A Câmara Municipal de Albufeira vai investir «12 a 15 milhões» de euros num plano de drenagem da bacia da ribeira de Albufeira, de modo a evitar a repetição das enxurradas que, a 1 de Novembro, causaram cerca de 25 milhões de euros de prejuízo.
Carlos Silva e Sousa, presidente da autarquia, revelou que o coordenador desse plano será José Saldanha Matos, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, com vasta experiência na área, depois de ter trabalhado em planos semelhantes feitos para Barcelona, Paris ou, mais recentemente, Lisboa.
«Já fiz uma primeira aproximação com a pessoa que será o coordenador deste plano, que é o professor Saldanha Matos. As suas credenciais são simples: é professor universitário, tem experiência por aí fora, em Barcelona, Paris, fez agora recentemente o Plano de Lisboa que foi aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal».
Saldanha Matos, coordenador do consórcio de empresas Hidra/Engidro, autor do Plano Geral de Drenagem de Lisboa 2016-2030, com quem o autarca algarvio já se reuniu, «tem um diagnóstico bastante razoável sobre a situação de Albufeira, quer envolver o Laboratório Nacional de Engenharia Civil».«Já há ideias», garantiu Carlos Silva e Sousa.
O edil não tem dúvidas de que esta será «a obra do século, estruturante».
Carlos Silva e Sousa não tem dúvidas de que esta será «a obra do século, estruturante»
O presidente da Câmara de Albufeira, que falava durante a habitual cerimónia da mensagem de Ano Novo, que teve lugar ontem ao princípio da noite nos Paços do Concelho, perante a presença de técnicos e dirigentes municipais, vereadores, autarcas das freguesias, empresários, responsáveis por Instituições Particulares de Solidariedade Social, representantes dos Bombeiros e das forças da autoridade, não deixou de recordar a chuvada da passada segunda-feira à noite, que voltou a trazer o espectro das cheias na baixa da cidade.
Arrancando uma gargalhada às dezenas de pessoas presentes, Carlos Silva e Sousa comentou: «Estou quase como o Cascão, aquela personagem da banda desenhada, que não tomava banho porque tinha medo da água. Ele via uma nuvem e corria para casa a esconder-se. Eu estou quase igual…apesar de ainda ir tomando banho. Mas a chuva tira-me o sono!»
O edil garantiu que o «esforço financeiro» feito pela Câmara para recuperar a baixa da cidade a tempo desta época de Natal e Ano Novo «não causou abalo às finanças do Município. Ficámos com menos dinheiro disponível para outras coisas, mas o Município pôde acorrer à situação» de emergência.
«Tenho que agradecer o esforço a todos, e nomeadamente aos homens da construção, um esforço que fez com que a nossa cidade, na antevéspera do Natal estivesse completamente recuperada».
No entanto, avisou, «este é um problema grave, não podemos olhar para o lado e esperar que se resolva, temos que enfrentá-lo!».
«Das duas uma: ou encaramos isto a sério e faz-se um plano, com estudos, com gente capaz de os fazer, ou esperamos que isto só aconteça outra vez daqui a 100 anos, o que é uma possibilidade, mas também pode acontecer amanhã ou depois de amanhã».
A decisão do Município, salientou, foi avançar com um estudo e um plano para toda a bacia da ribeira de Albufeira, e assim «encontrar as soluções».
«Isto vai implicar um esforço financeiro muito sério do Município e vamos deixar de fazer algumas coisas para cumprir esse plano», admitiu, lançando desde logo o repto aos albufeirenses para que tenham «uma palavra a dizer nesta matéria. A Câmara e a Assembleia Municipal têm capacidade de decisão, mas a população também tem que se pronunciar».
Quanto ao Plano de Drenagem da bacia da ribeira de Albufeira, a solução passará por várias intervenções, nomeadamente com a construção ou reforço de barragens de retenção das águas, a montante da zona mais urbanizada, mas também pela construção de um novo túnel, com maior capacidade e desembocando num local diferente, a uma altura superior, para não ser afetado quer peças marés, quer pela previsível subida do nível do mar.
No caso das bacias de retenção, Carlos Silva e Sousa admitiu que, ao contrário do que acontecia até Novembro passado nas estruturas já existentes, as que serão agora criadas ou reforçadas terão que ter «técnicos permanentes no local», «para abrir ou fechar, para abrir mais ou menos».
Quanto ao «novo túnel», deverá ser construído «por baixo da ribeira, com a vantagem de não ter implicação na vida à superfície, e irá sair na zona do Rossio e do Porto de Abrigo, a uma altura superior, já pensando nas marés e na subida futura do nível do mar», esclareceu o autarca.
Há mesmo a «possibilidade» de ser construído um «túnel com capacidade superior à necessária», uma solução que, por paradoxal que pareça, acabará por poupar dinheiro a Albufeira.
Carlos Silva e Sousa: as cheias em Albufeira são «uma questão que nos preocupa a todos e temos que fazer esforços sérios para que não aconteçam de novo»
Porquê? «Porque há a hipótese de Albufeira estabelecer uma cooperação com Lisboa, para que, quer para uma cidade quer para a outra, a obra possa sair mais barata».
Como? Usando na abertura do túnel de Albufeira a mesma máquina que será construída para abrir os dois túneis previstos para Lisboa. É que, explicou o autarca, «só fazer uma máquina com as medidas apropriadas para construir um túnel destes, custa 15 milhões de euros». Por isso, se as obras em ambas as cidades usarem a mesma máquina os custos serão repartidos.
Depois das conversações com o professor Saldanha Matos, o presidente da autarquia de Albufeira diz que a «segunda aproximação ao assunto será agora em Janeiro», numa reunião que terá com o presidente da Câmara de Lisboa, no sentido de «estabelecer uma ligação entre os dois municípios nesta questão».
As cheias em Albufeira são «uma questão que nos preocupa a todos, e temos que fazer esforços sérios para que não aconteça de novo», concluiu o autarca.
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