Pela primeira vez em 99 anos de existência de submarinos na Marinha Portuguesa, um submarino nacional irá realizar a travessia do Atlântico Norte.
A convite da Marinha norte-americana, o NRP Tridente parte esta sexta-feira da Base Naval de Lisboa para uma missão que durará cerca de três meses, com o objetivo de participar no “War of 1812 – FleetEx” – exercício aeronaval que decorrerá na costa leste dos Estados Unidos, ao largo de Norfolk, entre 19 e 29 de junho, e que contará com mais de vinte navios e aeronaves de oito países.
As elevadas capacidades dos novos submarinos portugueses, nomeadamente a autonomia em imersão e o grande raio de ação (na ordem das 12 mil milhas), possibilitam que, pela primeira vez, se efetue esta travessia.
O “War of 1812 – FleetEx” constitui uma ocasião ímpar para a Marinha Portuguesa e para a Esquadrilha de Submarinos, que comemora este ano 99 anos de existência.
Com a participação de Portugal, EUA, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Canadá e Brasil, o “War of 1812 – FleetEx” vai permitir a obtenção dos indispensáveis níveis de adestramento da guarnição no NRP Tridente e permitirá a certificação do sistema de armas de bordo.
O exercício está integrado nas comemorações do bicentenário da Guerra de 1812, também conhecida por Guerra Anglo-Americana, que opôs as tropas dos Estados Unidos da América às do Império Britânico, e que durou até 1815.
O NRP Tridente é comandado pelo Capitão-tenente Amaral Henriques e a sua guarnição é constituída por 33 militares (7 oficiais, 12 sargentos e 14 praças).
A dissuasão como arma
O controlo de uma vasta área marítima, de interesse, como a portuguesa – com mais de 4 milhões de quilómetros quadrados, extensão equivalente a 80% de todo o continente europeu – é sempre uma tarefa complexa para qualquer Marinha, por mais recursos que tenha ao seu dispor.
A descontinuidade territorial e a necessidade de operar a longa distância das suas bases, num amplo espaço interterritorial, obriga Portugal a manter uma Marinha de carácter eminentemente oceânico.
Face à dimensão desta área marítima e à limitação de recursos, a dissuasão é a única estratégia de controlo eficaz que resta a Portugal, dada a impossibilidade de vigiar em permanência, ou com a frequência necessária, todo o espaço marítimo nacional. Inibir os potenciais oponentes ou infratores de prosseguirem num determinado curso de ação, jogando com o grau de incerteza de poderem estar a ser observados e de virem a sofrer perdas irreparáveis, é, por conseguinte, a base desta estratégia.
Com um papel relevante na vigilância e repressão de ilegalidades e abusos, os meios de superfície e aéreos podem, todavia, ser facilmente localizados e seguidos pelos atuais sistemas de deteção (satélites, radares, eletro-ótico e visuais), razão pela qual não exponenciam o referido fator de dissuasão.
Ao atuarem de forma encoberta, os submarinos são o único meio capaz de provocar inibição nos potenciais oponentes ou infratores. A isto acrescem as características próprias destes meios navais, nomeadamente, o seu grande raio de ação e mobilidade, a capacidade de permanecerem por períodos prolongados numa área de operações e a sofisticação dos seus sistemas (sensores, armas e sistemas de comando, controlo e comunicações).
A possibilidade de surpreender em flagrante prevaricadores ou adversários constitui um elemento nuclear e multiplicador da estratégia de dissuasão. Assim, só os submarinos são capazes de vigiar, controlar e seguir infratores e oponentes de modo totalmente discreto e sem perturbar os seus modos de atuação e comportamentos, no sentido de recolher provas e/ou informações únicas e com elevado valor estratégico para o Estado português.
Numa perspetiva puramente militar, os submarinos são os únicos meios capazes de operar em áreas completamente dominadas pelo opositor, podendo destruir rapidamente o cerne das suas forças navais, atacar de surpresa as suas bases na costa e em terra (até cerca de 130 km para o interior) e minar portos e áreas de acesso tidos como nevrálgicos.
Ainda que limitado por questões políticas e militares, o mero potencial para executar esta panóplia de ações confere a um pequeno país como Portugal uma extraordinária capacidade de afirmação, constituindo-se assim num forte argumento de suporte à política externa do Estado em qualquer momento de crise que coloque em perigo os interesses vitais do País.