Enquanto nós por cá andamos um bocado fartos da Europa, com muita gente a achar que grande parte da nossa crise tem na sua origem algumas das coisas que resultam da nossa integração na União Europeia (UE), há países onde se fazem quase revoluções para defender a entrada na UE.
É o caso da Ucrânia, onde, desde há alguns dias, se sucedem as manifestações de cidadãos na sua capital, Kiev, a favor da entrada deste país na União Europeia, depois do presidente ucraniano ter anunciado o recuo nas intenções do país de se juntar à Europa que conta.
Na manifestação em Kiev, pelo que se pode ver nas imagens, são sobretudo os jovens que exigem a entrada da Ucrânia na União Europeia, considerando esse passo como decisivo para o futuro do país e para o seu próprio futuro.
E porquê esta defesa acérrima da entrada numa União Europeia que, todos o sabemos, até está com graves problemas? Porque esses ucranianos veem na Europa uma forma de manter a sua independência duramente conquistada e assim escapar ao jugo da Rússia, país que, apesar do fim da União Soviética, não abandonou as suas pretensões a dominar um império.
Ainda há alguns meses, quando estive em Estrasburgo na final do Euroscola, tive oportunidade de falar com duas professoras da Estónia, que me disseram exatamente isso: como a entrada deste país báltico na União Europeia tem sido fundamental para assegurar a independência em relação ao seu vizinho, a gigante Rússia.
No caso da Estónia, esse desejo de independência e de afastamento é ainda maior, já que, durante a época soviética, este povo que, pela cultura, etnia e língua, tem mais afinidades com a Finlândia, viu-se obrigado a esquecer e enterrar as suas raízes. O uso do estónio como língua foi mesmo reprimido, por ser expressão de um nacionalismo que a União Soviética não permitia. E só foi recuperado desde que o país voltou a ser independente, em 1992.
É por isso curioso que uma União Europeia que se encaminha cada vez mais para um federalismo, que aboliu as fronteiras e que, em muitos aspetos, corre o risco de esbater as diferenças culturais entre os países que a compõem, seja vista, de forma algo paradoxal, como o garante de alguns nacionalismos, garante da independência de países mais periféricos, como a Estónia ou a Ucrânia.
Por mim, apesar de todos os pesares, também vejo a União Europeia como um projeto muito positivo, do qual só poderemos tirar todo o partido se nos envolvermos a sério nesta construção europeia. E uma forma de o fazermos é participarmos, em maio de 2014, nas eleições para o Parlamento Europeu, que, em Portugal, estão marcadas para dia 25.