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scicom-920x300O Congresso de Comunicação de Ciência Sci Com PT 2015 começa esta quinta-feira, dia 28, e prolonga-se até sábado, 30 de Maio, no Centro Cultural de Lagos e no Centro Ciência Viva da cidade, numa organização dos três Centros Ciência Viva existentes no Algarve – Lagos, Faro e Tavira.

Além de dois dias de apresentação de comunicações, por oradores convidados e por outros comunicadores de ciência que querem mostrar o seu trabalho, esta terceira edição do Sci Com PT inclui ainda um terceiro dia de workshops com especialistas.

Luís Azevedo Rodrigues, diretor do Centro Ciência Viva (CCV) de Lagos e principal responsável pela organização do congresso, recorda, em entrevista ao Sul Informação e à Rádio Universitária do Algarve (RUA FM), que este é já o terceiro encontro dedicado à comunicação de ciência em Portugal, depois do Sci Com de 2013, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e de 2014, na Universidade do Porto.

No ano passado, o CCV Lagos, em parceria com os dois outros do Algarve, «teve oportunidade de se lançar neste desafio, para organizar um encontro que já tem alguma dimensão e tradição. Foi uma possibilidade que nós agarrámos com unhas e dentes e que estamos a trabalhar para que o congresso seja um sucesso», explicou aquele responsável.

Luís Azevedo Rodrigues salientou que não houve dificuldade em colocar os três CCV algarvios a trabalhar na organização: «os três centros fazem parte de uma rede nacional, coordenada, por isso estamos habituados a trabalhar em rede». No entanto, admitiu, «obviamente, sendo o Congresso em Lagos, boa parte do trabalho está nas nossas costas».

Mas e que necessidade há de promover um congresso deste tipo?

Luís Azevedo Rodrigues
Luís Azevedo Rodrigues

«Na primeira edição – no Pavilhão do Conhecimento – um dos seus principais resultados foi verificar que existe um conjunto muito diverso de pessoas a trabalhar em comunicação de ciência – investigadores, artistas, jornalistas de ciência, educadores, museus e centros de ciência».

Em 2014, «essa tendência de diversificação de projetos e de pessoas foi uma realidade e em 2015 temos um número recorde de trabalhos – mais de 170 – o que revela o dinamismo da comunicação de ciência em Portugal».

O diretor do CCV de Lagos salienta que a «comunicação de Ciência envolve muitas pessoas e muitos trabalhos diferentes, mas todos visam tornar acessível a informação científica, o conhecimento gerado pelos cientistas». No fundo, explica, «os comunicadores de ciência vão sendo mediadores dessa ciência para o grande público».

E isso é especialmente importante por vários motivos, mas também «porque em Portugal e na Europa em geral é o público que financia grande parte da investigação que é feita». Por isso, «um dos principais motivos pelos quais os cidadãos merecem ser informados pelos comunicadores de ciência é uma questão de justiça – já que é o cidadão que paga a investigação, é bom que ele a entenda numa linguagem acessível».

Luís Azevedo Rodrigues, ele próprio muito habituado a estas lides, seja através do seu blogue, seja do programa regular de rádio «Ciência à Conversa», na RUA FM (e depois publicado também aqui no Sul Informação), «ser comunicador de ciência também não é apenas traduzir um paper, é envolver as pessoas, consciencializá-las para a importância da Ciência, muitas vezes também fazendo a ligação para projetos que podem ser ajudados pelos cidadãos, por exemplo na colheita de dados, como há alguns exemplos na chamada ciência cidadã».

Como exemplos dessa ciência cidadã, sublinha que «há grupos de investigação que precisam de dados – observações de aves num determinado local, número de estrelas vistas num determinado quadrante, recolha de dados massiva ou partilha de computadores de cidadãos . Nesses casos, o comunicador de ciência faz a ligação entre o investigador e o cidadão comum».

Equipa do CCV Lagos
Equipa do CCV Lagos

Em Portugal comunica-se bem ciência? «Sim, está-se a trabalhar bem a comunicação de ciência». Este ano, no Congresso serão apresentados «trabalhos muito diversos, em áreas que nós ficámos surpreendidos, porque não pensávamos que houvesse gente a trabalhar nelas».

Também se está a fazer um trabalho de formação formal dos comunicadores de ciência – a Universidade Nova de Lisboa é exemplo disso, já que tem um mestrado em comunicação de ciência. E os Centros Ciência Viva também têm contribuído para essa formação, uma vez que «não havia a tradição de os grupos de investigação e as universidades terem nos seus projetos uma componente de comunicação de ciência», mas «no que diz respeito ao Algarve, os CCV têm feito um trabalho de contacto com os comunicadores, oferecendo os seus serviços como comunicadores de ciência».

Uma das práticas já habituais é «convidar os investigadores a virem aos CCV para falar sobre o que estão a fazer». O Centro Ciência Viva de Lagos, por exemplo, «tem agora um projeto de literacia de Saúde que passa muito por falar, discutir, apresentar temas, mas trazendo os especialistas, as pessoas que fazem ou investigam os temas».

Luís Azevedo Rodrigues salienta que, para fazer avançar a comunicação de ciência em Portugal foi «fundamental a criação da Agência Nacional para a Promoção da Cultura Científica e Tecnológica e da rede de Centros Ciência Viva, lançada pelo professor Mariano Gago».

Isso permitiu ao grande público, a quem não é investigador, «ver a ciência com outros olhos, seja ela onde estiver». E dá o exemplo das ações da Ciência Viva no Verão, através das quais «as pessoas aprenderam que podem estar na praia, de férias, mas os seus filhos podem desfrutar de uma observação de aves ou de astros».

Mas e para que serve isto de comunicar ciência? «No caso da cultura científica, permite-nos perceber, desfrutar e, em última análise, decidir sobre algumas questões», por exemplo, «olhar para um determinada paisagem e perceber porque é que aquilo está ali».

O Congresso de Comunicação de Ciência Sci Com PT 2015 inclui, pela primeira vez, seis workshops: «escolhemos várias áreas que julgámos que estariam em falta entre os comunicadores de ciência e outros interessados».

E assim, no sábado, em workshops abertos a quem se quiser inscrever, haverá um workshop sobre «literacia visual e como comunicar visualmente de forma mais interessante» (“Comunicação Cientifica Visual / Visualcia”), por Fernando Correia, da Universidade de Aveiro.

Outro dos temas, «inovador» segundo refere o responsável pela organização, será «Horizonte 2020: Preparação de propostas e processo de avaliação», ou seja, mostrar aos cientistas e comunicadores de Ciência como podem fazer uma proposta ao Horizonte 2020. O formador será Ricardo Miguéis, da Fundação da Ciência e Tecnologia

O jornalista Vasco Trigo irá explicar «como enfrentar o grande monstro que é a câmara de televisão», no workshop “Comunicação de Ciência com os Media: Do’s and Don’ts”, enquanto outro jornalista, Paulo Querido, falará sobre as redes sociais e “Comunicar na Sociedade em Rede”.

sci comJoana Lobo Antunes e Ana Sanchez falarão sobre a «Comunicação Oral de Ciência», enquanto Karen Bultitude, que é também uma das oradoras convidadas, dará um workshop sobre “Evaluation: a practical guide”, mnostrando «como avaliar o impacto das ações feitas pelos comunicadores de ciência»

Quanto a oradores convidados são quatro, três estrangeiros e um português. Segundo Luís Azevedo Rodrigues a escolha deste oradores foi feita de modo a que «procurassem abarcar áreas que é importante continuar a debater na comunicação de ciência».

Assim, Ian Brunswick, da Science Gallery de Dublin (Irlanda), irá falar sobre os cruzamentos da Ciência e da Arte. Trata-se de um «instituição que tem desenvolvido um trabalho muito intenso na divulgação da ciência, mas no cruzamento com artistas».

Hans Peter Peters, da Universidade Livre de Berlim, falará da forma «como os cientistas lidam com os jornalistas e vice versa», ou seja, sobre «aquela relação muitas vezes difícil de amor/ódio, em especial do lado dos cientistas, e como é que eles podem comunicar melhor com os jornalistas».

Karen Bultitude, do University College London, abordará o tema de como avaliar. Ou seja, salienta Luís Azevedo Rodrigues, «é fundamental que façamos as coisas, mas também que as saibamos avaliar».

Quanto ao orador convidado português, trata-se de Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, que vai encerrar o congresso: «ele que é o coordenador nacional da comissão para a comemoração do Ano Internacional da Luz, vai falar-nos precisamente sobre a importância da luz, seja na ciência, na literatura».

Neste congresso não participam apenas comunicadores de ciência, mas todos quantos tiverem «interesse pelos temas, para ouvir falar de projetos, mas também para falar nos corredores com uma pessoa que fez um determinado projeto, com um jornalista, um artista».

Aliás, sublinha o responsável pela organização, das coisas que mais o surpreenderam logo no 1º congresso, foi «diversidade de perfis de pessoas que trabalham em comunicação de ciência», mas também a necessidade de haver «estes momentos em que pessoas estão cara a cara, falam, discutem. Por muitos facebooks, skypes, estes momentos de comunicação cara a cara são muito importantes».

E comunicação cara a cara, nos corredores do Centro Cultural de Lagos, no Centro Ciência Viva ou nas ruas da cidade, será o que não vai faltar nestes três dias.

 

Clique aqui para conhecer o programa completo do Sci Com PT 2015.

Para ouvir a entrevista na íntegra, clique aqui.

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