A Câmara de Loulé e a Universidade do Algarve firmaram um protocolo de cooperação entre as duas instituições, em áreas de interesse comum, nomeadamente científica, cultural, social, desportiva e ambiental, tendo em vista o desenvolvimento local. O documento foi assinado esta sexta-feira, durante uma reunião de trabalho entre o reitor da UAlg António Branco e o presidente da autarquia Vítor Aleixo.
«A cooperação com a Academia permitirá o desenvolvimento de ações coordenadas de atuação consubstanciada na troca de experiência, assim como na criação de conhecimento que beneficiará o território concelhio e nas suas comunidades», ilustrou a Câmara de Loulé, numa nota de imprensa.
Um protocolo que «representa a possibilidade de, num momento tão difícil, dois organismos assumirem a possibilidade de juntarem recursos e sonhos e fazerem alguma coisa em prol das pessoas», segundo considerou no encontro António Branco.
Este responsável deixou ainda uma palavra de apreço ao presidente da Assembleia Municipal de Loulé, Adriano Pimpão, antigo Reitor que o inspirou nas suas novas funções, e a Vítor Aleixo, que acredita ser um «autarca que irá deixar uma marca essencial no Concelho».
Sublinhando a importância desta cooperação, Vítor Aleixo referiu a vida académica como um modo de «acrescentar valor ao mercado de trabalho, que tão necessitado está de mais competências, de mais criatividade jovem, de mais capacidade inovadora e competitiva, e no fim da linha, de ter empresas mais fortes». Assim, para além de centros de saber, as universidades são nos dias de hoje «alavancas do conhecimento aplicado», considerou.
No entanto, na opinião do autarca, «as universidades não podem ficar confinadas a este espartilho em que o mundo económico-financeiro as coloca». «O seu papel e a sua postura deverão ser os da liberdade, da acérrima independência de ação, de pensamento e de autonomia, que não basta estarem consagrados pela via legislativa. Como espaço livre de criatividade e investigação, a Universidade não deve depender de ninguém a título privativo. Deve, antes sim, cuidar de preservar a universalidade da razão; do conhecimento, dos saberes e da cultura herdada», disse Vítor Aleixo.
Além de pedir «universidade descomprometida, não enfeudada ao poder ou à realidade ou pressão económica», o presidente da Câmara de Loulé defendeu que a ligação da Universidade às autarquias constitui «um espaço de liberdade de autonomia e de defesa do local» e, como tal, esta cooperação será uma oportunidade que não deverá ser desperdiçada.
Programa de Cooperação:
«De acordo com o programa de cooperação para o desenvolvimento local, a Universidade do Algarve, enquanto entidade agregadora do saber multidisciplinar, está em condições de contribuir para o conhecimento para realizar uma gestão mais harmoniosa do território, do património, das gentes de Loulé, para construir uma base sólida do futuro.
Face aos novos desafios resultantes da situação de crise, pretende-se criar uma aliança estratégica entre as duas instituições, que passa pela criação de um conjunto de protocolos destinados a outros tantos estudos com incidências em diferentes áreas da sociedade.
Assim, na área do comércio, face ao aumento do interesse por parte de grandes superfícies comerciais para se estabelecerem no Concelho de Loulé, que evidenciam e exigem a regulação por parte de quem gere o território, pretende-se que a UALG promova um estudo independente que situe o Concelho no contexto regional e crie condições para a tomada de decisões futuras, mais bem fundamentadas, no que toca aos locais de instalação de tais empreendimentos comerciais.
A crise no turismo em que o Algarve está mergulhado deve servir de propulsor para reposicionar Loulé, criando uma nova imagem de marca que a venha a distinguir das suas congéneres. Tal passa por potenciar os segmentos do Turismo de Negócios, de Natureza, do Gastronómico, de Saúde e Bem-Estar, das atividades náuticas, bem como na aposta séria e diferenciadora que o Hipismo pode representar.
Neste sentido, pretende-se uma abordagem sustentada e monitorizada sobre esta disciplina desportiva no Concelho, em particular nas competições de que Vilamoura tem sido o palco, para se compreender que políticas devem ser postas em execução a fim de potenciar uma atividade que pode contribuir para atenuar a sazonalidade da capacidade hoteleira instalada do litoral.
Esta cooperação passa também pela área social. Numa situação social alarmante, acentuada pelo desemprego crescente, o executivo municipal acredita que são necessárias políticas sociais numa perspetiva de prioridade absoluta. O plano de desenvolvimento social, que se encontra em fase de conclusão, necessita de estudos complementares de diagnóstico sobre as profundas desigualdades no Município. Para além das medidas que já se encontram desenhadas, a Autarquia quer ir mais além e, como tal, o executivo tem que tomar decisões e é importante que elas se alicercem em análises concretas e imparciais, a fim de evitar situações de injustiça nos apoios que pretende atribuir.
Ao nível dos serviços urbanos, pretende a Autarquia aprofundar e dar um entendimento que salvaguarde o Município das iniciativas associadas às privatizações que se preparam num horizonte não muito alargado. Nesse sentido, a cooperação com a UALG tem em vista a elaboração de um trabalho que ajude o Município a racionalizar e fazer um aproveitamento quer das redes servidas em ‘alta’ pelas Águas do Algarve, quer das captações próprias.
No que concerne ao património cultural, será realizado um trabalho sobre a vida e obra do António Santos, ilustrador entre muitas outras atividades, conhecido no meio artístico como Tossan, com o objetivo de valorizar um artista que muito diz ao Algarve e à própria Universidade. Ao nível do património religioso, o objetivo é produzir um trabalho em profundidade com vista a potenciar a divulgação das igrejas do Município, potenciando o aproveitamento turístico e um melhor conhecimento da arquitetura religiosa que atravessa os tempos. Este estudo pretende, igualmente, melhorar as condições para o acesso à cultura e ao património imóvel do Concelho.
Um das apostas deste executivo está na intenção de criar condições para o desenvolvimento das empresas que estão sedeadas no seu território e que têm base local. Quer através de estágios de natureza profissional, quer através de uma sistemática e permanente colaboração tecnológica e de investigação, a Câmara de Loulé pretende estabelecer/criar uma triangulação, entre o poder político, o mundo académico e o mundo empresarial, que prepare as empresas para a internacionalização, o que concorre para a sua solidez.
Finalmente, no que respeita à qualificação do espaço público, considerando a sua importância para a mobilidade, mas também para a qualificação do ambiente, para a melhoria da qualidade de vida dos munícipes, para a própria reconfiguração dos espaços, a Autarquia pretende que sejam desenvolvidos estudos pela Universidade do Algarve, que comprometam a dar novos sentidos ao espaço público, com vista a proporcionar um melhor bem-estar coletivo».