«Para um concelho que vive do turismo, a informação meteorológica é fundamental», diz Bruno Gonçalves, engenheiro de ambiente da Câmara Municipal de Lagoa e responsável pelas duas estações meteorológicas do projeto municipal MeteoFontes.
«Os residentes, os turistas que cá estão ou querem vir cá, as embarcações marítimo-turísticas, as pescas, todos podem usar os dados das nossas estações nas suas atividades. Esses dados são também uma boa promoção para o turismo, porque qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, pode ficar a conhecer as condições do tempo em Lagoa, bastando para tal aceder aos dados que disponibilizamos na internet», acrescentou este meteorologista amador, que confessa ter uma verdadeira «paixão desde miúdo» pelos fenómenos do tempo e do clima.
Para completar a rede do projeto Meteofontes, na passada segunda-feira, dia 23 de Junho, foi inaugurada na Escola Básica de Carvoeiro a segunda estação meteorológica, a MeteoFontes Litoral.
A primeira estação, que deu origem ao projeto MeteoFontes, foi instalada em 2009 no Parque Municipal do Sítio das Fontes, perto de Estômbar, no interior do concelho.
Lagoa é, assim, o único município algarvio a fornecer aos seus moradores, turistas, empresas e até investigadores dados sobre o tempo que faz e previsões meteorológicas diárias, atualizadas logo pela manhã.
Na verdade, a escola primária de Carvoeiro, situada no promontório junto à praia, onde se erguem a ermida e o forte de Nossa Senhora da Encarnação, já dispunha de uma estação meteorológica, «doada pela Universidade do Algarve», mas que este Inverno «se avariou, talvez devido a uma descarga elétrica durante os temporais», contou Bruno Gonçalves ao Sul Informação.
Foi por isso necessário comprar novo equipamento, que entrou em funcionamento em Maio e foi inaugurado oficialmente na passada segunda-feira. A nova estação custou cerca de 2000 euros, mas o trabalho de instalação, no servidor e no site do MeteoFontes foi todo feito por prata da casa.
Dados meteorológicos úteis para a sociedade
O concelho de Lagoa não é muito grande, mas os dados fornecidos pela rede MeteoFontes indicam que as condições meteorológicas são bem diferentes, entre o interior e o litoral, apesar da curta distância de menos de seis quilómetros que separam as estações do Sítio das Fontes e do Carvoeiro. No dia em que a reportagem do Sul Informação visitou a nova estação, na passada terça-feira, às 10h00, no litoral a temperatura era de 19ºC, enquanto no interior atingia perto de 24ºC.
«No sítio das Fontes já temos dados desde 2009, que nos indicam que há aqui um microclima, com temperaturas mais quentes nas máximas e mais baixas nas mínimas que a normal de Faro, enquanto no Litoral as temperaturas são semelhantes à normal de Faro, explica Bruno Gonçalves.
Além de poderem servir para os moradores, turistas e empresas, os dados do projeto MeteoFontes podem ainda ser úteis até para as tarefas de ordenamento do território, explica o engenheiro de ambiente.
«Saber que quantidades de precipitação é que causam inundações e onde as causam poderá ter implicações no ordenamento e na gestão do território», exemplifica.
Mas o projeto MeteoFontes é também um instrumento importante na estratégia de educação ambiental promovida no Parque Municipal do Sítio das Fontes. Os visitantes, na sua maioria alunos de escolas do concelho e do resto da região, podem não só aprender como funciona uma estação meteorológica e para que serve, como quais os dados que se podem obter, as características do clima e do tempo que faz. Para Bruno Gonçalves, que se apaixonou pela meteorologia «em miúdo, talvez ao ver as trovoadas», a vertente educacional do projeto é muito importante.
Estações meteorológicas amadoras no Algarve
Em todo o país há perto de duas centenas de estações meteorológicas amadoras, das quais cerca de uma dezena se situam no Algarve – as duas do MeteoFontes, e ainda em Algoz, Almancil, Albufeira, Aljezur, Lagos, Quarteira e Portimão (na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes).
Na sua maioria, são operadas por particulares que se interessam pelo tema ou por escolas. Por isso, Lagoa é a única Câmara Municipal a operar duas estações meteorológicas, cujos dados disponibiliza na internet para uso público, embora há poucos anos tenha sido instalada uma pela Câmara de Loulé, no Parque Ambiental da cidade, mas que, se está a funcionar, nunca disponibilizou os seus dados ao público.
Bruno Gonçalves, que é também um dos fundadores da Troposfera – Associação Portuguesa de Meteorologia Amadora, criada em Abril, revelou ao Sul Informação que um dos projetos da nova associação é «estabelecer uma rede de estações amadoras certificadas pelo IPMA», o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que é a entidade oficial portuguesa na área da meteorologia. As estações da MeteoFontes estão desde já na linha da frente para essa certificação, acrescentou.
Webcam para vigiar o mar
Mas os projetos da MeteoFontes não se ficam pelas duas estações já a funcionar. «A curto ou médio prazo», o objetivo é instalar uma webcam (uma câmara de vídeo que disponibilize as suas imagens online, em tempo real), voltada para o mar, em Carvoeiro.
Mais uma vez, isso será útil para moradores, turistas e empresas, que assim poderão saber a todo o momento qual o estado do mar, através de uma simples espreitadela ao site da MeteoFontes, mas poderá também ajudar em situações de fenómenos meteorológicos extremos, se não a tomar medidas de prevenção, pelo menos a recolher dados sobre o que se vai passando.
«Se já tivéssemos essa webcam instalada, no dia do tornado tínhamos conseguido vê-lo aproximar-se e talvez pudéssemos ter feito alguma coisa, como avisar as autoridades, por exemplo», disse Bruno Gonçalves.
A webcam estará voltada para Sul, não só porque é a aí que situa o mar, mas também porque é preciso «monitorizar o que vem de Sul, que são as condições mais adversas». No Inverno passado, se a câmara já estivesse instalada, também teriam ficado registadas as ondas gigantes que provocaram estragos avultados na praia e no largo do Carvoeiro.
Os projetos do MeteoFontes ainda vão, porém, mais longe, embora algumas das iniciativas não sejam para concretizar de imediato. «Seria bom complementar o projeto com a instalação de um detetor de raios. Existe uma rede europeia, a Blitzortung, que em Portugal tem apenas seis detetores, instalados por particulares. São precisos oito para um maior grau de deteção. Esta rede seria para complementar a rede do IPMA (que tem três detetores, julgo)», diz o meteorologista amador.
E para que serve uma rede de detetores de raios? «Para disponibilizar em tempo real as descargas atmosféricas que vão ocorrendo». Sim, e depois, para que serve isso? Para além do interesse científico, Bruno Gonçalves salienta que, em termos práticos, «pode ter interesse para algumas atividades, como o golfe, por exemplo. Os golfistas são das pessoas que mais são atingidas por raios, muitas vezes provocando a sua morte». Se se souber que se aproxima um temporal com muitos raios e coriscos, pelo menos os golfistas dos campos da zona de Lagoa poderão ser avisados a tempo.
Já agora, clique aqui e fique a saber qual tempo que faz hoje, segundo o MeteoFontes.