Perdidos no tempo, os animais exóticos, aqueles espécimenes raros vindos de longe, ainda andam por aí. O início deste ano foi profícuo para o estudo dos antigos e exóticos animais – os da terra, do ar e também do mar – que começaram a chegar a Portugal e à Europa desde o início da época moderna.
Terminou na semana passada um colóquio sobre esta temática, que decorreu na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, organizado pela Escola de Mar e com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do CHAM e da APCM, e que reuniu especialistas nacionais e internacionais – biólogos, historiadores, arqueólogos.
Neste evento, foi possível apresentar e debater as novidades naturais que vinham do além-mar desde o século XV, e o conhecimento que, através destas, foi sendo adquirido para a história natural europeia.
Aqui juntaram-se cinco dezenas de pessoas à volta deste tema tão único como os seus objetos de estudo – macacos que eram trazidos de África e do Brasil e comprados como animais de estimação, papagaios coloridos que falavam, perus trazidos para a Europa e introduzidos na alimentação corrente, e toda uma panóplia de monstros marinhos que não passavam de grandes baleias, focas ou manatins.
Animais que hoje fazem parte do nosso dia a dia eram, na altura, verdadeiras excentricidades naturais que, apenas a partir do século XVI, começaram a ser descritos e ilustrados em tratados de história natural, em folhetos avulsos e a fazer parte das coleções dos nobres e das conversas do povo.
Todo o conhecimento que começou a ser recolhido e produzido pelos naturalistas pré-modernos ganhou corpo na Europa e permitiu o início de uma mudança na forma de estudar a natureza tendo por base a observação empírica e analítica dos seus vários elementos.
Assim, foi neste período, e tendo também por base os seres vivos exóticos, que se estruturaram as bases para o estabelecimento da história natural e o futuro desenvolvimento da zoologia.
Para todos aqueles, além dos investigadores e estudantes, que se interessam por animais estranhos e pouco conhecidos, há ainda uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.
Até ao fim do mês de março, apenas aos sábados pelas 16h00, abrem-se ao público as portas da Galeria de Zoologia do Museu da Ciência de Coimbra.
Aqui é possível fazer uma visita guiada, ela própria única, que permite uma viagem pela história da museologia e da zoologia.
Neste espaço, existem monstros de vários tipos, ossadas de baleias, dentes de unicórnio, manatins, e uma série de animais que nos transportam para o tempo em que os naturalistas recolhiam estes elementos da fauna e os traziam para os seus gabinetes de curiosidades, futuros museus.
Num ambiente de silêncio e de (quase) segredo, encontramos uma coleção zoológica , que nos mostra o impressionante peso do tempo, que nos ilumina a alma e o espírito, que nos faz voar para outros mundos e nos merece o respeito de séculos de trabalho e de dedicação.
Aqui as nossas passadas no soalho de madeira polida são ecos das memórias que nos chegam do passado, são sombras dos animais curiosos e exóticos de ontem mas também de hoje.
Autora: Cristina Brito
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
Mais informações aqui:
http://www.escolademar.pt/internationalcolloquiumexoticanimals2015/
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