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Ripper Tours Albufeira (4)
Nelson Silva

Já pensou em sair à noite com amigos, num carro espaçoso, com bar, motorista, passadeira vermelha…? Está a pensar numa limusina? Errado. Isto é o que pode ter em Albufeira, num… carro funerário.

A incomum ideia de fazer tours turísticas na noite algarvia utilizando um carro funerário foi a solução encontrada para dar uso ao veículo que os amigos Nelson Silva e José Gonçalves compraram, por impulso, depois de uma noite em que saíram para beber café.

«Isto começou como começam todas as noites: com um “vamos beber café”. Fomos beber um cafezinho, a noite continuou, divertimo-nos e, depois de estarmos alegremente bem dispostos, devido aos efeitos do álcool, fomos fazer o que muitas vezes fazemos: adoramos carros clássicos e, por vezes, vamos à Internet à procura de oportunidades. Eram 4 e tal da manhã. Procurámos carros por ano, como fazemos sempre, e, no meio da pesquisa, aparece o carro funerário. Eram 4 da manhã e não ligámos logo. Esperámos pela manhã seguinte», contou José Gonçalves ao Sul Informação.

Ripper Tours Albufeira (6)A senhora que procurava vender o veículo atendeu o telefone e o o carro estava ainda para venda – «é óbvio que estava, ninguém compra uma coisa destas», graceja Nelson Silva.

«De início, a senhora não nos levou muito a sério, mas já com uma ideia do valor, fomos a casa, partimos os porquinhos mealheiros, cada um o seu, vimos as moedas que tínhamos e fomos para cima, porque o carro estava no Alentejo. Vimos o carro e ótimo: negócio feito. E voltámos ao Algarve», lembra José Gonçalves.

Na viagem de regresso, José Gonçalves notou algo estranho na viatura «o carro devia estar fechado há muito tempo e havia um certo cheiro a morto lá dentro. Nas primeiras semanas, comprámos aí uns 30 ambientadores». No entanto, a opinião sobre o cheiro diverge, porque, para Nelson Silva, o odor era apenas a «madeira».

Ripper Tours Albufeira (1)Os dois amigos não só não revelam o valor da compra, como juraram não o fazer. No entanto, dão a entender que foi um bom negócio e ainda com um bónus: «a senhora disse-me: “olhe amigo, leva o caixão que está lá dentro, está novo, nunca foi utilizado!”».

O problema veio depois: «quando acordámos, é que pensámos: “comprámos um carro funerário, o que é que vamos fazer a isto?”», conta José Gonçalves.

«Ainda pensámos em ir a Odemira, para vender a surfistas, como é largo, podia ser bom por causa das pranchas de surf. E, como nos orientámos bem no negócio, pensámos metemos mais um “x” em cima e vender», acrescenta Nelson Silva.

Mas, depois, veio mais uma noite de copos, que coincidiu com o divórcio de Nelson Silva. «Isto acabou por surgir na sequência da comemoração do divórcio dele», conta José Gonçalves, que é prontamente interrompido por Nelson: «eu fui o primeiro cliente da Ripper Tours!».

Ripper Tours Albufeira (3)«Nessa noite, pensámos: “e por que não fazer passeios turísticos no carro?”. Na primeira vez que dissemos isto, soou bem, mas, nos dois minutos seguintes, dissemos logo: “não, esquece, ninguém vai entrar lá dentro», lembra José Gonçalves.

Enganaram-se. Os amigos com quem falaram consideraram a ideia «genial» e tudo aquilo começou a fazer sentido. «Falámos com um amigo que tinha uma gráfica, pintámos e arranjámos tudo em casa e colámos o vinil no carro».

Depois, veio a parte burocrática que também foi afetada pela “estranheza” de aliar turismo a um carro funerário. «Quando criámos a atividade de animação turística, porque o objetivo é fazer tours na noite algarvia, tivemos de mandar os documentos do carro e ligaram-nos logo a dizer que nos tínhamos enganado porque mandámos um livrete de um carro fúnebre».

Não era engano e a Ripper Tours começou mesmo a operar em Maio de 2016. A partir daí, foi sempre a crescer e interessados não faltaram. «Houve uma página do Facebook que nos descobriu, o Ruim, e que nos mandou uma mensagem a perguntar “o que são vocês?”. Contámos a história e ele falou de nós. A partir daí, disparou. Saímos numa revista automóvel, depois na Rádio Comercial… foi um boom autêntico. No início do Verão, estávamos todas as noites na rua».

Ripper Tours Albufeira (5)No entanto, quando o Verão entrou no auge, houve um problema: «quando começou a subir mesmo, as chaves da carrinha foram roubadas. Estivemos no pico do Verão com o carro parado e só voltámos a trabalhar há uns dois meses».

Apesar do pouco tempo de operação, Nelson Silva e José Gonçalves conseguem analisar quem mais aprecia passar uma noite, com amigos, num carro funerário: «temos mais portugueses, 60 ou 70% dos clientes que temos são portugueses e nós pensámos que isso nunca ia acontecer!».

Quando a Ripper Tours foi criada, «achávamos que íamos ter um determinado perfil, achámos que ia funcionar com jovens estrangeiros, mas a prova que temos é que resulta para toda a gente, portugueses e estrangeiros, novos e velhos. Já tivemos um casal na casa dos 60 anos», conta Nelson Silva.

Para quem ainda não percebeu como funciona uma noite passada no carro funerário da Ripper Tours, José Gonçalves explica: «proporcionamos a experiência de uma noite em Albufeira. Fazemos com os nossos clientes o que fazemos com os nossos amigos. Vão aos sítios e bares onde costumamos ir, convivemos com eles, vamos sair com eles. Somos uma experiência única, porque, em nenhum sítio do mundo, se chega a uma discoteca num carro funerário, alguém abre a porta, põe um tapete, abre-se um caixão que tem bebidas e que são distribuídas pelo pessoal».

Ripper Tours AlbufeiraSim, porque o caixão guarda… bebidas. «O caixão é onde temos a nossa welcome drink, mas é uma welcome drink para toda a viagem. Quando alguém tem sede, encostamos, puxamos o caixão para fora e servimos», conta Nelson Silva.

Para José Gonçalves, a Ripper Tours conseguiu «desmistificar a ideia negativa do carro e da morte, que transformámos numa coisa completamente positiva e numa experiência nova».

Apesar disso, há opiniões dissonantes. «Nunca tivemos grandes problemas com ninguém, mas já nos disseram que é uma porcaria o que fazemos, que devíamos ter respeito. O que dizemos é que é apenas um carro, um acessório».

José Gonçalves e Nelson Silva não têm na Ripper Tours a sua ocupação principal: «mantemos o nosso trabalho, dá para conciliar». No entanto, para o ano, e porque ambos querem que seja «a bombar todos os dias», já pensam em contratar duas pessoas para o período de Verão.

Dentro de dias, chega o Halloween e sair à noite num carro funerário não podia ser mais apropriado, para comemorar a data. Para essa noite, os fundadores da Ripper Tours preparam surpresas. «Já temos reservas e várias ideias na calha. Podemos revelar uma: vamos ter uma máquina de imperial móvel, que funciona com um sistema de caixão. Vai ser o primeiro caixão do Mundo com máquina de cerveja», revela Nelson Silva.

Uma noite guiada pela Ripper Tours custa 72 euros, para seis pessoas. «O único preço que nunca diremos é o preço da carrinha. E, se conseguirem encontrar a velhota que a vendeu, também acreditamos que não vai dizer», conclui José Gonçalves.

A atividade desta empresa e as ofertas especiais que vão surgindo podem ser seguidas na página de Facebook de Ripper Tours.

sulinformacao

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