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No período em que os muçulmanos ainda dominavam o Al-Gharb (Algarve), os banhos situavam-se na porta de entrada para Al-‘Ulyã (Loulé), tendo funcionado entre os séculos XII e XIII. Hoje, volvidos 900 anos, os Banhos Islâmicos de Loulé são os únicos já escavados no país e a autarquia quer que sejam promotores de turismo cultural. Para tal, terão uma interação em 3D, que permitirá aos visitantes ver como eram os banhos no seu tempo de uso.

Quem entra no complexo dos banhos islâmicos de Loulé vê ruínas, num amontoado, labiríntico, de pedras. Sabe-se que foi ali que funcionaram, mas as marcas do tempo estão bem visíveis. Perceber como foram – e como eram usados – não é descortinável para qualquer olho: é preciso um saber científico aprofundado.

Essa é a principal razão pela qual está a ser feito este levantamento 3D. «Queremos que todas as pessoas consigam perceber como eram estes banhos públicos quando estavam completos», explica Alexandra Pires, arqueóloga da Câmara de Loulé. Por agora, a única informação disponível para os visitantes dos banhos islâmicos é uma placa na parede, em que é dado um enquadramento da história daquele complexo e mostrada uma planta de como seriam os Banhos e as suas diferentes áreas.

Martino Correia é o responsável por este levantamento 3D e foi contratado, pela Câmara de Loulé, ao Campo Arqueológico de Mértola, que é uma entidade privada, no âmbito do protocolo estabelecido entre ambas as entidades. Alto, é de calções e sapatilhas que, por entre as encruzilhadas nos banhos islâmicos de Loulé, vai tirando notas no papel. O trabalho tecnológico também já o fez, usando uma técnica chamada fotogrametria.

«Tirei várias fotos do mesmo sítio, mas em diferentes ângulos. Depois, usei um software que consegue localizar vários pontos nas diferentes fotografias, criando um objeto tridimensional. Ou seja, criando uma réplica digital», explica, mostrando o resultado final no computador. No total, revela, tirou cerca de 1400 fotos.

Apesar de ainda estar «numa etapa muito embrionária», este projeto 3D já tem um objetivo: «queremos que as pessoas sintam que andam pela escavação arqueológica», diz. Apesar de ainda não saber bem se será através de computadores, tablets, ou outra qualquer tecnologia, Martino Correia explica que a ideia é que os visitantes cliquem em botões que permitam ver como era cada zona dos banhos na sua época.

O objetivo deste levantamento 3D, acrescenta, é reconstruir «o aspeto que a estrutura teria e da zona envolvente, tentando até inserir o complexo no urbanismo de Loulé da altura, para depois poder ser apresentado às pessoas, quer através de um tour virtual, ou através de animações». Também será reconstruída virtualmente a casa do século XV que foi instalada por cima dos antigos banhos, entretanto entulhados.

Por agora, já há uma amostra. Martino mostra um desse exemplos, através do qual, carregando num botão do computador, digitalmente se ergue, numa zona dos Banhos, aquilo que foi uma arcada, hoje destruída.

Se a parte tecnológica está pensada, a vertente mais logística também já tem algumas ideias. Alexandra Pires explica que o objetivo não é que as pessoas andem numa superfície de vidro, com estrutura metálica. No Museu de Loulé, por exemplo, que é paredes meias com o complexo islâmico, há uma dessas estruturas que permite ver outras ruínas, situadas abaixo do nível do solo. «O problema é que isso cria muita humidade e danifica o vidro, por isso não é a melhor solução», explica.

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Há duas semanas, foi apresentada, no Museu de Loulé, uma nova aplicação que permite aos seus visitantes verem, no smartphone ou tablet, como eram as peças expostas no seu tempo de uso, ou quando estavam completas. Este levantamento 3D vem também no seguimento desta utilização da tecnologia ao serviço de uma melhor compreensão, por parte dos visitantes, do património arqueológico de Loulé.

Rita Moreira, chefe da Divisão de Cultura da Câmara louletana, vê este «turismo cultural» como o futuro. «Esta é a uma aposta clara que temos. Queremos trazer cada vez mais gente à cidade», diz. Nesse sentido, o potencial dos banhos islâmicos é «grande». «Acredito que, no futuro, haja pessoas que possam vir, de propósito, a Loulé só para visitar os banhos islâmicos», acrescenta, convicta.

Já a arqueóloga Alexandra Pires confessa que a cidade nem sempre é conhecida, num Algarve em que o «reina o sol e praia». E conta, entre risos, uma história: «Conheci uma senhora que vem passar férias a Vilamoura há muitos anos e que nunca tinha vindo a Loulé. Quando cá veio, mostrou-se surpreendida e até me disse que não fazia ideia do que a cidade tinha para oferecer».

Quanto à data de conclusão dos trabalhos nos banhos islâmicos, e consequente abertura ao público já com a interação em 3D, não há nenhuma previsão. «Ainda há muito para fazer. Está tudo numa fase muito inicial. Isto não é um projeto de arquitetura em que está tudo delineado. Numa escavação, pode-se sempre encontrar mais qualquer coisa», conclui Rita Moreira.

É que, a par da mais moderna tecnologia, continuam as escavações arqueológicas nos banhos islâmicos, a cargo de dois arqueólogos do Campo Arqueológico de Mértola.

Depois de, em 2014, terem sido postos a descoberto os tanques frios, as latrinas e os vestíbulos, está agora por encontrar e escavar a estrutura da fornalha daqueles balneários públicos e da sala fria.

Se os arqueólogos conseguirem encontrar a fornalha e a sala fria, esta será «a primeira planta completa de banhos islâmicos públicos posta a descoberto na Península Ibérica», realçam os investigadores. Ou seja, pela primeira vez, os arqueólogos irão dar a conhecer um complexo de banhos públicos com cerca de mil anos, que ficou congelado no tempo.

 

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