Um estudo do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), coordenado pela investigadora Ana Ledo, evidencia que a Doença de Alzheimer apresenta uma produção desregulada de moléculas mensageiras, o que pode, em último caso, comprometer a produção de energia no cérebro.
A investigação, publicada na revista científica Neurobiology of Aging, sugere que, na Doença de Alzheimer, a comunicação entre neurónios, através das sinapses, apresenta falhas caraterizadas pela redução da produção de um mensageiro químico especial que, ao contrário dos mensageiros clássicos, se move entre as células de modo muito rápido.
Ana Ledo explica que «a produção do mensageiro químico óxido nítrico apresenta na Doença de Alzheimer alterações muito diferentes das registadas num envelhecimento normal. Para além de comprometer a comunicação entre células, estas alterações poderão diminuir a capacidade das células produzirem energia para suportar o funcionamento regular do cérebro».
O óxido nítrico, uma molécula muito simples constituída apenas por dois átomos, é essencial à formação de memória e à aprendizagem no hipocampo, zona cerebral estudada pelo grupo de investigação.
Contudo, a desregulação na sua produção, acompanhada da geração de outras espécies químicas com as quais o óxido nítrico pode reagir, pode induzir alterações moleculares e celulares que estão associados aos mecanismos de morte celular na Doença de Alzheimer.
Os papéis “positivos” ou “negativos” do óxido nítrico dependem, assim, da sua concentração nos tecidos cerebrais, entre outros aspetos.
Numa primeira fase da patologia o óxido nítrico é produzido em grandes quantidades num local específico do hipocampo, de modo a compensar as falhas de comunicação entre neurónios.
A progressão da doença é associada no entanto a uma redução do óxido nítrico disponível para mediar o processo de comunicação, que se poderá explicar em parte pelo desvio da sua bioatividade. Neste contexto, o óxido nítrico reage dentro das células, produzindo-se moléculas com potencial tóxico.
A investigadora defende que «um melhor conhecimento dos processos bioquímicos, moleculares e celulares subjacentes ao desenvolvimento da doença de Alzheimer permite desenhar novas estratégias terapêuticas, no sentido de travar a progressão da doença ou reverter os seus sintomas».
O estudo foi realizado num modelo animal da doença de Alzheimer que desenvolve, ao longo da sua vida, características da doença semelhantes às observadas no ser humano. A evolução da patologia foi investigada através da observação do tecido do hipocampo de animais jovens, de meia-idade e idosos.
O estudo foi financiado pelo FEDER, QREN – Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013, com o apoio do Mais Centro e da União Europeia e Programa Operacional Fatores de Competitividade, via Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Link para o Artigo: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0197458016301129
Autora: Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa – Universidade de Coimbra)
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