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O “PS ganha as eleições, mas não por muito”, acredita o antigo Presidente da República e líder socialista Mário Soares, para quem “há muitas condições para que este mês de maio seja um mês extraordinário. Estou convencido que vai ser um mês que nos vai dar muitas surpresas”.

Mário Soares foi o primeiro convidado do ciclo “Grandes Testemunhos”, iniciativa que irá receber em Loulé, nos próximos meses os ex-Presidentes da República eleitos democraticamente. Trata-se de mais uma iniciativa da Comissão Concelhia para as Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.

Tendo como mote a Revolução de Abril, esta conversa com uma das mais importantes figuras portuguesas do século XX ficou marcada pelo atual panorama político nacional e europeu já que Mário Soares mostrou-se mais interessado “pelo futuro do que pelo passado”. Nesse sentido, as eleições europeias, que decorrem no dia 25 de maio, foram uma das principais questões abordadas por este político.

Com duras críticas em relação ao Governo de coligação PSD/CDS e das figuras que dele fazem parte, o antigo Presidente da República disse que, neste momento, “este Governo está complemente desorientado” e que “o Portas e o Passos Coelho odeiam-se”.

“O Governo não fala com o povo, não há nenhum ministro que saia à rua sem ser vaiado”, referiu, adiantando que “é importante que todos os portugueses conscientes percebam que o voto é a arma do povo”.

A destruição do Estado social, os problemas na educação, nomeadamente as universidades “que estão paradas e não são respeitadas”, o encerramento de escolas primárias, o empobrecimento dos serviços de saúde, a privatização dos CTT, o aumento da emigração, os cortes nos salários e pensões são alguns reflexos destes “três anos de destruição total”.

Também o entendimento à esquerda e, em particular, com o Partido Comunista Português, mereceu uma nota negativa para o orador convidado deste “Grandes Testemunhos”. “Há uma grande dificuldade em os partidos de esquerda se entenderem mas era importante que houvesse essa ligação. Não faz sentido que o PS não seja capaz de se entender com o Bloco de Esquerda e, sobretudo, com o PCP”, salientou, apontando críticas aos comunistas que, nos pós-25 de Abril, quiseram tornar Portugal numa “Cuba do Ocidente”, constituindo uma ameaça para a “détante” que os soviéticos queriam manter com o Ocidente.

Relativamente à crise europeia, Soares aponta os mercados e quem os utiliza para seu benefício como os culpados da situação e encontra uma solução: “Se o Banco Central Europeu fabricasse euros, a crise acabaria”.

Apesar de tudo, manifesta otimismo quanto ao futuro dos jovens portugueses: “Este Governo vai abaixo e tudo muda. Acho que os jovens vão ter a sorte de assistir a esta transformação e vão participar nela”, disse ainda.

Esse otimismo do antigo estadista estende-se também toda a Europa e às políticas que têm sido encabeçadas por Angela Merkel. “Vai ter que haver uma mudança porque senão acabamos todo no abismo, incluindo a Alemanha”, concluiu.

Ao longo da sua intervenção, Mário Soares falou ainda daquelas que considera serem as duas grandes figuras do mundo atual: Barack Obama, por ter criado um sistema social de doença, e o Papa Francisco, pela “sua consciência social e proximidade com os pobres”

 

Da prisão ao melhor dia da sua vida

“O melhor dia da minha vida!”. Foi desta forma que aquele que foi um dos opositores ao regime de Salazar e, depois, de Marcelo Caetano, se referiu ao dia 25 de Abril de 1974. “Fui muitas vezes preso mas aguentei-me bem nas prisões”, disse Mário Soares, falando também de todas as influências na sua formação e que mais tarde o levariam à política, desde o pai, passando pelo filósofo Agostinho da Silva, Álvaro Salema e Álvaro Cunhal, “um homem muito inteligente, mas sectário”, e que o levaria também a fazer uma incursão no Partido Comunista na sua juventude.

Quando questionado pelo público sobre a descolonização, o orador frisou que “todas as guerras estavam perdidas e a ONU e todos os países achavam que o colonialismo estava acabado”. Mas em resposta às críticas sobre a forma como decorreu o processo, Mário Soares foi bem claro: “Temos a lusofonia, a mesma língua, isso é mais importante do que todo o dinheiro do mundo”.

Relativamente às celebrações do 40º aniversário do 25 de Abril, Mário Soares, que participou nas celebrações em Lisboa, no Largo do Carmo, junto aos capitães, enalteceu a adesão do povo, de norte a sul do País, que compareceu em massa, e explica esta manifestação popular: “O 25 de Abril foi traído com este Governo e as pessoas acham que é preciso liquidar este Governo”.

O Ciclo “Grandes Testemunhos” prossegue no dia 6 de junho, com a presença de Ramalho Eanes.

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