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São três projetos distintos, mas com pontos em comum. A originalidade dos serviços que oferecem, a vontade de marcar Faro no mapa do Algarve e de Portugal, e marcar também quem os visita distingue a Venda, Os Artistas e a Casa d’Alagoa – Faro Hostel.

Em entrevista ao programa Impressões da RUA FM, em parceria com o Sul Informação, Ana Fonseca e Vasco Prudêncio, de A Venda, Pedro Bartilotti, d’Os Artistas, e Diogo Perry, da Casa D’Alagoa – Faro Hostel, falaram de uma mudança em curso na cidade de Faro para a qual eles estão a contribuir.

A Venda oferece a quem os visita uma viagem no tempo e ao imaginário da “casa da avó”. Ana Fonseca e Vasco Prudêncio tiveram a ideia há cerca de dois anos.

“Queríamos uma casa de petiscos que fosse uma mercearia e uma mercearia que fosse casa de petiscos, mas muitas das coisas foram sendo pensadas à medida dos obstáculos que íamos enfrentando. Nós até pensámos que a mercearia teria maior pendor e a casa de petiscos seria um suporte, mas as pessoas usam mais a venda para ir petiscar, beber um copo de vinho, desfrutar do espaço e acabam por levar uns produtos de mercearia. Até começámos com horário de mercearia e tivemos que nos adaptar. Durante a semana mantemos esse horário, mas ao fim de semana já damos oportunidade às pessoas de ir lá jantar”, contou Ana Fonseca.

A originalidade do projeto também foi tida em conta desde o início. Segundo Vasco Prudêncio, “a nossa ideia era fazer algo que não existisse em Faro. Colocámo-nos do ponto de vista do consumidor para dar-lhes um espaço que não fosse igual aos outros”.

Originalidade é algo que também sempre marcou Os Artistas. Ao contrário de A Venda, recém-criada, os Artistas já existem enquanto espaço de promoção de espetáculos e bar há 20 anos e são uma referência em Faro no mundo artístico. Os tempos mudaram, a cidade mudou, mas o espaço adaptou-se às circunstâncias.

“Não vou negar que há cinco ou dez anos era mais fácil, com a febre das Fnacs os artistas vinham cá tocar e depois para rentabilizar a vinda tocavam aqui. Tivemos grupos que seria impossível virem cá tocar sem ser dessa forma, mas a febre da Fnacs passou e trazer grupos de fora com algum nível tem-se tornado mais complicado. Mesmo assim, nos últimos três anos trouxemos Mazgani, B Fachada, projetos com poucos músicos. É preciso fazer as parcerias certas com as pessoas certas porque agora sabemos que precisamos todos uns dos outros nalgumas áreas”, explicou Pedro Bartilotti.

Em relação ao público e a Faro, a situação também se alterou, mas a nova “fase” da cidade é encarada com otimismo. “Agora há uma menor participação dos universitários, há dez ou quinze anos havia maior afluência, acho que isso tem a ver com a massa crítica. Em termos musicais, preferem coisas mais populares e de fácil assimilação, mas temos, em contrapartida, estudantes de Erasmus e de outras associações internacionais”, disse Bartilotti.

“Em relação à cidade, nestes últimos dois anos, tem havido uma dinâmica muito grande em termos de abertura de espaços e tem sido engraçado, porque parece que estamos a voltar ao tradicional e ao típico. Em termos arquitetónicos, por exemplo, o hostel [Casa d’Alagoa] é uma casa com cerca de 200 anos, e a própria Venda também é uma casa antiga [1833]. Parece que as pessoas estão um bocado enjoadas do modernismo e procuram um maior contacto com as origens, com as histórias dos avós e dos pais. N’Os Artistas já tivemos artistas que vão expor e nos proíbem de tirar teias de aranha”, acrescentou Pedro Bartilotti.

A Casa d’Alagoa foi o primeiro hostel a abrir em Faro, decorria o ano de 2011, uma aposta arriscada num mercado inexplorado na cidade.

“Quando decidimos que íamos ser o primeiro hostel em Faro, havia um risco, porque o facto de não haver nenhum, podia significar que hostéis aqui não vingam. Fizemos as nossas contas, e com o aeroporto aqui e com o facto de haver ligação para Lisboa e Sevilha, mostrou ser um ponto interessante. A outra vantagem era a casa, a arquitetura muito própria podia fazer a diferença ao nível do tipo de ambiente e do impacto nas pessoas”, contou Diogo Perry.

A aposta acabou por revelar-se acertada e o potencial reconhecido na cidade confirmou-se.

“Eu conhecia muito mal Faro, mas quando vim aqui para avaliar a cidade, percebi que tem um potencial tremendo, muita coisa para oferecer, desde a arquitetura, ao património, que considero ser o número um no Algarve neste aspeto, a Ria Formosa e as praias. Aqui, em Agosto, é possível ter uma praia deserta, quando no resto do Algarve há praias sem espaço para colocar uma toalha, atafulhadas de gente. Temos hóspedes que voltaram a Faro, vezes sem conta, por gostarem da cidade”, contou Diogo Perry.

Faro não é uma cidade turística, pelo menos tendo em conta o padrão algarvio, mas isso acaba por ser um ponto positivo para o hostel.

“O facto de ser uma cidade não muito turística faz com que seja mais genuína, mostra os portugueses como eles são, não há tourist traps – casas de souvenirs ou restaurantes caríssimos. Os nossos hóspedes procuram este tipo de experiências e não os resorts e hotéis de quatro estrelas. Não procuram chegar a um sítio tipo Albufeira, que desaconselhamos porque não é o tipo de registo que procuram, não tem carisma, tanto faz ser aqui como em Espanha. Não é português. Chegam a Faro e querem ouvir dicas, querem saber o que é viver aqui”.

Apesar de não ser um destino de sol e praia, Faro também sofre com a sazonalidade, um problema que pode ser minimizado, segundo Diogo Perry, com a criação de atividades para quem visita a cidade.

“Há uma grande quantidade de hostéis que está a aparecer na cidade. Quando trabalhámos sozinhos no primeiro inverno, já foi difícil, e agora é ainda mais, porque já existem seis hostéis. No verão, todos estamos bem, mas no inverno todos estamos mal e é difícil. Já sabemos que vão abrir mais hostéis. Toda a gente que tem um prédio, vai abrir um hostel”, lamenta o empresário.

“Porque não abrir um serviço para os hóspedes? Viagens de barco ou restaurantes como a Venda, ou eventos. Toda a gente se foca em ter o alojamento, mas ninguém se foca em dar experiências a estas pessoas para ficarem cá. É uma grande oportunidade de mercado que não está a ser explorada. Existe um grande potencial para Faro crescer a nível de turismo. Falta muita coisa à cidade, mas já noto algumas alterações. Há projetos muito interessantes a aparecer”, conclui Diogo Perry.

 

Jantares às cegas e outras ideias

Consolidados no presente, A Venda, Os Artistas e a Casa d’Alagoa procuram manter e melhorar a oferta, para isso preparam iniciativas e parcerias, inclusive entre eles.

No caso da Venda, todos os meses há um jantar às cegas, no primeiro sábado de cada mês. Ana Fonseca explicou o conceito: “Publicamos a ementa no Facebook e as pessoas não reservam mesas, mas sim cadeiras. Há pessoas que também vão em pequenos grupos, mas há uma disposição muito própria pois sabem que vão para um jantar com gente que não conheciam antes. Temos tido noites maravilhosas, há pessoas que não veria a falar na rua, mas sentam-se na mesma mesa, falam e riem numa noite divertida”.

“Lançámos também a marmita, que permite aos clientes ir buscar a nossa oferta ao fim do dia. Não queremos ser a casa de petiscos ou a mercearia, queremos que as pessoas levem o nosso conceito porta fora e, nesse sentido, temos coisas preparadas. Pode ser interessante para nós trabalhar com hostéis. Em junho vamos estrear-nos fora de portas, vamos estar no Festival MED, depois, quem sabe, por outros festivais em Faro”, acrescenta Ana Fonseca.

A Casa d’Alagoa habituou os seus hóspedes a visitar sítios onde nunca chegariam sozinhos: os Artistas é um desses locais. Mas esse não é o único ponto em comum entre os projetos de Pedro Bartilotti e a Casa d’Alagoa.

“Faz falta uma maior divulgação das atividades culturais. Não é fácil encontrar informação. Quem vem cá, ou sabe o que procura, ou não encontra nada. Este ano estamos a criar uma rede de contactos, e o Pedro [Bartilotti] tem-nos ajudado nisso, a ligar com pessoas que possam ter projetos interessantes para ambas as partes. Por exemplo, no ano passado, disse ao Pedro que queria estar envolvido no Festival Adentro. Vi o potencial que tem e, para o ano, vamos ver se consigo envolver os hostéis nesse evento. Queremos estar envolvidos no que tem potencial para nós e para a cidade”.

Trabalhar em conjunto, em parceria, para tornar a cidade de Faro ainda mais atrativa para quem lá vive ou a visita, é por isso um objetivo comum.

 

 

sulinformacao

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