As obras de requalificação do Largo de São Sebastião começaram esta segunda-feira, mas já estão envoltas em polémica. Tudo porque parte da fachada de um edifício do século XIX foi demolida pela Câmara e foi aí instalado o estaleiro para as obras. A Associação Al-Portel denunciou o caso e classifica-o como um «autêntico e inclassificável atentado».
Para a associação, o Largo de S. Sebastião «de “tão virado para o futuro”, cilindra o passado» e esta situação «faz-nos recuar 40 anos, a um tempo em que parte significativa da Calçadinha Romana foi destruída por obras de saneamento, por falta de sensibilidade e visão dos autarcas de então».
Segundo a Al-Portel, «em S. Brás, aparenta então banalizar-se a prática de destruir, total ou parcialmente, imóveis centenários, em pleno Centro Histórico, sem qualquer razão válida».
A perspetiva sobre aquilo que é uma «razão válida» é diferente para Vítor Guerreiro, presidente da Câmara de São Brás de Alportel. Contactado pelo Sul Informação, o autarca explicou que a intenção para aquele local «é requalificar. Vamos criar um ninho de empresas e associações, num pátio existente nas traseiras de várias casas, que estão devolutas. A única hipótese de acedermos a esse local era fazer uma entrada ali».
Este novo ninho de empresas deve estar pronto, segundo o autarca, ao mesmo tempo que o Largo de São Sebastião, ou seja, dentro de cinco meses.
Vítor Guerreiro garante que «vamos requalificar essa parte da casa, as cantarias das janelas serão recolocadas e, no futuro, vamos poder aceder a uma antiga horta, um espaço embelezado, que tem um poço e terá uma traça arquitetónica que queremos salvaguardar».
Sendo que, segundo o autarca, esta era a única forma de aceder a este futuro «pátio lindíssimo», foi «aproveitada a abertura para instalar o estaleiro».
O edil diz que o que a Câmara está a fazer é «valorizar o património, e não o contrário, como nos acusam. O objetivo é dignificar aquela zona».
Vítor Guerreiro considerou ainda que estas críticas estão a surgir no âmbito de «um calendário político», algo que Gonçalo Gomes, presidente da Al-Portel refuta: «essa declaração é uma fuga para a frente. O timing é da Câmara, que agendou a obra para a véspera das eleições. Não são timings nossos, apenas reagimos quando as coisas acontecem. Somos uma associação cívica, sem agenda política ou partidária».
Gonçalo Gomes comentou ainda a razão invocada pelo autarca para a destruição da fachada dizendo que «isso não faz sentido. Seria como fazer uma operação ao apêndice usando uma motoserra. Se o objetivo era ter acesso ao pátio, este podia ter sido feito através da própria casa».
A associação Al-Portel faz parte da Comissão Municipal de Preservação do Centro Histórico de São Brás de Alportel, onde esta demolição foi discutida, há cerca de três semanas.
Vítor Guerreiro disse ao nosso jornal que a Al-Portel não esteve representada na reunião, onde foi abordada esta questão, algo que Gonçalo Gomes confirma: «não estivemos porque não fomos convocados. Tive direito a uma justificação de que se tratou de um lapso», revelou.
Outra das questões levantadas pela Al-Portel, em comunicado, é o facto de não ter sido realizada prospeção arqueológica antes do início da obra. Para a associação, «tal facto é preocupante, na medida em que, tratando-se da localização ancestral da ermida de S. Sebastião (relocalizada aquando das obras de construção da actual Av. da Liberdade), será um local em que previsivelmente poderão ocorrer vestígios arqueológicos, cuja gestão, em plena fase de obra, se revelará muito mais complicada e propícia a atropelos».
Vítor Guerreiro, por seu lado diz que as obras «vão ter o Gabinete de Arqueologia Municipal a acompanhá-las. Se forem encontrados vestígios, serão contactadas outras organizações».
Proprietário que destruiu painel de azulejos da Jaguar pode vir a ter «consequências legais»
No comunicado enviado às redações pela Al-Portel é também criticada a remoção de «um painel publicitário de azulejos da extinta marca algarvia de refrigerantes Jaguar, que constituía uma memória regional e um ícone da imagem urbana do Largo de S.Sebastião, onde se localiza o edifício em causa».
Segundo acusa a associação, «este processo decorreu à vista de todos, sem qualquer controlo por parte da autarquia».
Ao Sul Informação, Vítor Guerreiro diz que esta remoção «não foi autorizada pela autarquia» e que o processo «está com o departamento de fiscalização da Câmara».
Por isso, «o proprietário terá de enfrentar as consequências legais», concluiu o autarca.