A Polícia Judiciária esteve no local e irá investigar as causas do incêndio que queimou, esta madrugada, por volta das 5h00, o hall de entrada de um prédio de habitação social na zona da Atalaia, em Faro, causando nove feridos.
Mas, para os moradores do edifício, não é preciso esperar pelo resultado da investigação, já que estão convencidos de que se tratou de fogo posto.
Esta crença é baseada naquilo que se passou nos últimos dias. Na madrugada e na tarde de domingo, já tinham sido detetados e prontamente apagados pequenos focos de incêndio no mesmo prédio e um dos habitantes assegura que viu alguém a fugir depois de dizer «já está, vamos embora», momentos antes de um vizinho encontrar matéria a arder dentro do elevador.
Esta manhã, depois de apagado o novo fogo pelos bombeiros, muitos dos habitantes do prédio estavam na rua, a comentar o que acontecera horas antes, que acreditam não ter sucedido por acidente. Vítor Rocha, o morador que diz ter visto pessoas a fugir do prédio, no domingo, está entre eles. Na altura, tentou fotografá-los, mas uma árvore que se eleva em frente ao edifício não permitiu.
«Há qualquer coisa de muito estranho no meio disto tudo. Porque isto já tinha acontecido duas vezes na véspera de Santo António. E os mesmos indivíduos que fizeram isto no dia 12, voltaram hoje, mas desta vez com mais potência e com pior intenção. Hoje foi mesmo para rebentar com isto tudo!», desabafou, em declarações ao Sul Informação.
Além de danos materiais, o incêndio causou nove feridos, todos eles por inalação de fumo, seis dos quais, incluindo uma criança, tiveram de ser assistidos no Hospital de Faro.
O fogo também obrigou «à evacuação das 58 pessoas que estavam, na altura, dentro do edifício, por precaução», segundo revelou o presidente da Câmara de Faro Rogério Bacalhau.
O edil não arriscou avançar uma causa para este incêndio, embora admita que «há conversas e suspeitas» de que houve mão criminosa. Algo que se espera que possa ser revelado pela investigação da PJ, «que esteve no local a recolher indícios».
Sentado num muro, Vítor Rocha descreveu ao Sul Informação os momentos de pânico que os habitantes do prédio viveram, durante a madrugada.
«Hoje acordámos aqui com uma situação do outro mundo, como se costuma dizer. Por volta das 5h00, ouviu-se um estouro. Foi a mota elétrica de um vizinho nosso, que tem uma perna amputada, que rebentou devido ao quadro elétrico, que explodiu em conjunto com uma conduta de gás», contou.
Dentro do hall de entrada do prédio, restam os escombros da mota e nota-se bem onde aconteceu a explosão que alertou os moradores. As consequências só não foram maiores porque «o sistema de segurança funcionou».
Já Rogério Bacalhau, em declarações ao Sul Informação, apenas fala no rebentamento do quadro elétrico, não referindo a conduta de gás.
A partir do momento em que perceberam que havia um incêndio, alguns dos habitantes do edifício dirigiram-se para as escadas, para fugir, e encontraram-nas «cheias de fumo». «As pessoas estavam todas loucas para poderem sair e não conseguiam, porque a porta [corta-fogo, no interior do prédio] estava trancada com um ferro», alegou.
Apesar desta perceção do morador do edifício sinistrado, não terá existido nenhum ferro a bloquear a porta, mas sim o bom funcionamento de uma medida de segurança. As portas corta-fogo não devem abrir quando está a arder a divisão à qual dão acesso, porque o fogo tende a propagar-se, com violência, para o espaço onde existe ar para queimar, que neste caso seriam as escadarias.
Os Bombeiros Sapadores de Faro evitaram, com a rapidez da sua atuação, que o incêndio alastrasse a outras áreas do prédio, nomeadamente aos apartamentos, e foram eles que acabaram por libertar os moradores, depois de arrancar a porta de entrada do edifício.
Agora, é tempo de fazer contas à vida para avaliar prejuízos e tentar normalizar a vida das pessoas afetadas. «Estive lá a partir das 7 da manhã. Entretanto, chamei ao local todos os serviços do município e estivemos a avaliar os prejuízos, até acompanhados de algumas empresas. A limpeza começou agora às 13h00 e temos tudo preparado para avaliar e garantir que o prédio retome as condições de habitabilidade no mais curto espaço de tempo possível», garantiu Rogério Bacalhau.
«O grande problema prende-se com a eletricidade, já que o quadro ficou danificado e é preciso um novo. Vamos ter de fazer uma ligação provisória. A EDP já lá esteve e em breve espero que tudo fique normalizado», acrescentou.
A situação do homem com mobilidade reduzida que viu a sua moto elétrica arder também está já a ser acautelada. «Esta tarde teremos uma reunião com a APPC e a Segurança Social. Em princípio, vamos resolver a situação e adquirir uma viatura nova, conforme as indicações médicas prescritas», assegurou o presidente da Câmara de Faro.
Veja as fotos das consequências do incêndio:
(Fotos: Hugo Rodrigues/Sul Informação)