Caso nada façamos, há uma grande probabilidade da exploração de petróleo ser uma realidade no futuro próximo do Algarve, algo que há bastante tempo causa insónias a todos quantos amam esta região privilegiada.
Agora que a cortina foi levantada, que o verniz estalou e que começou a contestação algarvia ao que foi apresentado como facto consumado, começam também as tentativas de desinformação, ao estilo da melhor contra-espionagem dos tempos da guerra fria.
Vêm representantes, quais iluminados, tentar convencer os provincianos que é no petróleo que está o futuro do país, ou que até ficaremos ricos, imagine-se, como recentemente afirmou Paulo Carmona, presidente da Entidade Nacional do Mercado dos Combustíveis, para depois verificarmos que afinal não será bem assim e que os proveitos não serão assim tão espantosos…
Vêm tentar convencer-nos que é possível equilibrar a proteção do ambiente e o turismo, com a exploração de petróleo na nossa terra e mar, como se já não tivéssemos visto o sofrimento de tantas comunidades um pouco por todo o planeta, a braços com graves problemas sociais e ambientais devido à exploração de petróleo e gás natural.
Quererão também que acreditemos que as plataformas não serão visíveis desde as nossas praias. E então? Mesmo que assim fosse, já nada haveria a temer porque “longe da vista, longe do coração”? Contudo o perigo manter-se-ia, levando apenas mais um par de horas até ser notado por todos.
Ainda nos hão-de tentar convencer que o petróleo faz bem à pele!
Mas, uma vez que os dois primeiros argumentos têm sido largamente escrutinados, importa também desmistificar a questão da visibilidade das plataformas petrolíferas no horizonte.
Segundo alguns cálculos e tabelas náuticas consultadas, conclui-se que as plataformas petrolíferas poderão ser visíveis desde terra, não apenas em Faro, mas um pouco por todo o Algarve. E, mesmo que uma plataforma seja algo que à distância se assemelhe a uma mera mancha no horizonte, não nos esqueçamos daquela chama contínua e do rasto de fumo que produz, resultante da queima dos gases não aproveitáveis, riscando o céu, poluindo-o, destruindo a beleza de um mar selvagem e limpo.
Uma plataforma petrolífera atinge facilmente os 100 metros de altura acima do nível da água. Se a isso se juntar 50 metros da torre, totalizará qualquer coisa como 150 metros emersos.
Para aferir da visibilidade de uma plataforma no horizonte, fazem-se alguns cálculos contabilizando a curvatura da terra, a refração, a altura do observador e a altura da plataforma. Pela aplicação da fórmula: D = 2.08 (√H + √h ), onde D é a distância a calcular, 2.08 o valor da refração para condições médias em regiões de clima temperado, (H) a altura do Observador e (h) a altura do objeto visado, concluímos o seguinte:
Um observador com o olhar a 1.80 metros acima do nível do mar, veria uma plataforma petrolífera com 150 metros de altura, que estivesse a uma distância de 52 quilómetros da costa.
Mas, caso o observador estivesse sobre uma duna, com o olhar 7 metros acima do nível do mar, veria uma plataforma petrolífera com 150 metros de altura, que estivesse a uma distância de 57 quilómetros da costa.
E caso o observador observasse o mar algarvio sobre uma falésia, com o olhar 30 metros acima do nível do mar, veria uma plataforma petrolífera com 150 metros de altura, que estivesse a uma distância de 68 quilómetros da costa.
Veria, porque a visão humana tem um alcance médio de 48 quilómetros, concluindo que qualquer plataforma petrolífera localizada no mar a menos de 48 quilómetros de distância à costa seria avistada por todos.
Além disso, numa notícia de 12-03-2015, um meio de comunicação online em língua Inglesa refere que a exploração petrolífera em frente a Faro acontecerá a 8,5 quilómetros da costa. Mas basta analisar os mapas das áreas concessionadas para verificar que toda aquela área está flagrante e perigosamente perto da nossa costa.
Mesmo que as plataformas não sejam visíveis desde a costa, pelo eventual afastamento maior que os 48 quilómetros garantidos pela visão humana, existirá sempre a queima de gases combustíveis para a atmosfera, bem como existirá sempre o risco de uma maré negra no caso de um acidente, com todas as consequências que daí poderão advir.
Importa ainda referir que o Algarve atualmente não dispõe de quaisquer meios eficazes para combater uma catástrofe desta natureza, nem humanos nem equipamentos, algo que devia existir não pelas plataformas petrolíferas que rejeitamos, mas porque diariamente passam dezenas de petroleiros junto à nossa costa, num movimento marítimo representando o transporte de cerca de 30% do crude mundial, como referido no artigo de Francisco Castelo, no CEMAL – Centro de Estudos Marítimos e Arqueológicos de Lagos, sob o título “Marés Negras, Alerta ao Perigo no Algarve”.
É preciso que as entidades da região continuem a falar a uma só voz e que os algarvios, os residentes e os turistas se unam, rejeitando liminarmente toda e qualquer exploração de hidrocarbonetos no Algarve. São riscos que não temos que correr!
Miguel Caetano
Arquiteto
miguel.jcaetano@gmail.com”