltar a atrair apreciadores de boa mesa ao concelho, na época da Páscoa.

A quinta edição da Quinzena Gastronómica de São Brás «Sabores do Caldeirão» começa na próxima terça-feira, dia 19 de março, e dura até dia 1 de abril. Este ano, a principal novidade é a subida do evento até ao coração da Serra, com a inclusão do restaurante Fortes, em Parises, local escolhido pela Câmara de São Brás para apresentar a edição deste ano.

Como é habitual, os seis estabelecimentos que aderiram à iniciativa terão ao longo de duas semanas uma proposta «Sabores do Caldeirão», que inclui uma entrada, um prato principal (há sempre duas opções à escolha), uma sobremesa e vinho, que a organização, a cargo da autarquia, determinou que terá de ser algarvio.

Este ano, há novidades na lista de parceiros da autarquia na Quinzena Gastronómica, com a entrada na lista da já referida Casa de Pasto Fortes, em Parises, e do restaurante O Marquês, em São Brás de Alportel. A Casa de Pasto Adega Nunes e os restaurantes Fonte da Pedra, Sabores do Campo e Ysconderijo voltam a fazer parte da lista, como aconteceu há um ano e, em alguns casos, desde a primeira edição.

Na ementa há muita escolha, que respeita o princípio deste evento gastronómico de valorizar a tradição e a dieta mediterrânica, bem como os produtos do concelho e da região. Quem optar por subir a Serra, pode ainda desfrutar de mel e aguardente de medronho artesanal e produzida localmente.

Conhecer as propostas dos seis restaurantes é um exercício que se deve fazer de barriga cheia e o mais longe possível da hora das refeições. De outra forma, é provável que o leitor se sinta compelido a ir comer de imediato.

Nas entradas, predomina o queijo de cabra, enriquecido com ervas aromáticas, molho de frutas ou com mel, entre várias sugestões. Um bom exemplo é o Dom Rodrigo de queijo de cabra com molho de framboesa (Restaurante Sabores do Campo).

Nos pratos principais, há sugestões para todos os gostos, desde o coelho com tomilho (Adega Nunes) ao javali no forno (Casa de Pasto Fortes), nas carnes, e o bacalhau à Marquês (restaurante O Marquês) e o polvo assado com puré de batata e grelos salteados (Restaurante Fonte da Pedra), para os que preferem sabores do mar. Nas ementas, há quase sempre uma sugestão ligada à época da Páscoa e aos pratos típicos a ela associados, com muitos restaurantes a sugerir pratos de borrego.

Nas sobremesas, a imaginação está quase sempre presente e é bem espelhada nos nomes das iguarias doces sugeridas, como a mousse de chocolate e alfarroba com molho de medronho (Restaurante Ysconderijo) exemplifica bem.

Os restaurantes estarão abertos no Domingo de Páscoa, dia em que se realiza a Procissão das Tochas Floridas, uma das mais importantes tradições de São Brás de Alportel, que tradicionalmente atrai milhares de visitantes ao concelho.

«Escolhemos esta altura para realizar este evento por estar ligada à grande festa da Páscoa de São Brás. A Procissão das Tochas Floridas tem características únicas e é uma festa que orgulha muitos os sambrasenses, mesmo aqueles que são menos crentes. Desde pequeno que faço a minha tocha e vou cantar aleluia no dia de Páscoa», recordou o vice-presidente da Câmara de São Brás Vítor Guerreiro.

 

Cozinha mediterrânica deve ser desfrutada com calma

 

O evento gastronómico que São Brás de Alportel dinamiza há cinco anos assenta na lógica da Slow Food, um conceito criado em Itália como resposta à chegada em massa de cadeias da chamada Fast Food.

No fundo, trata-se de um apelo à preservação da tradição, onde os pratos são, por norma, cozinhados com tempo e paciência, de modo a apurar ao máximo os sabores e mais tarde desfrutados com calma, num ambiente de convívio.

São Brás de Alportel já aderiu há muito a este conceito e também ao movimento das Slow Cities (Cittaslow no original em italiano), uma organização internacional que surgiu no seguimento do conceito Slow Food. Na Quinzena Gastronómica, os principais princípios de ambos os movimentos estão presentes.

«Os critérios iniciais continuam a estar em vigor. Uma das regras é que sejam usados, sempre que possível, produtos locais e da época. Também incentivamos que os restaurantes usem a sua própria produção. Já há alguns que mantém pequenas hortas», revelou a vereadora da Câmara de São Brás Marlene Guerreiro na apresentação do evento.

O respeito pelos princípios da dieta mediterrânica, através da utilização e produtos a ela associados como o tomate, o alho, o pimento e o azeite, bem como ervas aromáticas é outra das exigências. A organização também exige respeito pelo balanço nutricional dos pratos apresentados.

 

E porque não «excursionismo gastronómico»?

 

A apresentação da quinta edição da iniciativa «Sabores do caldeirão» contou com a presença de Otília Eusébio, dirigente do movimento Slow Food Algarve, que prometeu que vai aproveitar «para fazer excursionismo gastronómico» a São Brás e à Serra do Caldeirão.

Para Otília Eusébio, que o ano passado foi a madrinha do evento, os conceitos slow food e slow city são fundamentais para «valorizar a gastronomia típica e, muitas vezes, para resgatar coisas já perdidas».

«Se nos descuidarmos, perdemos uma cultura popular extraordinária. Há aqui na Serra pessoas de valor incalculável para o conceito Slow Food», considerou.

Neste campo, São Brás tem estado na linha da frente e o presidente da autarquia António Eusébio é igualmente presidente da associação Cittaslow de Portugal, formalmente constituída em dezembro passado.

«O nosso conceito não se prende apenas com o turismo. Ao assumir os critérios do movimento, respeitamos as tradições, o património e o legado do passado. A base é marcar pela diferença o que os territórios têm de bom», ilustrou o autarca sambrasense.

 

Provérbios também podem ajudar conceito Slow Food

 

Em 2013, o padrinho do evento é Rui Soares, o presidente da Associação Internacional de Paremiologia, que se dedica à recolha e estudo de provérbios. E a sabedoria popular está muitas vezes ligada à gastronomia e aos produtos que usamos para cozinhar.

«Gostava que as pessoas aqui da Serra divulgassem mais os provérbios locais ligados à gastronomia. Que o fizessem do ponto de vista prático, em vários sítios, para ilustrar os ciclos de vida de várias culturas», disse Rui Soares.

Desta forma, dariam a conhecer uma parte importante da sua tradição aos que visitassem o território, acredita.

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