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Nos últimos anos, houve muitos médicos a sair do Serviço Nacional de Saúde na região algarvia, principalmente das unidades do Centro Hospitalar do Algarve, mas o novo presidente da Administração Regional de Saúde acredita que conseguirá convencer parte deles a voltar e garante estar já em negociações para que isso aconteça.

«Acredito que alguns dos profissionais que saíram [para o setor privado] possam regressar. Até já encetei contactos nesse sentido», revelou, numa entrevista exclusiva ao Sul Informação, o novo responsável máximo pela saúde no Algarve, ele próprio médico.

«Houve muitas saídas para os hospitais privados, pois estes tornaram-se muito mais atrativos. E porquê? Não será tanto por questões financeiras, pois não estão a pagar mundos e fundos aos médicos. Passará mais por terem novas instalações, melhores condições de trabalho, equipamentos mais recentes e um outro ambiente interno», disse.

Para conseguir este regresso de clínicos que se mudaram para o privado, há que enfrentar as razões pelas quais a generalidade dos médicos não quer fixar-se no Algarve, que «até nem são financeiras, embora estas sejam sempre um pano de fundo».

Então, porque é que os médicos não querem vir para o Algarve? Desde logo, por motivos pessoais, que decorrem «da própria estruturação da carreira médica», que leva a que muitos médicos, quando acabam a sua formação, tenham já situações familiares e profissionais estáveis nos locais onde estiveram a fazer especialização.

Por outro lado, há «os problemas que todos conhecemos que existem nas unidades de saúde da região e algumas conflitualidades internas», que têm sido denunciadas na comunicação social.

«Isto não é atrativo para um jovem médico. As pessoas, se puderem escolher o sítio onde querem trabalhar, e muitos podem fazê-lo, preferem um local relativamente tranquilo e a possibilidade de trabalhar no que gostam, com bons equipamentos e equipas dinâmicas», acredita Paulo Morgado.

«É preciso dar-lhes condições de trabalho e um ambiente tranquilo onde eles possam progredir e fazer carreira», resumiu. Para o presidente da ARS Algarve, este é um ponto central, pois, «se a região está descapitalizada em termos de especialistas e está sempre nas notícias, as pessoas até se assustam». Ou seja, «quanto pior, pior».

Paulo Morgado considera que  não se consegue alterar esta realidade pelo simples facto de mudar o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve. No passado, muitas das culpas do mau clima interno que se vivia nos hospitais algarvios eram assacadas ao estilo do anterior responsável pelos hospitais algarvios, Pedro Nunes, mas a sua saída e a entrada de novos protagonistas não acabou com o descontentamento entre a classe médica e, na realidade, pouco mudou.

«Pelo que percebo, os profissionais nem colocam grandes problemas na relação com o Conselho de Administração, acham é que as coisas não andam, não acontecem. E têm alguma razão naquilo que dizem. Daí nós acharmos que é preciso mudar as coisas, que a estratégia tem de ser outra. Houve uma altura em que se dizia que a postura do doutor Pedro Nunes era a causa disto tudo. Talvez tenha contribuído, mas eu acho que é mais profundo que isso. É um problema de organização e de gestão», defende Paulo Morgado.

Assim, o CHA tem os dias contados (neste caso, as semanas), para dar lugar ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). A estrutura a criar terá quatro polos (os hospitais de Faro e Portimão/Lagos, o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul e a Universidade do Algarve) e, como assegurou o novo presidente da ARS Algarve, prevê um aumento da autonomia dos hospitais, que terão «um gestor e governação clínica e de enfermagem separada».

Paulo Morgado defendeu que este modelo, com uma forte dimensão universitária, é «o único caminho» para colocar o Serviço Nacional de Saúde algarvio nos trilhos. E até dá o exemplo de um jovem neurocirurgião de Lisboa, que se desvinculou do hospital onde trabalhava, em Lisboa, para assinar contrato com o CHA, «porque esta ligação à Universidade do Algarve é algo que o atrai». «Ele quer acabar o Doutoramento aqui e trabalhar na Faculdade de Medicina [Departamento de Ciência Biomédicas da UAlg]», contou, na entrevista ao Sul Informação.

O CHUA também deverá trazer novidades ao nível dos serviços prestados nos diferentes hospitais. O presidente da ARS pretende devolver as valências que o Hospital de Portimão perdeu, após a fusão dos hospitais algarvios, em 2011, e manter aberto o Hospital de Lagos. Neste último caso, até fica em aberto a possibilidade futura de o mudar para novas instalações.

Também importante, na visão de Paulo Morgado, é que não se deixe cair o projeto do Hospital Central do Algarve (HCA). «Continuo a achar que o HCA faz sentido. Não acredito que seja algo que se consiga fazer num ano ou dois, mas é preciso mantê-lo no horizonte. No âmbito do CHUA, e para lhe dar verdadeiramente corpo, faz sentido que o Algarve tenha um Hospital Universitário», disse.

«Se temos o terreno, estudos adiantados, várias pedras lançadas, muitas visitas – não queremos mais visitas, já chega (risos) – temos de trabalhar de forma séria, para que, dentro de alguns anos, o Algarve possa ter uma unidade hospitalar moderna. Porque o Hospital de Faro, tenho pena, mas está totalmente desadequado. Têm sido feitos remendos, mas é uma estrutura obsoleta, o que também não é atrativo», concluiu o presidente da Administração Regional de Saúde.

sulinformacao

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