O Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro deverá perder temporariamente a autorização para formar novos médicos, situação que não irá, ainda assim, afetar os internos que estão ainda a ser ensinados nesta vertente, na unidade hospitalar pública da capital algarvia.
Estes profissionais de saúde em formação avançada deverão ser transferidos para o Hospital de Portimão, que não vê a sua capacidade de formação de cirurgiões afetada.
Desta forma, não vão sair da esfera do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), até que a situação seja reposta, o que deverá demorar «dois ou três meses», segundo revelou ao Sul Informação o presidente do Conselho de Administração do CHA Pedro Nunes.
A notícia do risco de perda da «idoneidade formativa» que pende sobre a unidade de saúde farense foi avançada hoje pelo diário Correio da Manhã e confirmada ao nosso jornal pelo responsável pelas unidades hospitalares públicas do Algarve.
A decisão será tomada na próxima reunião do Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos da Ordem dos Médicos (OM), depois de o Colégio de Cirurgia desta entidade ter emitido um parecer que recomenda a retirada da certificação para formar cirurgiões.
Pedro Nunes não espera outra decisão que não seja a perda da idoneidade formativa, «até porque há razões para isso», embora frise que essa decisão «cabe à Ordem dos Médicos».
«Houve aqui um descuido dos serviços, que não cuidaram bem dos seus jovens. Isto não coloca em causa a qualidade do serviço em si, apenas da componente pedagógica», salientou.
Caso a OM decida mesmo retirar a idoneidade formativa do Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro, irá produzir um relatório com recomendações do que deve ser alterado, para que a decisão possa ser revertida.
O presidente do CA do Centro Hospitalar do Algarve, que já foi Bastonário da Ordem dos Médicos, admitiu mesmo que, se ainda estivesse no cargo, a «decisão que tomava era pela idoneidade formativa do serviço».
A situação foi espoletada porque os três médicos internos que foram formados naquele serviço do Hospital de Faro e se apresentaram em abril deste ano ao exame da especialidade «não tinham currículo suficiente» e acabaram por reprovar. Ou seja, tinham escassez de «horas de cirurgia durante os anos de estágio, bem como de número de visitas e observação de casos clínicos».
O responsável pelo CHA assegurou que «não imaginava» que a componente formativa no Serviço de Cirurgia «estivesse assim» e acrescentou que a nova administração, «quando nomeou os novos diretores de serviço, avisou que a componente pedagógica teria de ser mais cuidada».
Até porque esta «é uma questão organizativa e nada tem a ver com a administração do centro hospitalar propriamente dita». «Esta é uma incúria de alguns anos, em que houve uma maior preocupação de alguns médicos seniores em fazer cirurgias, do que em ensinar os jovens», ilustrou.
Esta perda de certificação para formar novos médicos, além de temporária, não se estende aos outros serviços do Hospital de Faro nem afeta «de maneira nenhuma» o Mestrado Integrado em Medicina que é ministrado na Universidade do Algarve, acrescentou Pedro Nunes.