O artista digital Rudolfo Quintas, natural do Porto e atualmente doutorando na Universidade do Algarve, e o cientista Tom Kirchhausen, da Harvard Medical School, em Boston, promoveram o cruzamento entre arte e ciência, criando a «Absorption», uma escultura audiovisual interativa.
Este cruzamento entre arte e ciência, que contou ainda com a colaboração do designer Mário Dominguez, resultou numa peça que reconhece a presença das pessoas e interage com o corpo humano, ao mimetizar interações que ocorrem nas células.
A peça será exibida na exposição «Presense», na galeria Adamastor Studios, em Lisboa, de 6 a 31 de março.
O projeto surgiu de um desafio que Tom Kirchhausen propôs ao artista português, para que criasse uma instalação de arte multimédia interativa com base no processo biológico de endocitose mediada pela proteína clatrina – um processo que permite que as células internalizem material do meio extracelular envolvente, como certos nutrientes e vírus.
«Absorption» foi concebida como um trabalho conjunto de investigação durante a residência artística de Rudolfo Quintas no laboratório de Tom Kirchhausen, no Departamento de Biologia Celular da Harvard Medical School e no Programa de Medicina Celular e Molecular do Boston Children’s Hospital, em Boston.
Esta instalação é uma metáfora artística dos mecanismos moleculares da endocitose, cuja narrativa interativa se constrói mediante a participação e intervenção dinâmica de cada visitante.
Segundo Tom Kirchhausen, «Absorption» foi pensada como um work in progress, “que absorve a pessoa como se de um nutriente ou de um vírus se tratasse, e que se recorda de a ingerir, de forma muito semelhante ao que uma célula faz na vida real”.
O cientista fala acerca desta colaboração: “Foram necessários apenas alguns minutos em conversação com o Rudolfo para que uma colaboração irresistível e excitante tivesse início”.
Desde então, “foram muitas as horas a conversar, discutir e rir sobre a forma como poderíamos transformar a nossa ciência numa manifestação artística que fosse interessante e estimulante para todos”.
Segundo o artista, a visita ao laboratório de Tom Kirchhausen concedeu-lhe a “oportunidade única de absorver a experiência científica, de depurá-la e levá-la à essência, para criar uma experiência artística potencialmente pedagógica de interação entre o corpo e a escultura”.
O desenvolvimento de uma nova tecnologia de projeção levou à criação deste objeto artístico inovador, que se funde com um conceito impulsionador na arte contemporânea, uma vez que o artista, em vez se focar na forma como a experiência artística é absorvida pelo espectador, escolhe reverter essa perspetiva para explorar o modo como a arte pode absorver a presença humana.
Verónica Metello, curadora do projeto, comenta: “Para uma nova representação e, consequentemente, nova leitura do processo biológico, foi criada esta peça de arte interativa cuja tecnologia inovadora proporciona uma experiência sensível e inexplorada, em que cada visitante se torna cocriador”.
A escultura encontrar-se-á em exibição na exposição de arte digital «Presense», de 6 a 31 de março, na galeria Adamastor Studios, em Lisboa.
Esta é uma exposição inovadora no contexto da arte digital em Portugal, em que Rudolfo Quintas explora a relação entre corpo, sensação e presença, entre espaço físico e digital.
«Presense» traduz os últimos desenvolvimentos na exploração dos novos média digitais, posicionando-se num território inovador de cruzamento da arte com a tecnologia, a ciência e a filosofia.
Esta produção da Artech-International, no âmbito do projeto «Presense», com curadoria de Verónica Metello, é co-financiada pela DGArtes e co-produzida por Tom Kirchhausen, professor de Biologia Celular na Harvard Medical School e investigador no Boston Children’s Hospital.
O projeto conta ainda com o apoio da Universidade Aberta, do ISMAI – Instituto Universitário da Maia e do CIAC – Centro de Investigação em Arte e Comunicação da Universidade do Algarve.
Autor: António Piedade
© 2015 – Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais de quatro centenas de artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e vinte artigos científicos em revistas internacionais.
É autor de quatro livros de divulgação de ciência: “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura),”Caminhos de Ciência” (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), “Silêncio Prodigioso” (Ed. autor, 2012) e “Íris Científica 2” (Ed. autor, 2014).