2014 é o ano em que se assinalam os 100 anos da Primeira Guerra Mundial, e os 25 anos da queda do muro de Berlim. Duas datas que parecem condensar toda a história do século XX. Entre estes dois momentos, a Europa experimentou tudo, desde a violência mais bárbara à mais utópica das euforias.
A queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, fez-nos acreditar no fim de todas as fronteiras e na construção de uma Europa da igualdade e da coesão.
Alguns acreditaram que o mundo passaria a ser multipolar, e que em vez de duas superpotências, o equilíbrio mundial passaria a ter como base vários polos de poder, o que parecia justificar-se com uma Europa cada vez mais forte do ponto de vista político e económico, e com o surgimento, no final da década de oitenta, dos chamados Tigres Asiáticos (países do sudeste asiático como Hong Kong, Singapura e Japão, que começaram a apresentar elevados índices de crescimento económico e industrial).
Outros achavam, porém, que, com o fim da União Soviética, o Estados Unidos ocupariam, finalmente, o justo lugar de líderes e garantes da democracia e que, quase como por osmose, os níveis de progresso e de desenvolvimento americanos rapidamente se espalhariam ao resto do mundo.
Esqueceram-se, na altura, que havia já um outro ator em cena, pronto para roubar o protagonismo e para ditar as regras do jogo: o(s) mercado(s). A implosão da União Soviética pode não ter trazido o «Fim da História», como preconizou Francis Fukuyama, mas trouxe seguramente a subjugação da Política ao poder financeiro, e o fim da soberania dos estados, como até então a conhecíamos.
Não sabemos ainda que surpresas nos trará o século XXI, mas duas coisas já sabemos: enquanto, nos últimos anos, o mundo ocidental se distraiu, inebriado por esse novo amor com os mercados, a velha Rússia continuou a fazer política à moda antiga, e, na primeira oportunidade, deu-nos conta que as suas ambições expansionistas continuam lá;
No Médio Oriente, que era suposto ser “democratizado” pelos “líderes do mundo”, há uma arma muito antiga para qual ainda não há drone, fronteira ou muro que nos valha: a determinação de quem se move pela intolerância e pouco ou nada tem a perder.
Só nos falta saber que mundo novo daqui sairá.
Autora: Anabela Afonso é licenciada em Relações Internacionais e mestre em Comunicação, Cultura e Artes, variante Teatro