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Sul Informação

Que elites queremos?

Anabela AfonsoA referência às elites é comum, tanto em conversas de café como em textos que circulam na comunicação social ou nas redes sociais, na grande maioria das vezes com uma forte conotação negativa.

A elite representa sempre aqueles que têm acesso a algo a que a maioria de nós não acede. Seja a elite política – os que têm a capacidade de decidir sobre as nossas vidas-, económica – os que acedem pela sua capacidade financeira ao desafogo de uma vida materialmente rica -, ou intelectual – aqueles que têm o privilégio de aceder ao conhecimento mais complexo, académico, científico ou cultural.

No geral, são todos encarados pelo cidadão comum como um grupo detentor de privilégios que não são acessíveis a todos, são por isso “o outro”.

Podemos apontar muitos defeitos à nossa jovem democracia, mas não podemos deixar de reconhecer que um dos seus maiores feitos foi tornar realidade o princípio da mobilidade social, que faz com que a pertença a uma determinada elite ou acesso a alguns privilégios, não sejam condicionados apenas pelo berço. Esse é um direito que nos falta ainda resgatar na sua plenitude, mas que já é uma realidade.

O que importa não é acabar com as elites, como leio e ouço muitas vezes. As elites são, historicamente, parte da construção identitária de um povo, país ou nação e são (ou deveriam ser) aqueles que nos servem de modelo.

Ninguém hoje recusa a importância de figuras como o Marquês do Pombal, Egas Moniz, ou Eça de Queiroz, mas todos eles faziam parte de uma elite e teriam com certeza inúmeros defeitos, para além das visíveis qualidades.

O que temos é que, enquanto cidadãos, não nos colocar de fora da construção do país que queremos e contribuir, o melhor que podemos, para melhores exemplos.

É sempre mais fácil e inflamador o discurso de acusação do outro e também por isso mais mobilizador. E isso é útil para aqueles que entretanto aproveitam o calor das discussões inúteis para continuar a conduzir-nos com os argumentos de sempre.

Mais do que acusações, precisamos encontrar alternativas e espaços onde possamos refletir em conjunto e aprofundar o nosso sentido crítico em relação às opções que nos são colocadas.

Precisamos, sobretudo, combater a massificação de pensamento que a atual cultura televisiva nos vai impondo, e que nos torna especialistas no voyeurismo (prática que se contenta apenas com a observação) e aproveitar essa oportunidade preciosa que ainda temos de decidir qual o caminho que queremos percorrer.

Não nos contentemos com aquilo que nos chega numa altura em que os discursos se uniformizam e as elites que temos ainda representam muito poucos de nós.

É preciso procurar novos livros para ler, outras pessoas para ouvir, novas perguntas para fazer e não nos contentarmos facilmente com as respostas.

É preciso exigir que a ética seja o chão das nossas elites, e percebermos que o sistema também somos nós.

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