O empreendimento turístico da Herdade dos Salgados, em Albufeira, é «um bom exemplo de como se pode utilizar os novos mecanismos de recuperação de empresas ao serviço da economia». As palavras são do ministro Pires de Lima, que ontem à tarde visitou este resort do Grupo CS, cujos hotéis são atualmente geridos pelo Fundo de Recuperação Turismo criado pela ECS Capital.
A visita do ministro da Economia teve como pretexto o mega-evento Global Training Experience 2014, promovido pela Daimler Mercedes, a decorrer naquele complexo até 12 de abril e que, em três meses, traz ao Algarve perto de 15 mil pessoas de todo o mundo.
«Esta Herdade estava parada há um ano», mas agora «depois de recuperada, está a ser totalmente utilizada», acrescentou Pires de Lima, sublinhando que a sua visita se destinou a «reconhecer este grande investimento e a aposta que uma grande marca, a Mercedes, fez em Portugal ao ter, durante 10 semanas, ocupado de forma sistemática mais de 1000 quartos» em plena época baixa.
No final da visita, que permitiu ao ministro apreciar, em passo rápido, os novos modelos das Classes C, GLA e S em comercialização em todo o mundo, Pires de Lima salientou que esta ação «corresponde a 40 mil dormidas em 10 semanas e mais de oito milhões de faturação de serviços por empresas que se dedicam, de alguma forma, a fornecer este evento».
Sublinhou, por isso, «o esforço dos empresários acionistas e do fundo que gere esta unidade, mas também daqueles que investem em Portugal, num momento tão determinante da nossa recuperação económica, como está agora a ser o caso desta muito prestigiada marca de automóveis alemão».
O titular das questões do Turismo frisou ainda que a «organização de eventos» desempenha «papel determinante para atenuar a sazonalidade da nossa época turística, nomeadamente no Algarve».
O ministro partilhou ainda o seu otimismo com a atual situação do turismo no país, salientando que «O Governo vê com muita satisfação a tendência de crescimento no setor do Turismo em Portugal», que atribui a «mérito das empresas» e a algum «apoio» do Governo.
«2013 foi o melhor ano turístico de sempre», repetiu, acrescentando que, em 2014, «Janeiro começa com um crescimento em dormidas e hóspedes na casa dos 10%».
Por isso, disse, «as perspetivas para o ano de 2014, do ponto de vista do Turismo, atividade fundamental da nossa economia, são francamente positivas».
Apesar do otimismo do governante, a verdade é que a captação deste mega-evento para o resort da Herdade dos Salgados, que, de outra forma, estaria fechado no Inverno, foi feita em regime de all inclusive, a um preço muito baixo. Isso significa que os 15 mil vendedores da Mercedes que rumam ao Algarve, vindos de todo o mundo, em grupos que permanecem quatro dias, praticamente não saem do resort, não gastando por isso em compras, restaurantes, bares ou passeios turísticos.
Na semana passada, em nota de imprensa, Mário Azevedo Ferreira, CEO do Grupo CS Hotels & Resorts, que detém a Herdade dos Salgados, tinha dito que, «pela sua dimensão, este evento vai ter um forte impacto nas estatísticas de turismo, não só no Algarve, mas nas estatísticas nacionais. Para além de ser uma importante ajuda para o emprego e para os fornecedores de Albufeira e do Algarve durante a época baixa».
No entanto, Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, que acompanhou o ministro na visita aos Salgados, ainda há duas semanas tinha considerado o regime de all inclusive como uma moda nefasta para o Algarve. Num debate sobre Turismo promovido pela CCDRA no âmbito da preparação do próximo período de programação de fundos comunitários 2014-2020, Desidério Silva tinha afirmado: «Não somos, nem podemos ser um destino all inclusive». E acrescentou: «mas também tenho muito receio da gestão da hotelaria feita pelos fundos de bancos».
No seio da visita relâmpago que o ministro da Economia Pires de Lima fez ao evento da Mercedes no resort da Herdade dos Salgados, entre sorrisos e passos rápidos, essas questões ficaram de fora.
