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Já passaram  seis anos desde que o Tiago Pereira começou a sua viagem pelo país, para fazer uma recolha das tradições musicais e de oralidade dos portugueses, mas é no Algarve que continua a descobrir regularmente tesouros que poucos, até mesmo os que cá vivem, sabem que existem.

O realizador português vai estar este sábado, dia 28, às 16h00, no Museu do Traje de São Brás de Alportel para a apresentação e lançamento do livro da série documental «O Povo que Ainda Canta», que fez um registo inédito da música portuguesa, tradicional e não só, e imortalizou em vídeo tradições de todo o país.

Na mesma sessão, será apresentado o novo site do projeto «A Música Portuguesa a Gostar dela Própria» , que entretanto se transformou numa associação de divulgação da cultura protuguesa (AMPAGDP), plataforma onde serão disponibilizados os mais de 2600 vídeos que foram captados ao longo de seis anos, por Tiago Pereira.

O livro de 96 páginas agora lançado «inclui oito DVD com os episódios da série [que foi exibida durante seis meses na RTP2, em 2015], mais dois extra, com vídeos que foram gravados depois de a série ter passado», disse Tiago Pereira, em conversa com o Sul Informação. «É uma forma importante de mostrar que “A Música Portuguesa a Gostar dela Própria” não se esgotou na série, é um projeto que continua em processo. Enquanto houver músicos, enquanto houver seres humanos, há sempre projeto, pois haverá música para gravar», ilustrou o autor do livro, que estará em São Brás, no domingo.

 

 

«Este é um livro muito íntimo, que representa os cinco anos da vida da música portuguesa e da minha vida. É uma espécie de diário de bordo de coisas que eu ia gravando na altura e de fotografias que, às vezes, eu ou outros tirávamos durante as gravações. É a materialização daquele período num livro e é um livro de afetos, que relata momentos irrepetíveis, até porque muitas das pessoas que estão no livro já morreram», explicou.

O livro é, de resto, dedicado a Adélia Garcia, uma das guardiãs desta sabedoria musical portuguesa encontrada por Tiago Pereira, que faleceu no dia 31 de Dezembro de 2016. A cantadeira de Caçarelhos (Vimioso), conhecida pela sua bela voz, até já tinha sido gravada por Giacometti.

Esta será a segunda apresentação oficial do livro «O Povo que Ainda canta», logo depois deste ter sido lançado em Lisboa, no domingo passado, e, para o cineasta português, não podia ser de outra forma.

«É super importante que esta segunda apresentação se faça no Algarve, pois inspirou o primeiro episódio d’ “O Povo que Ainda Canta”. Na altura, escolhi esta região, porque era o local onde não havia pontos no mapa da Música Portuguesa a Gostar dela Própria. Havia muito poucas gravações do Algarve e era importante resolver isso», explicou.

Desta forma, o episódio piloto da série «tinha 52 minutos, chamava-se “Quem manda aqui sou eu” e era sobre o Algarve». Este episódio acabou reduzido para 26 minutos, como os demais.

Tiago Pereira ainda continua o seu trabalho de recolha no Algarve, voltando com regularidade à região. «Tenho gravado muito em São Bartolomeu de Messines, por causa do André Guerreiro », revelou.

«O Algarve é daquelas riquezas que são muito difíceis de encontrar. É muito complicado chegar às pessoas. Há muito que vou aí tentar gravar e, passados cinco anos, continuo a descobrir verdadeiras pérolas. Ainda há pouco gravei um homem, perto de Messines, que dançava a estravanca ao lado de uma vaca, ao mesmo tempo que tocava harmónica e explicava como a dança funcionava», contou.

 

Por outro lado, «o Algarve ainda tem muitas pessoas que têm na memória a lógica dos bailes de roda e dos bailes mandados e, eventualmente, a literatura tradicional. E isso é uma grande riqueza: os trava-línguas, os provérbios, mesmo os próprios mandos. Nos bailes mandados, está lá toda a lógica do rap e nos trava-línguas toda a lógica do hip-hop e do drum&bass».

 

Um novo site para garantir acesso a todos ao espólio recolhido por Tiago Pereira

Além de lançar um livro e os DVD a ele associados,  a AMPAGDP lançou um novo site, onde será possível aceder a todos os registos recolhidos pela equipa do projeto, desde Janeiro de 2011, sobre práticas musicais de tradição oral, cantigas, rezas, paisagens sonoras, danças, mas também projectos musicais organizados de cariz urbano de vários géneros.

«Em seis anos, o projeto teve grande influência na forma como hoje muitos portugueses olham para as suas raízes musicais, mas viveu sempre do efeito imediato que os seus mais de 2600 vídeos geravam no momento em que eram publicados nas redes sociais. Com o lançamento do site, é possível procurar os vídeos por instrumento, região, género, produção e realizador e ainda viajar pelo país, de distrito em distrito, incluindo as ilhas», segundo Tiago Pereira.

O realizador considera mesmo que um site com estas caraterísticas era «mais do que imperativo, era fulcral para a música portuguesa». Isto porque «já ninguém encontrava nada, havia vídeos que era impossível encontrar, nem mesmo eu conseguia».

Tiago Pereira está convicto que «só com o site se percebe a verdadeira riqueza da música portuguesa, pois esta vivia muito do instantâneo». «Agora as pessoas podem pesquisar e saber quem toca cavaquinho no Algarve e harmónica no Minho, o que é muito importante», acredita.

O evento de sábado, às 16h00, em São Brás de Alportel, tem entrada livre e conta com o apoio institucional do Museu do Traje.

 

 

sulinformacao

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