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Festival das Camélias de Monchique_28A quinta do senhor António Silva e da sua mulher, a D. Emérita, na Serra de Monchique, tem «quase 70 variedades de camélias» e umas «duzentas ou mais cameleiras», espalhadas pelo jardim, mas também nos socalcos onde disputam espaço com as laranjeiras e os castanheiros.

A sul da Serra de Sintra, este é o local com mais camélias. Esta é, aliás, das maiores coleções dessa flor com origem na China mas trazida há séculos para Portugal existentes em todo o país.

A quinta do Senhor Silva, que fica à beira da estrada da Fóia, foi o primeiro local visitado este domingo pelas cerca de oito dezenas de participantes na Rota das Camélias, um passeio, primeiro de autocarro e depois a pé, para descobrir o património ligado a esta flor, que tão bem se dá com os ares, o solo e a água de Monchique.

António Silva há já «mais de trinta anos» que dedica muitas horas do seu tempo às camélias. Conhece-as a todas pelo nome de cada variedade e sabe a história de cada uma das que plantou na sua quinta. Este ano, o seu desgosto é que as camélias negras, apesar de terem muitos botões, não abriram, talvez por causa da ação nefasta de um fungo. «Eu costumo usar um truque para as fazer florir bem, mas este ano atrasei-me»…lamentava.

Depois desta primeira visita, para a qual o grupo foi dividido em dois e transportado à vez de autocarro, o resto do percurso desenvolveu-se na vila de Monchique, a pé. Primeiro, no jardim da Junta de Freguesia, com cameleiras já com dezenas de anos, de grossos troncos, mas carregadas de flores cor-de-rosa, raiadas de vermelho ou brancas.

 

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Uma das belas camélias na quinta do Senhor Silva

 

A rota seguiu então em direção ao antigo Hospital, hoje Centro de Saúde, em cujo jardim, talvez quando o edifício original foi construído, em 1921, se plantaram também cameleiras, hoje árvores frondosas. «Sempre me lembro destas cameleiras aqui e já grandes», garantia uma senhora sexagenária, durante o passeio.

Depois de atravessado um vale, foi a vez de passar junto ao lavadouro público, onde ainda jorra das torneiras a água límpida da serra. Mas o recinto coberto a telha vã que abriga o lavadouro é hoje mais usado para estendal da roupa lavada nas máquinas automáticas em casa. Um casal de franceses que integrava o grupo manifestava o seu espanto por ainda haver lavadouros como este.

O passeio prosseguiu, em direção à Quinta da Portela, junto à Câmara de Monchique, uma das muitas pertencentes à Família Mascarenhas, gente que já foi importante em Monchique e que hoje ainda por lá tem muitas propriedades.

A Rota das Camélias é hoje das raras oportunidades que as pessoas têm de atravessar o alto portão verde e entrar nesta quinta murada e privada. Mas vários dos participantes monchiquenses lembravam-se de quando eram meninas e moços e nos jardins da quinta se fazia uma festa, «com bolos e muita comida», oferecida pelo «senhor Mascarenhas», aquando da comunhão solene dos miúdos da vila.

Desta vez, o pretexto foi ver as muitas cameleiras, das mais variadas cores, que adornam os jardins luxuriantes, às vezes com um aspeto quase tropical, da Quinta da Portela. Lado a lado, há cameleiras, jarros, laranjeiras, castanheiros, bambus, inhames, junquilhos, palmeiras, hibiscos.

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Camélias na Serra de Monchique

Seguiu-se outra das quintas da mesma omnipresente Família Mascarenhas, a do Castelo, a caminho do arruinado convento e cujo edifício principal foi recentemente recuperado. Passando o alto e sólido portão vermelho, entra-se num mundo marcado por uma explosão de diferentes tons de verde e cores de flores, tendo como som de fundo o marulhar das águas que escorrem da serra e que tornam tudo tão viçoso e fresco.

O Senhor Arlindo, que toma conta da quinta, não escondia o seu orgulho pela beleza dos jardins, embora recordasse os tempos em que «tudo estava ainda mais bem tratado do que hoje». E fazia questão de mostrar a beleza das camélias, salientando que às vezes, numa mesma árvore, parecia haver variedades diferentes desta delicada flor.

Depois, o grupo regressou ao Largo de São Sebastião, onde decorria o Festival das Camélias, na sua vertente de exposição e de venda de flores e de plantas. Em grandes mesas redondas, estavam expostas as mais belas camélias de Monchique, das mais singelas, às dobradas, das rosa-pálido e brancas, passando pelos vários tons de cor-de-rosa e as vermelhas, algumas delas raiadas.

Cada quinta e família de Monchique, bem como algumas instituições, como a Santa Casa da Misericórdia, mostrava aqui as suas flores. E a dificuldade era decidir qual a mais bela, neste manto florido que cobria as mesas. De tal forma que, desta vez, se decidiu não atribuir prémios, até para não desmotivar os expositores.

Como não podia deixar de ser, o Festival da Camélia, que, ao longo dos três dias envolveu e levou a Monchique perto de seis mil pessoas, incluiu muita animação, com teatro de rua e música, venda de doçaria tradicional, o lançamento do livro «Camélias de Portugal», e até contou com a presença de dois visitantes ilustres – D. Duarte de Bragança, ele próprio grande entusiasta das camélias, e o ministro da Cultura João Soares.

 

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Animação permanente no Festival das Camélias

Rui André, presidente da Câmara de Monchique, não cabe em si de contente, ao ver ultrapassada a sua «melhor expectativa em relação ao número de visitantes». E os donos dos restaurantes da terra, que estiveram sempre de casa cheia, também agradecem.

O autarca faz questão de sublinhar que o objetivo do Fastival das Camélias, que este ano cumpriu apenas a sua segunda edição, é chamar a atenção para o rico património natural do concelho, que é o verdadeiro «jardim no topo do Algarve».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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