Os sindicatos dos Enfermeiros e da Função Pública, apoiados pela União de Sindicatos do Algarve (Usal), ameaçam partir para a greve, ainda este Verão, em prol de «mais e melhores serviços públicos de saúde de qualidade no Algarve». Os médicos, apesar de estarem ao lado dos outros profissionais de saúde, não prometem acompanhar a paralisação.
A possibilidade de ser marcada, para breve, uma «greve dos serviços de saúde do Algarve» foi avançada numa conferência de imprensa conjunta dos Sindicatos dos Enfermeiros, dos Médicos, da Função Pública e da Usal. Uma iniciativa que teve como objetivo «reforçar as necessidades de reforço» antes denunciadas e «revelar falhas entretanto apuradas».
A decisão final sobre as formas de luta a adotar, como protesto contra a falta de recursos humanos, de condições de trabalho e meios materiais, naquilo que consideram um ataque deliberado ao Serviço Nacional de Saúde, para benefício do setor privado, será tomada após os plenários de trabalhadores a realizar a 8 de agosto, no Hospital de Faro, e no dia 11 deste mês, em Portimão e Lagos.
Se da parte da generalidade dos representantes sindicais há a convicção de que os profissionais irão concordar com esta forma de luta, a dirigente do Sindicato dos Médicos Margarida Agostinho já se mostra mais reticente, devido à proximidade com a greve dos médicos, a nível nacional, que teve lugar a 8 e 9 de julho. «Ainda estamos indecisos e teremos de auscultar os nossos colegas, em plenário», disse.
Além dos plenários com os trabalhadores, as quatros estruturas sindicais reunir «com comissões de utentes, autarcas e outras organizações, no sentido de, em conjunto, se desenvolverem iniciativas em prol do SNS no Algarve».
Nuno Manjua: “Os mesmos têm agora de trabalhar mais. Há a imposição de fazer bancos de horas. Trata-se de trabalho extra, forçado, e, muitas vezes, não pago”
A falta de resolução dos problemas antes identificados, mesmo depois do reconhecimento por parte do Ministério da Saúde das carências da região, nomeadamente ao nível de recursos humanos, são uma das justificações dadas para a ameaça de «outras formas de luta».
A ARS do Algarve admite que faltam 823 profissionais de saúde nas diferentes unidades de saúde públicas da região, mas os sindicatos garantem que os números são mais elevados e ultrapassam os 1100, nomeadamente, «350 enfermeiros, 300 médicos, 300 assistentes operacionais (auxiliares) e 150 assistentes técnicos».
Apesar disso, salientam, apenas foram abertas 45 vagas para enfermeiros, para o Centro Hospitalar do Algarve, e 100 vagas para médicos. Uma situação que os sindicatos estranham, tendo em conta que as carências oficialmente admitidas são bem superiores e do facto, admitido pelo próprio ministro, de que «a maioria das vagas para médicos iriam ficar por preencher».
«Se assumem, igualmente, a carência de outros profissionais de saúde, porque não foram abertas vagas? Será que é por saberem que estas não ficariam por preencher?», questionou o dirigente do SEP, a nível regional, Nuno Manjua.
Há profissionais «no limite da resistência» por excesso de trabalho
A falta de profissionais está a levar a que, em alguns serviços, as pessoas estejam «no limite da resistência», devido às muitas horas de trabalho.
Segundo Maria Brites Nunes, do Sindicato da Função Pública do Sul e Açores, «há assistentes operacionais a fazerem turnos de 16 horas, recorrentemente», nomeadamente em Serviços de Urgência Básica, e que, mesmo assim, tem havido ocasiões em que não há qualquer profissional desta categoria escalado para os turnos.
A prestação de mais horas de trabalho do que as oficiais é um problema transversal às diferentes profissões. «Os mesmos têm agora de trabalhar mais. Há a imposição de fazer bancos de horas. Trata-se de trabalho extra, forçado, e, muitas vezes, não pago» denunciou Nuno Manjua.
O dirigente do SEP acusa os responsáveis pela saúde, na região, de «fugir à lei, para tentar compensar a carência» de profissionais de saúde à disposição. Esta situação, alegam, atenta contra a segurança dos doentes, devido ao cansaço acumulado.
Para o presidente da USAL António Goulart, toda esta situação está ligada a uma «estratégia de fragilização do SNS, para beneficiar o setor privado e preparar a privatização».
«Estão a criar as condições para que os profissionais deixem o setor público. Por outro lado, o setor privado floresce com esta situação», acrescentou Nuno Manjua.