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Crias Lince Janes e Juromenha_MAOTE_1A Câmara de Mértola considerou hoje, em comunicado, que o processo de reintrodução do lince-ibérico no seu concelho, que decorreu esta terça-feira, como um processo «apressado, mal preparado, incorreto» e até «em desconsideração» pela população local.

Por isso, e apesar de considerar a devolução à natureza como «muito importante para a recuperação duma espécie em vias de extinção», aquela autarquia e o seu presidente Jorge Rosa, fizeram questão de não participar «diretamente» no processo.

Ao início da tarde desta terça-feira, foi libertado em Mértola um casal de linces-ibéricos, um dos quais já nascido em Silves, que irão viver numa primeira fase num cercado e só depois serão reintroduzidos na natureza, naquela que é a primeira libertação de exemplares da espécie em território nacional.

Mas Jorge Rosa, autarca mertolense, salienta que «não basta soltar o lince para o processo ser responsável, têm de se criar condições para o manter, o que não aconteceu até aqui».

É que, sublinha em comunicado, «o território escolhido é cruzado por imensas estradas, que, além de não permitirem ao animal o sossego exigido, são um perigo constante devido às fortes possibilidades de atropelamento». Para mais porque até havia, na sua opinião, «outras zonas com menos presença do homem e logo mais apetecíveis para esta espécie, que deveriam ter sido as escolhidas».

A Câmara de Mértola revela também que a decisão de escolha de Mértola para a reintrodução «não nos foi oficialmente comunicada, apenas soubemos por conversas colaterais». Ainda assim, garante a autarquia, «desde esta altura que procuramos ter um papel responsável e consensual no processo».

Linces Fauno e Espiga_MAOTE«Fizemos para isso o que o Ministério não se preocupou em fazer na altura, que foi reunir com proprietários, com gestores, com caçadores, com agricultores, com as populações para ouvir as suas preocupações e a sua opinião».

Em seguida, comunicaram essas preocupações ao secretário de Estado do Ordenamento do Território e Biodiversidade, sugerindo-lhe que «tivesse também encontros com todos os diretamente interessados», o que não veio a acontecer.

O Ministério do Ambiente decidiu, apesar das preocupações que lhe foram sendo transmitidas, pela autarquia, por associações de defesa do ambiente e ainda de caçadores, «avançar com o processo de reintrodução sem acautelar tudo o demais, ao estilo de “faça-se a ponte que o rio logo chega”, que é como dizer que solte-se o lince que depois obrigamos todos a aceitá-lo», considera a Câmara de Mértola.

«Permanecem muitas questões por responder, que podem implicar diretamente nas atividades que hoje se desenvolvem no território, não houve preocupação em ganhar a simpatia e a boa opinião dos residentes no território para este projeto», salienta a autarquia, defendendo que o assunto «foi gerido do ponto de vista estritamente político, apressado».

Para mais, sublinha, terá sido escolhida «a pior altura para a solta, depois da época de caça onde foram abatidos uma parte dos coelhos, numa área onde claramente não há o número de coelhos bravos por hectare exigível para uma solta com sucesso, tudo levando a crer que os números apresentados de 3,5 coelhos/ha foram erro de contagem ou foram adulterados os números apresentados».

Aos jornalistas, o secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza garantiu que foi feito um censo quinzenal da população de coelho no território escolhido para a libertação dos linces e que os dados recolhidos indicam que a população ultrapassa atualmente o mínimo considerado necessário para se poder reintroduzir os felinos.

Lince AZAHAR_MAOTE_2Por todas essas razões, a Câmara de Mértola reafirma a sua posição «desfavorável à reintrodução, sem que estejam criadas algumas condições».

Exige também que o Ministério do Ambiente faça uma «auscultação social à população residente neste concelho, e explicação sobre todo o processo de reintrodução», que sejam criadas «condições para a reprodução em regime selvagem de coelho bravo, começando com o estudo, recentemente contratado, sobre a doença que dizimou a espécie, e implementando condições preventivas para o seu controle, de forma a que a população de coelho atinja os números necessários para a sobrevivência do Lince Ibérico».

A autarquia alentejana exige igualmente que o Ministério trate de fazer «acordos sectoriais com todas as partes afetadas, como o são os agricultores, os caçadores e gestores de caça, os pastores e proprietários dos terrenos, que ficaram abrangidos na área de residência alargada do lince, de forma a assegurar-lhes que não só as suas atividades não são condicionadas ou restringidas pela presença do felino, como ainda serão financiados nas suas atividades para desenvolverem práticas adequadas para a manutenção do lince no território».

O autarca Jorge Rosa acrescenta que, se não houver resposta a estas questões, «manteremos a nossa posição, num processo que entendemos importante, mas que nos entristece pela desconsideração havida».

E alerta que o processo de reintrodução do lince-ibérico, tal como foi feito esta terça-feira, «dificilmente» irá obter sucesso, «uma vez que a esmagadora maioria dos caçadores, dos proprietários ou gestores, dos agricultores não concorda», «firmando o Ministério a sua decisão apenas na concordância de alguns poucos proprietários, que, no seu conjunto, têm menos de 5.000 hectares não contíguos».

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