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São canhões, mas são submarinos. Estão carregados, mas de lixo e de detritos humanos.

A equipa liderada pelo biólogo Christopher Pham do IMAR, nos Açores, acabou de publicar os dados resultantes do seu estudo sobre a distribuição e densidade do lixo marinho nas águas europeias, desde as plataformas continentais às profundidades oceânicas e as descobertas são alarmantes.

Já se sabia que o plástico constitui a maior parte destes resíduos sólidos marinhos, de origem antropogénica, que povoam os oceanos. O lixo, de vários tipos e de várias fontes, está presente em todos os habitats marinhos desde as praias que frequentamos habitualmente até às mais remotas áreas oceânicas, e a sua acumulação poderá ter consequências graves, letais mesmo, para as mais variadas espécies marinhas.

O resultado deste trabalho indica, mais uma vez, a prevalência de plástico entre o lixo marinho e que este foi encontrado em todas as localizações amostradas, desde zonas junto a grande centros urbanos, como o golfo de Lion e o canhão de Lisboa, até zonas no meio do Atlântico a cerca de 2000 km da zona costeira mais próxima.

O estudo mostra também lixo encontrado em águas profundas (35 metros no golfo de Lion) mas também a grandes profundidades (4500 metros no canhão de Cascais). Mais: indica ainda que o lixo marinho se acumula preferencialmente nos canhões submarinos.

Portugal conta com importantes canhões submarinos, um dos quais – o canhão da Nazaré – considerado o maior da Europa, que criam condições oceanográficas únicas junto à nossa costa.

Parece agora demonstrado que estes canhões são verdadeiros sorvedouros de lixo, já que os de Lisboa e de Setúbal se encontram entre as localizações amostradas no estudo com maior densidade de lixo, e o canhão de Cascais nas localizações com uma densidade intermédia de lixo acumulado.

E isto não será de estranhar, já que se pensa que cerca de 70% do plástico não flutua, contrariamente à noção comum, mas que se afunda e se deposita no fundo do mar.

Assim, grandes acumulações de plástico são encontradas nas profundidades oceânicas, ainda que estas possam ser influenciadas por diversos fatores, tais como a geomorfologia, a hidrografia e as atividades humanas.

De qualquer forma, a proximidade à costa e aos centros urbanos parece ser particularmente importante. Ainda que se saiba pouco sobre o fundo do mar, parece claro que o lixo permanece nestas zonas por longos períodos podendo afetar de forma persistente todo o ecossistema marinho.

Os canhões submarinos da costa continental portuguesa parecem, assim, prontos a disparar contra a fauna marinha e o bem-estar dos ecossistemas.

 

Autora: Cristina Brito
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Referência do artigo
Pham CK, Ramirez-Llodra E, Alt CHS, Amaro T, Bergmann M, et al. (2014) Marine Litter Distribution and Density in European Seas, from the Shelves to Deep Basins. PLoS ONE 9(4): e95839. doi:10.1371/journal.pone.0095839, http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0095839

 

 

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