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Em vez de ter toda a gente sentada à volta de uma mesa, a primeira reunião do ano de 2013 do Conselho Local de Ação Social (CLAS) de Monchique, foi feita em movimento.

Durante toda a manhã desta quarta-feira e até bem depois da hora de almoço, representantes das mais de vinte entidades que integram o CLAS, com o presidente da Câmara Rui André a comandar, percorreram de autocarro o concelho, para visitar as obras que as IPSS do concelho estão a levar a cabo.

Um lar de idosos em Marmelete, um centro de dia em Alferce, e ainda o projeto de um novo lar em Monchique e do lançamento do serviço de apoio domiciliário na vila foram as obras visitadas ou das quais se falou ao longo da visita, que o Sul Informação acompanhou.

Além de criar «respostas sociais» num concelho que tanto precisa delas, por ter uma população cada vez mais envelhecida, o edil Rui André fez questão de sublinhar que estes investimentos criam também «emprego e dinamismo social e económico».

A primeira paragem foi em Marmelete, onde a Associação do Centro de Dia tem em avançado estado de construção o lar, agora chamado oficialmente Estrutura Residencial para Idosos, e que vai receber o nome da benemérita da terra que ofereceu o terreno, D. Maria da Costa Melo Catalão.

A obra, que foi aprovada e comparticipada pelo POPH, ascende a cerca de um milhão de euros, assumindo a Câmara Municipal de Monchique a componente privada, que é mais de 40%.

O lar terá 16 quartos e 24 camas, o que é pouco para a percentagem de gente idosa da freguesia. Por isso, prevê-se que, no futuro, o edifício possa crescer para o lado, com a construção de mais uma ala com dez quartos, ou seja, vinte camas.

O presidente da Câmara Rui André salientou que a freguesia de Marmelete tem atualmente cerca de 400 habitantes, tendo perdido em dez anos, desde os Censos de 2001, cerca de 40% da sua população. «E os que ficam são sobretudo os mais idosos». Um problema que se repete em todo o concelho, apesar de a autarquia de Monchique até ser das que, no Sul do país, mais apoios concede às famílias e aos jovens, tentando fixá-los.

«Com os incêndios fugiu daqui muita gente e, mais importante ainda, perdeu-se o dinamismo económico», sublinhou Pedro Ornelas, dirigente da associação de desenvolvimento Vicentina, que integra o CLAS.

Quanto ao funcionamento do futuro lar, que deverá estar pronto no fim deste ano, o autarca Rui André sublinhou que «nos exigem o mesmo tipo de serviços e de técnicos para um lar pequeno como este ou para um com 80 camas. E isso coloca problemas de sustentabilidade financeira a estas estruturas, já que não há capacidade para que cada uma delas crie uma resposta social por si só. Daí a necessidade de a rede social trabalhar em força, nomeadamente, por exemplo, partilhando médico ou técnicos».

Eleutério Torrado, presidente do Centro de Dia de Marmelete, revelou que a associação tem 149 sócios, o que representa quase metade da população da freguesia, servindo 40 utentes no Centro de Dia, 14 no serviço de apoio domiciliário, e preparando-se para receber 24 no futuro lar.

Revelou ainda o esforço feito num sistema de transportes que permite levar as pessoas a consultas em Portimão ou Faro, por exemplo, sublinhando que isso veio dar «um rombo financeiro» na associação. «Mas percebemos que tínhamos que fazer qualquer coisa, quando víamos pessoas que recebem 200 euros por mês a ter que pagar um táxi para ir ao médico a Portimão».

Eleutério Torrado referiu também os «10 a 12 postos de trabalho» que o novo lar vai criar, referindo que, embora ainda não estejam a recrutar pessoal, «têm aparecido aqui pessoas a inscrever-se para trabalhar até de Monchique e de Aljezur».

 

Alferce é aldeia em obras

 

A segunda paragem desta reunião em movimento foi na obra do Centro de Dia da Casa do Povo de Alferce, também aprovada pelo POPH, cujo valor total deste investimento anda muito perto dos trezentos mil euros, sendo que a Câmara assume também toda a componente privada da obra.

Para albergar esta nova estrutura, está a ser adaptada e ampliada a antiga Escola Primária, permitindo criar condições para servir 40 utentes.

O presidente da Casa do Povo de Alferce recordou que não há ainda a certeza de que a nova estrutura terá um protocolo com a Segurança Social, o que impede de saber, para já, que valor terá de ser pago pelos futuros utentes. «Disso depende o valor a pagar pelas pessoas e essa é a sua primeira preocupação», salientou.

«Esta é uma freguesia pequena, com poucas pessoas, cada vez mais desertificada, mas não podemos deixar de fazer mais coisas para ter cá mais pessoas», salientou Humberto Varela, presidente da Junta de Freguesia de Alferce.

Depois da visita à obra, que colocou especiais dificuldades a algumas das senhoras, tal como já tinha acontecido em Marmelete, empenhadas em equilibrar-se nos seus saltos altos no meio da lama e do piso irregular, o presidente da Câmara Rui André sublinhou a feliz coincidência de, na aldeia de Alferce, estarem neste momento a decorrer quatro obras em simultâneo: a do Centro de Dia, o Centro Multiusos da Junta de Freguesia, a pintura do Polidesportivo e ainda a conclusão da instalação da rede de fibra ótica.

 

Novo lar é o projeto da Misericórdia

 

A terceira e última paragem foi no Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Monchique, onde decorreu a reunião final do CLAS, no novo espaço multiusos, que serve de sala de reuniões e de capela e local de recolhimento.

O provedor da Misericórdia, António Manuel da Silva, falou da Cantina Social, que é o mais recente serviço oferecido à população e que serve 40 refeições diárias.

Quanto aos planos, anunciou a projetada criação de um Centro de Dia e Sala Multiusos, aproveitando a cobertura da atual garagem, numa obra que deverá custar 400 mil euros, e ainda o lançamento do apoio domiciliário. «Desde há sete anos que candidatamos este apoio domiciliário à Segurança Social, mas por esta razão ou por aquela, é sempre chumbado. Mas parece que desta vez está bem encaminhado».

No entanto, o grande investimento de futuro da Misericórdia de Monchique é o novo lar de idosos. «Temos em lista de espera cerca de 350 candidatos. O lar atual tem capacidade para 80 utentes. Precisaríamos não de mais um, mas de mais cinco lares para dar resposta…», disse António Manuel da Silva.

Para dar início à obra, é preciso um terreno, que o provedor manifestou a esperança de que possa ser cedido pela Câmara.

O presidente Rui André, que até é vice-provedor da Misericórdia de Monchique, anunciou que o terreno para o futuro lar deverá ser «onde antigamente existia o Colégio de Santa Catarina. Será uma maneira nobre de honrar aquele espaço, que tão boas memórias tem para tanta gente do concelho».

O autarca falou ainda do Plano Gerontológico de Monchique, que apresentou no ano passado em Bruxelas, a convite da Comissão Europeia, no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo. «É um plano ambicioso, que não é de assistencialismo, mas que pretende acompanhar e fazer um segundo plano de vida para os reformados, que se poderão ocupar no voluntariado ou no empreendedorismo. Porque não incentivar o empreendedorismo sénior, já não numa vertente de lucro, mas de realização pessoal?», interrogou Rui André.

Por seu lado, João Amado, presidente do Secretariado Regional da União das Misericórdias e provedor da Santa Casa de Portimão, saudou os investimentos em curso em Monchique e defendendo a necessidade de o concelho ter uma Unidade de Cuidados Continuados, revelando que «em Portimão, 50% do internamento é de monchiqueiros».

João Amado acrescentou que «o tipo de gestão que as IPSS têm de fazer hoje em dia, quando os mecenas desapareceram e a relação com o Estado é cada vez mais complicada, em que é preciso fazer mais com menos dinheiro, passa muito por responsabilizar mais as famílias. Há de facto famílias que não podem, por estarem a braços com o desemprego e outras dificuldades, mas há muitas situações de abandono dos idosos e isso nós temos de alterar».

Rui André, comentando esta visita em movimento, sublinhou ser importante «falarmos noutro ambiente e trocarmos impressões. O CLAS é um grupo de pessoas que no papel aparece como rede social, mas que, se as relações não forem aprofundadas, não é mais do que formalidade. Em Monchique é fundamental este trabalho em rede, em parceria».

Além da importância de apostar em «respostas sociais», sobretudo neste momento «de grandes dificuldades para todos», o autarca de Monchique sublinhou a criação de postos de trabalho que estes novos equipamentos potenciam. E logo ali, daquela reunião em movimento, surgiu uma boa ideia, proposta por Madalena Feu, diretora do Centro de Emprego e Formação Profissional do Barlavento: um curso de formação na área dos cuidadores de geriatria, para formar pessoas que hão de trabalhar nos novos equipamentos.

Da visita ao Lar da Santa Casa da Misericórdia de Monchique, onde teve lugar o almoço final da reunião do CLAS, ficou ainda o reencontro com o Tio Jorge, que é um dos seus residentes. Durante muitos anos, o Tio Jorge foi talvez a figura típica de Monchique mais fotografada, com o seu burro, no miradouro junto à estrada e ao restaurante Água da Sola.

Agora ele e o burro reformaram-se e o Tio Jorge, sempre bem disposto, dedica-se ao artesanato, nomeadamente a fazer miniaturas de cadeiras de tabua, que fez questão de oferecer a todas as senhoras do grupo, incluindo à repórter do Sul Informação. E não se pense que o Tio Jorge está parado: com 84 anos de idade, criou uma página no Facebook. «Ele é um excelente exemplo do envelhecimento ativo», concluiu o presidente Rui André.

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