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A missão
«A Missão» é um dos filmes a exibir

Não é o local mais comum, mas de Novembro de 2016 a Maio de 2017 é por lá que a sétima arte vai rodar. A iniciativa «Video Lucem» vai levar cinema a igrejas de Loulé, Faro, Silves, Castro Marim ou Lagoa, unindo a «luz», ligada à revelação da religiosidade, com a «luz» do cinema, indispensável para a projeção e realização de filmes.

Além destes locais, haverá também filmes em igrejas de Santa Bárbara de Nexe, Alcoutim, Estômbar, Aljezur, Estoi, Vila do Bispo, Tavira, Cabanas de Tavira, Luz de Tavira, Sagres, Vila Real de Santo António, Ferragudo, Cacela Velha ou Albufeira. A escolha é, por isso, variada e disposta desde o Sotavento ao Barlavento algarvios.

Esta realidade contrapõe-se com a forma rápida, fora do normal, em cima da hora, e «não muito apaixonante», segundo Carlos Rafael Lopes, diretor do Cineclube de Faro, com que surgiu esta iniciativa, que faz parte do programa 365 Algarve. «Estávamos em cima da data limite de apresentação de propostas e não tínhamos [Cineclube] nada; nenhum projeto», revela ao Sul Informação.

Foi numa conversa, «em tom informal», realça Carlos Rafael Lopes, com a organização do «365 Algarve», na apresentação deste programa, que surgiu o convite de exibir filmes em igrejas, querendo «marcar pela diferença».

«Fiquei a matutar, falei com os meus colegas, concebemos um orçamento e apresentámos aquilo a que depois Dália Paulo, comissária do programa, chamou uma declaração de intenções, já que não era um projeto totalmente estruturado devido à proximidade da data limite», acrescenta, entre risos.

O certo é que essa «declaração de intenções» foi aceite… apesar de ter sido feita sem qualquer contacto firmado com a Diocese do Algarve, que teria de aceitar a proposta do Cineclube. A apresentação do projeto ao futuro parceiro surgiu, depois, em reunião com o Bispo Dom Manuel Quintas, o padre Carlos Aquino, da Pastoral da Cultura, e o padre Miguel Neto, da Pastoral do Turismo, que aceitaram de imediato a proposta.

«Acolheram de braços abertas esta iniciativa», diz Carlos Rafael Lopes. Em cerca de um mês, «identificámos as igrejas e as possibilidades de cada uma. Fizemos também o reconhecimento das igrejas quer de forma local, quer com pessoas relacionadas com o conhecimento sobre o património para conhecer quais são as mais emblemáticas», explica.

 

video lucem

A cultura e as pessoas «nem sempre navegam próximas da igreja»

Esta iniciativa tem, da parte da igreja, além de outros, o objetivo de «evangelizar», já que, no entender no padre Miguel Neto, a cultura e as pessoas «nem sempre navegam próximas da Igreja Católica». «Evangelizar é, acima de tudo, apresentar a fé cristã. Dar a conhecer a igreja católica e estabelecer pontes com todos», acrescentou em declarações ao Sul Informação.

Já quanto à seleção cinematográfica, a Diocese e o Cineclube contaram com algumas ajudas, como de Graça Lobo, Anabela Moutinho, ou… Pedro Mexia, consultor cultural do Presidente da República.

Nesta escolha, revela Carlos Rafael Lopes, tentou-se que os filmes «tivessem uma relação com a igreja, até porque o cinema é controverso no seio desta». Já o padre Miguel Neto revela que houve «uma seleção criteriosa».

Contudo haverá alguns filmes que são controversos e «provocatórios, porque essa é também a génese do cinema», contrapõe Carlos Rafael Lopes. No final, o resultado é «uma programação equilibrada», no entender do diretor do Cineclube de Faro.

Um dos objetivos desta iniciativa é, também, o de rodar filmes que tenham pouca visualização. Isto é: revisitar a história do cinema e dar a conhecer esse património, aliando-o a outro – o eclesiástico. Por conseguinte, as especificidades arquitetónicas das igrejas vão ser tidas em conta nos filmes a exibir e e até limitarão os formatos técnicos a utilizar. «Usar películas de 16 ou 35 mm será inviável porque as máquinas fazem muito barulho», explica Carlos Rafael Lopes.

Como o eco e a ressonância nas igrejas são grandes, o método de projeção será com uma tela e um retroprojetor.

 

Aurora de Murnau
«Aurora», de Murnau, abre o ciclo, com música ao vivo de órgão de tubos

«Luzes, câmara… ação?» Não em todos os concelhos

Apesar da variedade de locais por onde o «Video Lucem» vai passar, há concelhos algarvios que não acolherão a iniciativa. A razão: «a resistência dos padres a essas atividades», revela Carlos Rafael Lopes, dizendo que em alguns concelhos se revelou mesmo «impossível» a autorização dos párocos. A saber: Olhão, Monchique, Portimão, Lagos e São Brás.

«Tivemos de deixar cair esses locais, onde tentámos estar fosse nas igrejas principais, fosse nas secundárias», diz o diretor do Cineclube. Para o padre Miguel Neto, a resistência a esta iniciativa, «que é pioneira na Diocese do Algarve e até no nosso país, pelo menos com esta dimensão», é «normal». Sobretudo «por ser novidade», acrescenta.

«A divergência de opiniões é normal e salutar na Igreja. O importante é valorizar a concretização de uma iniciativa que vai, de certeza,  aproximar a Igreja de mais pessoas», diz.

Quanto à divulgação que será feita pela Diocese do «Video Lucem», o pároco garante que «será normal que os párocos das paróquias onde se realiza a mostra de cinema avisem nas Eucaristias a população desta atividade».

Mas não serão só os católicos a poder assistir às sessões de cinema, nem sequer apenas os portugueses e residentes, uma vez que a iniciativa, integrada na programação do «365 Algarve», quer reforçar a animação cultural na região durante a época baixa, para atrair mais turistas.

 

Clique aqui para conhecer a programação completa, que começa no dia 10 de Novembro, na Igreja do Carmo, em Faro, com a exibição de «Aurora», de Murnau (1927), filme mudo que será acompanhado por música ao vivo de órgão de tubos tocado por Filipe Raposo.

sulinformacao

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