Depois dos Magalhães, podem vir a chegar às escolas portuguesas os Infantes. A invasão de pequenos robôs educativos made in Algarve ainda está a dar os primeiros passos, mas há potencial para convencer professores e crianças para uma forma de aprender divertida que desenvolve capacidades dos alunos em várias vertentes.
Mas o que são os Infantes? Os Infantes são pequenos robôs desenvolvidos por dois alunos da Universidade do Algarve, Bruna Carmo, mestre em Ensino de 1º e 2º Ciclo, e Mário Saleiro, doutorando em Engenharia Informática.
«A Bruna queria fazer um mestrado utilizando robótica educativa, mas, quando se fala disso, utilizam-se robôs da Lego que custam 300 euros. Há outros kits mas também são caros e não havia dinheiro para comprar os robôs. Ela falou comigo e eu já tinha a ideia de fazer uns robôs pequenos para outra aplicação, mas ainda não tinha tido tempo. Como tinha planeado alguma coisa, pensei que podia adaptá-los para fazê-los mais simples e baratos», contou ao Sul Informação Mário Saleiro.
E o objetivo foi atingido. Cada Infante tem um custo de produção de cerca de 10 euros e, segundo Mário Saleiro, em dois minutos fica pronto a ser utilizado na sala de aula, utilizando um minicomputador com um custo de produção também ele baixo (50 euros), que funciona como ponto de acesso para outros computadores.
«A única coisa que o professor tem de fazer, é ligar um cabo USB para alimentação, que pode ser um carregador de telemóvel. O computador (Raspberry Pi) inicia durante dois minutos, que é o tempo que os professores podem aproveitar para colocar as pilhas no robot, e fica a funcionar. A forma de controlar o robô também é fácil, através de um navegador da internet, arrastando blocos sem qualquer programação. O computador fornece a ligação wi-fi e pode ser controlado a partir de qualquer outro computador. A explicação dura mais dois minutos e as crianças ficam a brincar e a aprender durante duas ou três horas».
Mas o que ensina o Infante e o que é que ele faz? «O robô tem sensores para seguir linhas e detetar cruzamentos. É suposto navegar sobre uma folha branca com linhas pretas. Ele deteta a linha, que é como se fosse uma estrada e segue instruções programadas pelas crianças num navegador de internet. Quando chega a um cruzamento, segue essas indicações. A ideia era que pudesse ser usado por crianças, com 9 e 10 anos, algo que já foi testado, e vamos tentar com crianças mais novas».
As vantagens para os alunos são várias, segundo Mário Saleiro: «O objetivo é que crianças aprendam a pensar, criar raciocínio matemático, criar hipóteses, testá-las, perceber o que está bem e está mal e fazem-no sozinhas. Num dos testes que fizemos, os alunos fizeram um mapa onde assinalaram as serras de Portugal. Colocámos a folha transparente por cima com as linhas para o Infante seguir e tinham atividades com múltiplas soluções, por exemplo “vai do ponto x ao ponto y sem passar pelo ponto z”. As crianças tiveram de aprender onde são as serras para programar o robô, sem recorrer à memorização, tendo o interesse de aprender sozinhos. Além disso, como os grupos eram compostos por cinco crianças, cada uma, dependendo da sua própria localização, tinha uma solução diferente, porque tinham dificuldades em colocar-se na posição do robô. As crianças precisam de descentralizar-se delas próprias para ir para o robô. E, além do que tínhamos planeado, ainda desenvolveram conceitos de caminho mais curto, que faz parte do programa de matemática».
O feedback sobre os Infantes, nas primeiras apresentações públicas, tem sido bastante positivo. «Nas conferências de educação a que fomos, em todo o lado, todos estiveram interessados. Perguntavam quando podiam comprar, se ia disponibilizar para fazer em casa»…
Agora que o robô está construído e foi provada a utilidade, Mário Saleiro e Bruna Carmo têm que tomar decisões sobre o que fazer com este projeto. «Agora chega a parte difícil. Temos três caminhos: o primeiro seria criar uma empresa para comercializar os robôs – algo que estou um pouco de pé atrás por causa da legislação e testes ao equipamento, que custam caro, duram tempo e aos quais não me posso dedicar a 100 por cento devido ao doutoramento. O segundo, se houvesse alguma empresa que quisesse colaborar connosco. Continuaríamos envolvidos e essa parte burocrática seria desenvolvida por eles. O terceiro é mesmo libertar na Internet para toda a gente que queira construir um Infante. Talvez seja uma forma de chegar a mais pessoas», explicou Mário Saleiro.
O Infante já provou as suas capacidades, mas há potencial para desenvolvê-lo ainda mais. «Há upgrades que podem ser feitos, mas que podem vir a aumentar a complexidade. Por exemplo, criar uma aplicação para controlar os robôs via bluetooth a partir do telemóvel – o que eliminaria o mini-pc que atualmente está a ser utilizado – podem ser instalados sensores de luz, de temperatura… qualquer coisa. O custo aumenta, mas mesmo esses sensores custam cêntimos. Ainda não os tem, porque o tempo de desenvolvimento foi curto».
Mário Saleiro realça o pioneirismo deste projeto. «Em Portugal não existe. No estrangeiro há parecidos, mas sem toda esta simplicidade, pelo menos ainda não encontrei».
A utilização da robótica na educação tem vantagens motivacionais para a aprendizagem. «A Bruna ao utilizar a robótica, quis apostar nas tecnologias porque em casa as crianças têm Play Stations, telemóveis, computadores, tablets, televisão e chegam à escola encontram um quadro preto e giz, não há motivação. Tudo o que é divertido fica fora da escola».
O nome do Infante, esse foi escolhido inspirado no Magalhães. «Se as crianças têm um Magalhães em casa, por que não um Infante? Achámos que seria um bom nome para dar aos robôs. Os Magalhães e os Infantes podem vir a ser bons amigos!», concluiu Mário Saleiro.
Veja aqui o Infante em ação: