Há 20 anos, a Finlândia estava como Portugal. Como nós, num extremo da Europa e muito dependente de dois mercados, o seu grande vizinho russo e o pequeno sueco. Como nós, exportava riquezas naturais, pescado, cobre e celulose, e produtos de limitada tecnologia, calçados, têxteis, cristais e reparação naval.
Como nós, grande parte da agricultura era de subsistência, dispersa e com poucas boas estradas. Havia poucas grandes construtoras que faziam grandes obras no estrangeiro; e corrupção. O Marco finlandês era sustentado também pela remessa de emigrantes para as suas famílias.
Como foi o milagre finlandês? Como no resto da Europa, total descentralização do Ensino Básico para os concelhos. Formação profissional prática, energias alternativas, empreendedorismo, controlo de cartéis, automação na administração pública, fisco proativo.
Jack Welch, ex-presidente da GM, disse: “do Estado, é necessário apoio para (…) reforço da educação técnica em proximidade com as empresas, garantia de qualidade em todos os níveis de ensino, pedagogia da responsabilidade”.
Sobre inovação, ele quer valorizar “o profissionalismo, desenvolvimento tecnológico para resultados concretos, e verdadeiro venture-capital que permita experimentar e concretizar novas ideias e projetos”. O ensino profissional aqui, como todo o demais, é “muito teórico, embasado em oratória, com poucos laboratórios”, dizem.
O sucesso da Finlândia está na força do empresariado local no comando de todo o ensino do país. Lá não perguntam “quem é ou quem apresentou o Jack”, mas sim “em que pode ele contribuir a curto e longo prazos”.
Lá não se lucra ao falar rebuscado, mas ao fazer e inovar. Linux, Nokia, Enso, são produtos simples, baratos, confiáveis; focam na real necessidade do cliente, sem anúncio na TV.
Muitos economistas estão a prever que o 4º trimestre de 2016 será o pior do Portugal dos recentes 30 anos. Temos mais recursos naturais do que a Finlândia: mar muito mais rico, floresta que pode crescer mais rápido, bom solo, sol para energia e turista, vinhos.
Temos o povo mais simpático da UE. Falta-nos dar-lhe o que precisa para passar a Finlândia: reais oportunidades de trabalho, prático e bom ensino profissional, respeito ao humilde mas competente, controlo e justiça atempada para coibir os abusos dos “amigos da corte”.
Podemos estar entre os líderes da UE em 2030. Basta implantar uma verdadeira democracia educacional e económica. Regionalizar as estatais, estar ao lado do cliente. Introduzir “conselhos de utentes” em todos os Institutos e DGs. Dar poder à DECO e à Quercus de fechar lojas e travar obras enquanto a lenta justiça julga os constantes abusos das corporações comandadas do estrangeiro. O Algarve atrai muitos estrangeiros!
Democracia não é só falar e votar. É igualdade de oportunidades e, sobretudo, dar voz e poder ao consumidor. Pôr empresários no Conselho das escolas, os que precisam de mão-de-obra e pessoas boas. Usar melhor os recursos, integrar, para que 2 e 2 não seja só 4, mas um 8, deitado, um infinito de bons resultados para todos nós, os cidadãos.
Autor: Jack Soifer é consultor internacional, autor dos livros «Empreender Turismo de Natureza», «Como Sair da Crise», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Portugal Pós-Troika»