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O armador espanhol Naviera Armas quis retomar, este verão, o serviço do ferry entre Portimão-Madeira-Canárias, mas os entraves burocráticos foram tantos que acabou por desistir.

A informação foi revelada pelo comandante Monteiro Marques, da empresa de navegação que tem trabalhado em Portugal com aquele armador, durante a sessão-debate sobre potencial do mar do Algarve promovida ontem, no auditório do Museu de Portimão, pelo Sindicato dos Capitães, Oficiais Pilotos, Comissários e Engenheiros da Marinha Mercante (OficiaisMar).

«Este ano, o armador tentou voltar a fazer o verão aqui. Pediu autorização ao IPTM, mas a resposta foi que precisávamos de iniciar todo o processo desde o princípio. Seria uma tarefa ciclópica, tanto mais que, quando o armador aqui operou, levámos todo o ano de 2007 e 2008 a tratar das burocracias do processo».

Ou seja, se o armador tivesse de facto iniciado o processo para voltar a operar as ligações por ferry entre Portugal Continental e as ilhas da Macaronésia, durante a época estival, passava-se o verão e o serviço ainda não teria começado.

Monteiro Marques adiantou ainda as principais razões que levaram a Naviera Armas a acabar com este ferry, que operou entre junho de 2008 e janeiro de 2012, tendo transportado 100 mil passageiros e 50 mil viaturas, oferecendo uma ligação semanal ro-pax (para veículos e passageiros).

A última viagem do ferry «Volcan de Tijarafe», entre o Funchal e Portimão, aconteceu no domingo, dia 30 de janeiro de 2012, e a chegada do navio ao Algarve foi acompanhada pela reportagem do Sul Informação.

«Quando o serviço foi pensado, uma passagem de avião para o Funchal custava à volta de 400 euros e nós começámos por oferecer o serviço a 75 euros por pessoa. Depois, o avião baixou para 45 euros e nós fomos obrigados a subir para 95 euros. Qual é a pessoa que prefere passar 30 horas num navio, em vez de hora e meia de avião, ainda por cima com estes preços?», explicou Monteiro Marques.

«Nós até tínhamos os navios cheios com camiões e automóveis. Mas o transporte de passageiros representa 50% das receitas e, se não conseguimos isso, estamos a perder dinheiro».

Mas o golpe final foi dado pelos sucessivos aumentos das taxas portuárias no Funchal, bem como outros obstáculos que sempre foram colocados pelo Governo Regional da Madeira à operação deste ferry, que constituía a única ligação regular por via marítima daquela Região Autónoma ao Continente.

«Enquanto em Portimão só tivemos apoios, inclusivamente reduzindo as taxas portuárias e mesmo as taxas de pilotagem, na Madeira foram sempre problemas. As taxas portuárias no Funchal chegaram a ser dez vezes mais caras que as de Portimão», acrescentou o responsável pela empresa de navegação.

Em janeiro de 2012, quando foi suspensa a ligação, Javier Garcia, representante do armador espanhol Naviera Armas, tinha dito que carregar ou descarregar um reboque no porto do Funchal «custa aproximadamente 140 a 150 euros, enquanto nas Canárias custa 50 euros», acrescentando que, em 2011, a Naviera Armas pagou um milhão de euros em taxas portuárias na Madeira.

Ou seja, com os entraves burocráticos em Portugal Continental e a falta de interesse das autoridades da Madeira, não se prevê que a operação do ferry a partir de Portimão possa ser retomada em breve.

Apesar disso, do debate sobre “Caminhos para o Futuro dos Portos e seus Trabalhadores do Algarve”, promovido pela OficiaisMar, surgiu uma recomendação para que sejam criadas «ligações marítimas regulares», através de uma linha Portimão-Madeira-Canárias, num ferry que poderia até servir de «escola viva» para os futuros trabalhadores do mar, numa parceria entre a Escola Náutica Infante de Sagres, a Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve e a Universidade do Algarve.

Esta e outras recomendações que saíram do debate da OficiaisMar serão agora enviadas para os diversos ministérios e outros organismos com tutela sobre as questões do mar.

sulinformacao

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