Perante esta vaga de frio que enregela Portugal, pode parecer contraditório falar num aumento da temperatura global do planeta. Mas não é. O local não representa a totalidade da superfície do planeta.
De facto, dados de três agências internacionais, divulgados nesta quarta-feira, indicam que pelo terceiro ano consecutivo a temperatura global do planeta bateu recordes, para o pior.
Os relatórios divulgados pela agência espacial norte-americana (NASA, na sigla em inglês), a agência governamental dos Estados Unidos para a atmosfera e os oceanos (NOAA, na sigla em inglês) e pelo Met Office do Reino Unido, revelam que o ano de 2016 foi o mais quente desde 1880, ano dos primeiros registos da temperatura do planeta. Por temperatura do planeta entenda-se a temperatura média global do ar à superfície em terra e no mar.
Refira-se que, no século XXI, já houve cinco anos em que se bateram recordes de aumento de temperatura: 2005, 2010, 2014, 2015 e 2016.
Os dados agora divulgados mostram ainda que os meses entre Janeiro e Agosto de 2016 foram, individualmente, os mais quentes desde 1880, como se pode ler no site da NOAA.
No resumo deste relatório, pode ler-se que a temperatura média do planeta foi 0,94 graus Celsius superior à temperatura média registada no século XX: a temperatura média global registada nos continentes foi 1,43 graus Celsius superior à do século passado, e a registada nos oceanos foi 0,75 graus Celsius superior à do século XX.
Os relatórios também confirmam que este aumento global da temperatura está relacionado com o aumento registado na concentração de dióxido de carbono na atmosfera causado pela actividade humana.
Os níveis de dióxido de carbono são os mais elevados desde há 4 milhões de anos, no Plioceno. Nessa altura, a espécie humana ainda não existia, vivendo em África os antepassados australopitecos, de que a Lucy é o fóssil mais famoso.
Perante estes dados, devemos estar ainda mais preocupados: a tendência para o aumento é clara e os efeitos desta sobre o clima, e logo sobre os ecossistemas, são cada vez mais notórios.
Por exemplo, o fenómeno climático “El Niño” esteve particularmente intenso no Oceano Pacífico no ano passado.
Também alarmantes são os efeitos deste aumento sobre os pólos: no Ártico, a extensão de gelo continua a diminuir para níveis mais baixos de sempre, enquanto, na Antártida, o ano passado registou o segundo nível mais baixo alguma vez observado.
O tímido recuo nas emissões de gases com efeitos de estufa por parte de alguns países não esconde os excessos do passado e a poluição insuportável em algumas regiões da China, por exemplo.
Não temos muito por onde escolher. Mas sabemos que alguns governantes persistem e continuam a ignorar a realidade do aquecimento global. Apesar do acordo histórico de Paris, assinado por 200 países em 2015, continuamos perto de ultrapassar os limites das metas ambientais então propostas.
Entre nós, o comportamento de cada um pode fazer a diferença, diminuindo os consumos energéticos e tendo comportamentos gerais mais amigos do ambiente.
Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva