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teatro senior_01Desenrolando a ponta de um lençol vermelho de cetim, os quatro atores, dois homens e duas mulheres, sussurram de prazer e acabam deitados no chão. Esta é apenas uma cena, talvez a mais sensorial – ou até sensual – de todo o espetáculo.

O espetáculo, que tem teatro, dança e música, chama-se «Amor Meu» e estreia-se esta tarde, às 16h00, no Grande Auditório do Teatro Municipal de Portimão (TEMPO). Amanhã, sábado, 27, às 16h00 e às 21h30, haverá mais duas representações desta que é a atual produção do Grupo de Teatro Sénior de Portimão, este ano tendo como encenadora Rita Rodrigues.

E do que fala «Amor Meu»? Fala sobretudo do primeiro amor: «Se vasculharmos na nossa memória, todos temos um primeiro amor. Pode ser um amor à primeira vista no autocarro. Pode ser um amor da nossa infância. Poder ser um amor à janela. Pode ser um amor num baile. Pode ser por bilhete ou por carta. Ou então, pode ser um amor por um contrabandista de Elvas que dança melhor do que ninguém. Pode ser por aquele ator que em cena era tão bom namorado. Pode ser pelo rapaz da oficina com aqueles olhos grandes. Pode ser pelo vizinho tímido. Ou pelo rapaz a quem abri a porta na festa. Ou mesmo pela rapariga com quem choquei na rua. Pode acabar mal, quase sempre acaba. Pode, até, nem nunca ter começado. Pode não ser o mais marcante. Pode até já ter sido esquecido… Será?»

Rita Rodrigues, que pela primeira vez encena um espetáculo do Grupo de Teatro Sénior de Portimão, explicou ao Sul Informação que «o tema foi escolhido por mim, também como uma forma de conhecer melhor os atores. É um tema universal para os mais velhos e para os mais novos, todos passamos por um primeiro amor».

teatro senior_02António Bárbara Correia, ou antes, ABC, como é conhecido o mais «experiente» ator do Grupo, com os seus 84 anos, acrescentou: «já era tempo de falarmos do amor».

E será então sobre o amor, as suas memórias, os seus cheiros, as músicas que o acompanharam, as danças, as marcas no corpo e na mente, que este «Amor Meu» vai falar. Os 13 atores do grupo, pessoas com histórias pessoais e percursos de vida diversos, com idades entre os 61 e os 84 anos, andam a trabalhar com a encenadora desde Abril. Os ensaios começaram por ser «uma vez por semana, depois duas vezes, três, quatro, e agora tem sido a loucura, todos os dias, de manhã e à tarde».

Tendo em conta que alguns destes atores amadores já estão habituados, ao fim de sete anos a participarem no projeto do Grupo de Teatro Sénior promovido pela Junta de Freguesia de Portimão, será que ainda têm «nervoso miudinho» antes de subirem ao palco? «Ui…até nos ensaios estou nervosa…nem sei como vai ser quando subir ao palco», responde uma das senhoras do grupo.

A peça, explica Rita Rodrigues, «foi construída através das suas próprias histórias e dos seus próprios textos, muitas vezes a partir de improvisações. Também na dança se fez o mesmo: pegámos nos movimentos que os atores faziam e fomos trabalhando a partir daí, construindo as coreografias».

Porque o espetáculo parte muito das histórias e memórias pessoais ou de amigos e familiares próximos dos atores, o processo de construir um texto que parte dessas vivências foi, por vezes, doloroso. «Havia atores que ficavam lavados em lágrimas e diziam que não conseguiam dizer aquelas coisas em palco ou recordar aquelas histórias», conta Susana Lopes, técnica do TEMPO e responsável pelo «Apoio ao Movimento», ou seja, pela dança e coreografias em palco.

teatro senior_09A questão é que, além do primeiro amor, normalmente uma recordação grata para todos, a peça trata «de um assunto que ainda é tabu na nossa sociedade, que é a forma como a chamada terceira idade vive a sexualidade». Envoltos no lençol vermelho de cetim, é disso que os quatro atores irão falar, de forma corajosa, perante o público, nos três espetáculos no TEMPO.

Noémia Marques é a estreante do ano no Grupo de Teatro Sénior. «Nunca me passou pela cabeça entrar assim num grupo de teatro. Mas o Fernando [Domingos] começou a buzinar, a buzinar, e eu acabei por entrar. Agora gosto muito, muito mesmo, e já estou a ficar com saudades, porque com estes espetáculos isto vai acabar…».

Mas será que acaba mesmo? No ano passado, o espetáculo do Grupo de Teatro Sénior de Portimão fez uma digressão pelo Algarve, tendo-se apresentado em Vila do Bispo, Sagres, Lagoa, Ferragudo, Messines, Olhão, São Brás, entre outros locais.

Este ano, os 13 atores e a sua encenadora, bem como toda a equipa técnica de apoio, esperam levar a peça de novo a outras localidades, na região e fora dela. «Gostávamos que, além de voltarmos a apresentar-nos noutros sítios, houvesse também um intercâmbio com outras companhias seniores do país», como a do Centro Cultural de Belém, que em 2011 esteve no TEMPO em Portimão, diz Rita Rodrigues.

teatro senior_10«Isto é muito trabalho, muito esforço que nós fazemos aqui ao longo de meses, para acabar em três espetáculos em Portimão», acrescenta ABC.

O Grupo de Teatro Sénior é uma iniciativa da Junta de Freguesia de Portimão, que agora culmina com os três espetáculos, hoje e amanhã, no TEMPO, no âmbito da Semana Sénior promovida por aquela autarquia.

Tem como objetivo «promover o desejo daqueles que sentem apetência para fazer teatro, permitindo o desenvolvimento da autonomia, da sociabilidade, do espírito de cooperação e do trabalho em equipa. Esta atividade visa contrariar as adversidades da vida, combater a solidão e envolver os mais idosos em atividades de criação artística».

Desde 2011, que o Grupo de Teatro Sénior tem como casa o Teatro Municipal de Portimão, onde ensaia e apresenta os seus espetáculos finais. Além da encenadora, contratada pela Junta de Freguesia, o trabalho do grupo sempre contou com o apoio e o empenho de técnicos do TEMPO. «Acabamos por ser todos amigos», garante Paulo Santos, que faz a assistência aos ensaios.

E os técnicos do TEMPO envolvem-se tanto que até há quem se lesione, como Susana Lopes, responsável pela dança, que sofreu uma entorse ao ensaiar com os atores bem mais idosos que ela um tango fogoso. «Antes eu que eles», diz Susana, caminhando com a ajuda de duas canadianas para proteger o pé lesionado.

«É um projeto da comunidade que nós acarinhamos, que faz parte da nossa missão enquanto teatro deste território e para o qual gostaríamos até de ver outros voos», sublinha João Ventura, diretor do TEMPO, em declarações ao Sul Informação.

 

FICHA TÉCNICA:
Direção e encenação: Rita Rodrigues
Intérpretes: António Bárbara Correia; Alberto Alcobia; Armando Henriques; Corália Moreira; Fernando Domingos; Isabel Piecho; Jigolete Júdice; Lurdes Santos; Maria José Beringel; Noémia Marques; Olga Alcobia; Rosa Santos; Zaida Cruz
Assistência de ensaios: Paulo Santos
Apoio ao Movimento: Susana Lopes
Desenho de Luz: António Ribeiro
Edição sonora: Miguel Correia
Um projeto da Junta de Freguesia de Portimão

 

 

 

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