Uma exposição da coleção de oito Bandeiras de Procissão do século XVIII, incluindo a Bandeira Real, abriu esta Quinta-Feira Santa, dia 24, e ficará patente até 3 de Abril, na Igreja da Misericórdia de Monchique, numa iniciativa integrada na programação da Semana Santa desta localidade serrana.
Estas bandeiras são levadas pelos Irmãos da Misericórdia, durante a Procissão do Enterro do Senhor (Sexta Feira Santa), único ocasião em que podem ser contempladas.
Com a decisão da Misericórdia de integrar esta exposição na componente cultural e religiosa da Semana Santa de Monchique «urge assim esta oportunidade única para apreciar um património valioso de arte sacra», permitindo que descobrir mais sobre a história destas bandeiras e o que elas representam, uma vez que estará patente uma descrição sobre elas.
A Bandeira Real apresenta, de um dos seus lados, a Nossa Senhora da Misericórdia, onde a Virgem coroada, de mãos postas, abre o manto protetor, seguro por dois anjos, acolhendo, à direita, o Papa coroado com tiara, um frade trino e dois clérigos; à esquerda, o rei envergando manto de arminho, a rainha e dois nobres. Aos pés da Virgem, um mendigo desnudo.
Do outro, a imagem de Nossa Senhora da Piedade, onde a Virgem acolhe o Filho morto, amparado por S. João, que chora a Sua morte. Maria Madalena, com as mãos ao peito, ajoelha-se diante do Senhor supliciado.
«A representação da Senhora da Misericórdia ou Senhora do Manto é sem dúvida uma das representações mais expressivas do profundo sentir do povo cristão, que se “sente” acolhido e protegido sob o manto materno de Nossa Senhora. Povo cristão que se identifica com toda a sociedade organizada, estando, de um lado, as figuras representativas da igreja (papa, bispos, cardeais, ordens religiosas) e do outro lado a sociedade civil (reis, nobres e povo), encontrando-se em algumas representações, os pobres e presos sob os pés da Virgem, expressão evocativa de estar sob a Sua proteção», explica a Câmara de Monchique em nota de imprensa.
«O conjunto de oito bandeiras agora em exposição é um dos mais expressivos símbolos desta ímpar instituição», já que «são o retrato do pensamento, da tradição, da cultura institucional e da inconfundível identidade e autonomia da Misericórdia», acrescenta a autarquia.
«Tal como nos seus Compromissos, Regulamentos internos, práticas litúrgicas e sociais, arquitetura e iconografia, também nas suas bandeiras existem verdadeiros lábaros institucionais. As Misericórdias souberam afirmar o seu carácter de instituições de tipo modelar, ou seja, instituições que, obedecendo a um modelo comum, se adaptam às realidades, necessidades, gostos e modos de cada tempo e cada lugar, adaptando-lhes igualmente nomes e símbolos, frases e figuras».
As bandeiras, «sendo encomendadas, consoante as posses de cada Misericórdia ou dos seus provedores e benfeitores, aos melhores mestres de pintura ou a modestos artesãos locais, obedecem ao padrão comum primeiramente usado pela Misericórdia de Lisboa e depois imposto ou pela exemplaridade ou mesmo por determinação real, como foi o caso do alvará filipino mandando pintar em todas elas a figura de um frade trino, cujas antigas iniciais FMI (Fraternitatis Misericordiae institutio) serviriam para, em leitura forçada, identificar com Frei Miguel Instituidor. Isso não impediu, antes pelo contrário, que a criatividade dos artistas e de cada Misericórdia utilizasse as adaptações do modelo comum para perpetuar sentimentos, crenças e desvelos que fazem das bandeiras das Misericórdias uma das mais ricas expressões do nosso património cultural e religioso».
A Misericórdia de Monchique é uma das mais antigas do país, tendo sido instituída logo após a criação da Misericórdia de Lisboa em 1498, por parte da Rainha D.Leonor.