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A franga-de-água-americana fotografada por Luísa Sequeira a 20 de Janeiro, que já está registada como “raridade” – Foto: Luísa Sequeira

Se um destes dias passar em Silves, junto às pontes sobre o Arade, e vir ali pessoas de máquinas fotográficas, binóculos e até telescópios a espreitar as margens do rio, não se assuste. São apenas observadores de aves que tentam ver a pequena franga-de-água-americana, uma verdadeira e já registada ave rara.

Trata-se de uma Porzana carolina, espécie que habita no continente americano, sendo esta a primeira vez que é avistada e registada em toda a Península Ibérica Continental.

E como é que uma ave do tamanho de um frango cruzou o Atlântico e chegou a Silves? «As aves volta e meia desviam-se das suas migrações (por erro, tempestades, etc)», explica Nelson Fonseca, arquiteto paisagista e ele próprio experimentado observador de aves.

O mais curioso é que a rara franga-de-água-americana ou sora (como também é conhecida) não foi detetada por nenhum super especialista, daqueles que investem horas e horas, todos os dias, à procura de raridades. Quem a encontrou e fotografou pela primeira vez foi Luísa Sequeira, uma professora de Portimão que se dedica a fotografar aves apenas desde há um ano.

«Costumo fotografar aves, mas por puro hobby, não tenho conhecimentos aprofundados na matéria, faço isto apenas por gosto e por lazer», contou Luísa Sequeira ao Sul Informação.

«Encontrei a ave por mero acaso, uma vez que foi num sítio onde já passei dezenas de vezes, na margem direita do Arade, em Silves, entre as duas pontes. Vi-a uma primeira vez no dia 10 de Janeiro, novamente a 17 de Janeiro e finalmente a 20 de Janeiro lá consegui captá-la em foto. Tinha noção que era uma ave relativamente rara, mas inicialmente pensei tratar-se de uma franga-de-água-grande (Porzana porzana), por isso, para esclarecer a dúvida, postei a foto no Facebook do grupo Aves de Portugal Continental, do qual sou membro».

E foi aí que começou a enorme onda de interesse que já extravasou as fronteiras de Portugal. «Qual não é a minha surpresa, quando, quase de imediato, se gera uma agitação entre os membros do grupo mais conhecedores desta matéria! Afinal, a ave era mesmo uma Porzana carolina!».

 

Franga-de-água-americana (Porzana carolina) fotografada no Rio Arade, em Silves – Foto de Nelson Fonseca

O resultado desta descoberta é que a pequena sora ou franga-de-água-americana está a atrair observadores de aves de todo o país e até da vizinha Espanha. Este fim de semana prevê-se que dezenas de birdwatchers, do Algarve e de outras partes do país e da Europa passem pelo local, na zona entre as pontes de Silves, para ver e fotografar a ave que é, literalmente, rara.

Muitos desses observadores são aquilo a que, no meio dos birdwatchers, se chama twitchers, verdadeiros caçadores de raridades que querem acrescentar mais uma espécie à sua lista de aves já vistas.

Nelson Fonseca, que também já lá esteve a fotografar a sora, revelou ao Sul Informação que, dos birdwatchers que conhece «o de mais longe veio da Maia. Mas ouvi dizer que estiveram espanhóis ontem por lá», enquanto «um italiano de férias no Algarve pediu-me informação para chegar ao local».

Sendo a primeira vez que a Porzana carolina é registada em toda a Península Ibérica Continental, o avistamento da ave em Silves foi já registado no Comité Português de Raridades para homologação, com a data dos avistamentos, o local, o nome da espécie, o número de indivíduos avistados e o nome do observador (neste caso, o de Luísa Sequeira).

Foi também criada uma nova página no portal Aves de Portugal, onde constam todas as espécies de aves do país, numa lista que agora passa a incluir a Porzana carolina.

Nelson Fonseca explica: esta é uma verdadeira «ave rara, não por ser rara (porque é muito comum nos EUA), mas porque só excecionalmente ocorre na Europa».

Luísa Sequeira diz-se «muito feliz» com esta sua descoberta. «Nunca esperei fazer uma descoberta destas, sendo uma amadora! Claro que estou feliz! A maioria dos birdwatchers passa toda uma vida sem descobrir uma nova espécie e logo me calhou a mim, nisto há menos de um ano e com poucos conhecimentos. Foi sorte!».

Mas, se de facto houve aqui um pequeno fator de sorte, a verdade é que a dedicação da professora ao seu hobby é que explica a descoberta. «Estive ali [nas margens do Arade, na zona entre pontes em Silves] algum tempo, pois percebi que a vegetação poderia abrigar aves, mas nunca me ocorreu é que pudesse ser uma raridade tão grande».

Luísa Sequeira e Nelson Fonseca fazem questão de sublinhar aquilo que milhões de birdwatchers de todo o mundo já sabem, há anos: que o o Algarve é um destino privilegiado de turismo de natureza em geral e de birdwatching em particular.

E que, mesmo em locais onde poderá parecer pouco provável encontrar aves raras, isso acontece. «Toda a zona de Silves tem uma diversidade de aves enorme, nomeadamente as margens do rio Arade», sublinha Luísa Sequeira.

Pode ser que, aproveitando esta onda de entusiasmo dos birdwatchers do Algarve, do país e da Europa, a Câmara de Silves decida agora criar, nas margens do Arade, ali mesmo na baixa da cidade, abrigos para observar aves.

 

sulinformacao

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